Festival Bananada: às portas de seus 20 anos

Firmado como ícone entre grandes reuniões da música, Festival Bananada celebra, em duas décadas de existência, efervescência de nichos independentes e alternativos no País

Postado em: 25-04-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Firmado como ícone entre grandes reuniões da música, Festival Bananada celebra, em duas décadas de existência, efervescência de nichos independentes e alternativos no País

Guilherme Araujo*

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No fim da década de 1990, o produtor musical Fabrício Nobre, então com 20 anos, frequentava devotadamente a cena underground de Goiânia, um espaço que começava a ebulir entre festivais menores e showcases e que logo tomaria formas expressivas na cidade.

Não demorou muito a querer lançar em um projeto seu. Já administrando um selo, passou a sugerir aos amigos, artistas em ascensão, que tocassem e se divulgassem entre si – uma mistura que logo mostrou sabores múltiplos, como o doce popular que dá origem ao peculiar nome de sua criação: Festival Bananada.

Com público crescente, ano após ano, a festa foi se sustentando como uma das mais importantes celebrações da música nacional. Nos preparativos de sua décima edição, ainda nos anos 2000, sentiu-se a necessidade de tornar a proposta mais aberta passando a escalar em futuros line-ups nomes do cenário nacional e internacional – iniciativa apoiada em tendências ditadas por festivais europeus. 

Hoje, às portas de seus 20 anos, o Festival celebra entre os dias 7 e 13 de maio, em noites transbordantes de música e arte, um verdadeiro júbilo. Dividido em mais de 15 pontos diferentes da Capital, ocupa alguns dos principais espaços de cultura com música e arte, como o café Evoé e clubes noturnos como Complexo Estúdio, Imerse e Retetê, além do Teatro CCUFG.

Diante de sua maior expectativa de público até o momento – a estimativa dá conta de que nos três principais dias, no fim de semana, estejam presentes cerca de 20 mil expectadores –, o principal intuito, de acordo com a organização, é promover uma celebração da diversidade, inclusive, com a criação de um espaço inédito para o público mirim, apelidado de Meninada no Bananada.

Toda esta preocupação com aspectos mais afunilados dos frequentadores é uma crescente. Além de satisfazê-los musicalmente, foi feito investimento em estrutura. Além de manter os presentes hidratados oferecendo água gratuita, está programada também a presença de um ‘bolsão’ digital de embarque e desembarque da Uber a fim de facilitar o acesso ao Passeio das Águas Shopping, espaço que receberá o maior fluxo de pessoas. 

“Acho que é a edição em que estamos pensando a música da maneira mais ampla e diversa possível, ocupando a cidade de Goiânia de um jeito que nunca imaginamos acontecer”, diz o criador, por telefone. Com nomes de peso cravados em sua história como Caetano Veloso, Tulipa Ruiz e Lineker, para 2018 a organização aposta nesta edição em atrações que, mais do que nunca, dialogam com a data.

Além de nomes como o veterano e co-fundador do grupo norte-americano Sonic Youth, Lee Ranaldo, que apresenta uma proposta de instalação intimista que mescla guitarras, voz e poesia, a vigésima edição do Bananada deixa claro que fronteiras geográficas só existem no papel. Estão confirmadas apresentações do duo português Ermo, da banda chilena Tha Ganjas e de grupos nacionais como Cora e AveEva.

Fusão

A menos de 15 dias do início do evento, restam poucos ingressos à venda – uma evidência de que o festival bate um recorde de público vindo também de outros estados. Natural de Recife, o professor e produtor cultural, João Gusmão, faz parte deste grupo. “Amo festivais de música. É a oportunidade de vermos bandas e artistas independentes em cena”, conta. 

Diante da curta duração de alguns festivais no Nordeste, como o Coquetel Molotov e o Abril Pro Rock, ele avalia que o Bananada seja uma ótima oportunidade para maratonar shows. “Em Recife temos o Rec-Beat, festival gratuito que acontece nos quatro dias de Carnaval, inclusive com bandas que tocarão no Bananada. Assim que vi, planejei minha ida a Goiânia”.

Após uma portaria do governo que passou a restringir a realização de eventos na Esplanada Juscelino Kubtschek, espaço tradicional de grandes eventos da Capital, as três principais noites do Festival Bananada foram realocadas para a área externa do Passeio das Águas Shopping.

Na primeira noite, sobem em quatro palcos diferentes artistas das mais variadas vertentes e que trazem por si só ótimas razões para comemorar, tal qual a banda francisco, el hombre. Após beber novas doses do elixir da glória em 2017, o grupo, composto pelos mexicanos Mateo e Sebastián e os brasileiros Juliana, Andrei e Rafael, foi indicado ao Latin Grammy pela faixa Triste, Louca ou Má. Não o bastante, cruzaram a América Latina em mais uma excursão que, com receptividade calorosa do público, trouxe para o seu currículo públicos calorosos em palcos como o Festival Lollapalooza, em São Paulo, e o Circo Voador, no Rio. 

Tocam ainda na sexta os colombianos do Meridian Brothers, o rapper Emicida e o duo As Bahias e a Cozinha Mineira. A grande expectativa, no entanto, recai sobre uma das maiores efígies da MPB, Gilberto Gil – o artista segue em excursão pelo país desde o fim do ano passado com a turnê comemorativa dos 40 anos do disco Refavela, clássico enraizado na música africana. A estudante Clara Marquez é uma das pessoas que pretende ir ao evento para ver a apresentação. “Gil é um marco na música brasileira. Tê-lo em Goiânia celebrando a cultura afro e não ir vê-lo é blasfemar”, brinca.

No sábado, o poderio feminino, que também é maioria de público, é quem dita as regras. “Neste ano, especificamente, firmamos uma parceria com a Red Bull e com gravadoras latinas para promover ação de artistas latinos no país”, conta Fabrício Nobre. Com esse acordo, a noite inicia com a chilena Javiera Mena, que lança nesta sexta (26) o disco Espejo e surge para imprimir a natureza inclusiva do evento. 

Em seguida, a programação segue sob influência da música sensorial da carioca Ava Rocha e o magnetismo da anfitriã da casa, a banda Carne Doce. No início da madrugada, o bastão é passado para os hits chicletes da drag queen Pabllo Vittar. 

Por fim, pondo em evidência a divisão estratégica da programação, o cheque-mate acontece no domingo, em que predomina a presença de bandas de rock como Violins e a levemente psicodélica Boogarins, recém chegada da Califórnia onde se apresentou no Coachella Festival 2018. Para encerrar, shows de Nação Zumbi e BaianaSystem. 

*Guilherme Araujo é integrante do 

programa de estágio do jornal O HOJE 

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