Coluna

Máquinas e equipamentos importados agora respondem por 47% do mercado

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 23 de setembro de 2020

Lauro Veiga

A
produção nacional de máquinas e equipamentos vem perdendo espaço de forma
acelerada para similares importados nas últimas décadas, num movimento
exacerbado agora durante a pandemia, a despeito do forte salto experimentado
pelo dólar – o que, teoricamente, deveria funcionar como um freio à entrada de importaçõesno
País. Essa perda de espaço num setor vital para qualquer economia que tenha
pretensões mais ambiciosas no mercado global tem se traduzido numa verdadeira
“torra de tecnologia”, afinal, a máquina que deixa de ser produzida aqui dentro
corresponde à uma perda equivalente na capacidade de desenvolver e produzir
localmente novas tecnologias, transformando o setor em mero “maquilador”, num montador
de partes, peças e acessórios importados, quando não em apenas revendas de bens
finais comprados lá fora.

Numa
estimativa que toma como base dados da Associação Brasileira da Indústria de
Máquinas e Equipamentos (Abimaq) e a cotação média do dólar no período entre
janeiro e julho de 2019 e deste ano, as importações passaram a ocupar uma fatia
muito próxima de 47,0% no chamado consumo aparente de máquinas e equipamentos
em 2020. O conceito soma as receitas registradas pelo setor com a venda de sua
produção própria mais o valor das importações realizadas no período, excluídas
as receitas alcançadas na exportação dos mesmos bens, sempre convertidas para a
moeda brasileira.

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Conforme
demonstrado ontem neste espaço, o consumo aparente registrou alta de 9,8% entre
os primeiros sete meses do ano passado e o mesmo período deste ano, saindo de
algo em torno de R$ 91,6 bilhões para R$ 100,6 bilhões, em valores atualizados
com base na variação do Índice de Preços no Atacado (IPA), da Fundação Getúlio
Vargas (FGV), específico para o segmento de máquinas e equipamentos.

Aferidas
em moeda norte-americana, as importações de máquinas e equipamentos registraram
variação de 2,4%, avançando de pouco menos de US$ 8,980 bilhões para US$ 9,195
bilhões. As estatísticas do Banco Central (BC) sobre o câmbio indicam que o
valor médio do dólar aumentou perto de 33,8% entre os sete meses iniciais de
2019 e igual intervalo deste ano, saindo de R$ 3,81 para R$ 5,10. Neste caso,
numa aproximação feita pela coluna, o valor em reais das máquinas e
equipamentos importados saltou de R$ 34,230 bilhões para R$ 46,900 bilhões
(salto de 37,0%).

Perdas e danos

Nessa
conta, portanto, a participação das importações no consumo aparente foi
ampliada de 37% para aqueles 47,0% já apontados. Para ser mais claro, as
importações já respondem, neste ano, porque quase metade do consumo doméstico
de máquinas e equipamentos, o que significa dizer que o País está exportando
empregos e renda e perdendo tecnologias em escala crescente, num setor que
demanda mão de obra mais qualificada e paga salários médios mais elevados. Uma
realização e tanto, especialmente quando são considerados os estragos causados
pela pandemia, com perto de 140,0 mil mortes e a falta de oportunidades de
emprego para 40,3 milhões de trabalhadores. Ainda mais claramente: praticamente
um em cada quatro brasileiros com 14 anos ou mais não consegue um emprego digno.

Balanço

·  
Os
efeitos da crise sanitária, muito evidentemente, atingiram a economia mundial
como um todo, produzindo uma profunda recessão em escala global. E sobrou, como
também não poderia deixar de ser, para o comércio internacional. As exportações
de máquinas e equipamentos produzidos no Brasil encolheram 26,8% no acumulado
entre janeiro e julho deste ano em relação aos mesmos sete meses de 2019,
passando de US$ 5,642 bilhões para US$ 4,132 bilhões.

·  
O
maior peso veio do segmento de fabricação de máquinas para os setores de
logística e da construção civil, que responderam por 24,8% do total das
exportações neste ano e sofreram um tombo de 44,8%. As exportações de
componentes para a indústria bens de capital caíram 16,9%, com larga influência
negativa sobre o resultado setorial, visto que o segmento responde por 34,6%
das exportações totais.

·  
Como
visto, as importações anotaram variação de 2,4%, o que ajudou a aprofundar o
rombo na balança comercial do setor. O déficit setorial (importações maiores do
que exportações – no caso, muito maiores) saltou nada menos do que 51,7% entre
os dois períodos analisados aqui, saindo de US$ 3,337 bilhões para US$ 5,063
bilhões (o que já foi 22,5% maior do que toda a exportação realizada nos
primeiros sete meses deste ano).

·  
A
queda de 32,0% nas vendas do setor para os Estados Unidos contribuiu em quase 40,0%
na redução observada para o total das exportações. No ano passado, 33,1% das vendas externas brasileiras de máquinas e equipamentos
tiveram o mercado norte-americano como destino, num total aproximado de US$
1,867 bilhão. Esse valor foi reduzido para US$ 1,267 bilhão neste ano, com a
participação daquele mercado encolhendo para 30,7%.

·  
Até
o ano passado, sempre considerando o período inicial de sete meses, a indústria
brasileira de máquinas e equipamentos ainda sustentava um superávit
(exportações superiores às importações) de US$ 152,1 milhões. Mas, neste ano, passou
a acumular um déficit comercial de US$ 1,310 bilhão, com alta de nada menos do
que 50,3% nas compras brasileiras naquele mercado, para US$ 2,578 bilhões
(diante de US$ 1,715 bilhão em 2019).

·  
A
virada na posição do saldo comercial entre os dois países ajuda a entender
quase 85,0% do aumento sofrido pelo déficit comercial acumulado pelo setor como
um todo entre o ano passado e este ano.

·  
Segundo
maior mercado para a indústria brasileira, a Alemanha aumentou suas vendas para
cá em 14,0%, já que as importações da indústria local avançaram de US$ 1,226
bilhão para US$ 1,397 bilhão. Mas as exportações para os alemães, que já eram
irrisórias, desabaram 47,3%, encolhendo de US$ 226,0 milhões para US$ 119,0
milhões.