Quinta-feira, 28 de março de 2024

Coluna

Empresas demitem trabalhadores formais e desemprego ainda avança

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 24 de julho de 2020

Numa
tendência observada em Goiás e no restante do País, o aumento do desemprego na
passagem de maio para junho deste ano esteve relacionado à demissão de
trabalhadores formais, com os cortes concentrando-se nos setores de hotéis,
bares e restaurantes, serviços domésticos e demais atividades de certa também
relacionadas à prestação de serviços a famílias e a empresas. No País como um
todo, o desemprego assume um lado ainda mais perverso ao atingir com maior
vigor pessoas negras e de rendimentos mais baixos.

A
soma de todos os dados liberados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), em sua Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD),
também chamada de PNAD Covid-19, reforça a tendência de um cenário muito
complicado adiante, principalmente diante da prorrogação por apenas mais dois
meses do auxílio emergencial às famílias. Na verdade, as estatísticas apuradas
pela pesquisa sugerem que o avanço da massa salarial no mês passado foi
sustentado pelo pagamento do auxílio, sempre considerando os meses de maio e
junho (já que o IBGE não recomenda a comparação com períodos anteriores ao
início desta nova série da PNAD, iniciada em maio).

No
País como um todo, o total de ocupados recuou 1,13% em junho, frente ao mês
imediatamente anterior, saindo de 84,404 milhões para 83,449 milhões de
pessoas, significando o fechamento de 955,07 mil empregos. Perto de 73,0% das
vagas fechadas eram ocupadas por trabalhadores com registro em carteira, já que
o total de empregos nesta área baixou 1,3%, de 55,141 milhões para 54,446
milhões (694,90 mil a menos). O número de empregos informais caiu menos
intensamente, saindo de 29,263 milhões para 29,003 milhões (menos 260,164 mil),
numa redução de 0,90% (virtualmente estável, na leitura do IBGE).

Continua após a publicidade

Em
Goiás, o número de ocupações caiu menos, marcando um recuo de 0,74% em junho,
baixando de 3,111 milhões para 3,088 milhões – o que correspondeu ao fechamento
de 23,078 mil empregos. Quase 70% dessas vagas eram ocupadas por trabalhadores
formais, que sofreram queda de 0,82%, de 1,969 milhão para 1,953 milhão, com
encerramento de 16,143 mil ocupações.

Os sem-emprego

No
restante do País, as dificuldades no caminho de uma retomada podem ser
avaliadas a partir de outro dado: o número de pessoas ocupadas e não afastadas
do emprego por causa da pandemia chegou a crescer 6,1% entre aqueles dois
meses, saindo de 65,441 milhões para 68,693 milhões (3,936 milhões de ocupados
a mais), enquanto o total de pessoas ocupadas e que haviam sido afastadas, em
função de medidas de isolamento social e de outras razões, foi reduzido em 4,208
milhões, num tombo de 22,2%, saindo de 18,964 milhões para 14,756 milhões. A
hipótese é de que essas pessoas não conseguiram retomar seus postos de trabalho
e as dificuldades para recolocação tendem a se agravar com o fechamento de
médias e pequenas empresas durante a crise.

Balanço

·  
O
aumento dos desempregados foi mais vigoroso na média de todo o País, com esse
número avançando de 10,129 milhões para 11,815 milhões de maio para junho – uma
alta de 16,65%. Apenas para tornar mais claro, o número de desempregados
registrou acréscimo de 1,686 milhão na média entre aqueles dois meses. A taxa
de desemprego elevou-se de 10,7% para 12,4%.

·  
O
mercado não só não conseguiu gerar os empregos necessários, como recebeu mais
731,13 mil pessoas que decidiram retomar a busca de alguma forma de trabalho em
junho. A força de trabalho (a soma do número de pessoas ocupadas e desocupadas
que estavam em busca de uma vaga) cresceu de 94,433 milhões para 95,264 milhões
de pessoas.

·  
A
desocupação avançou também em Goiás, crescendo de 12,6% para 13,1% (acima da
média brasileira), refletindo um avanço de 3,92% no número de desempregados,
que passou de 448,517 mil para 466,093 mil. Aqui, ocorreu um processo inverso
ao observado para o restante do País, já que o número de pessoas na força de trabalho baixou levemente de 3,560 milhões para
3,554 milhões (15,5 mil a menos). A tendência correspondeu a um ligeiro
incremento no total de pessoas fora da força, que desistiram de procurar uma
colocação, saindo de 2,107 milhões para 2,124 milhões (16,4 mil a mais).

·  
De
uma forma ou de outra, os dados do desemprego continuam camuflados pelo grande
número de trabalhadores não ocupados, mas que desistiram de buscar um emprego por
falta de opções ou em razão das medidas de afastamento social. Em Goiás, aquele
contingente avançou de 670,036 mil para 708,335 mil (mais 5,72%). São pessoas
que gostariam de voltar a trabalhar caso tivessem uma oportunidade.

·  
Uma
parcela relevante desses trabalhadores, somando 402,842 mil em junho, deixou de
buscar colocação por conta da pandemia. Mas esse número havia sido maior em
maio, atingindo 412,023 mil – o que correspondeu a uma redução de 2,23% na
passagem de um mês para o seguinte (9,181 mil a menos). Mais claramente,
aumentou o número daqueles que deixaram de procurar emprego, embora desejassem
uma colocação, por motivos outros que não a Covid-19.

·  
Somando
esse número aos desempregados, têm-se mais de 1,174 milhão de pessoas sem uma
ocupação, correspondendo a 27,6% da força de trabalho “ampliada” (ou seja,
acrescida, aqui, das pessoas que desistiram de buscar emprego, mas estariam
ainda dispostas a trabalhar). Em maio, essa taxa havia sido de 26,4%. Quer dizer,
o desemprego “real” seria mais de duas vezes maior do que a taxa de desocupação
anotada pela pesquisa. No País todo, considerando os mesmos critérios, o
desemprego “real” avançou de 30,1% para 31,6%.