Coluna

A frase mais importante do diplomata goiano Carlos França desde que assumiu como chanceler

Publicado por: Marcelo Mariano | Postado em: 12 de abril de 2021

Marcelo Mariano*

Nascido em Goiânia e sobrinho do artista plástico Siron
Franco, o diplomata de carreira Carlos Alberto Franco França foi anunciado como
novo ministro das Relações Exteriores já há alguns dias, mas ele se pronunciou
oficialmente só na semana passada.

O substituto de Ernesto Araújo tem um perfil mais discreto
e, ao que tudo indica, não gosta de holofotes. Até o momento, não está nas
redes sociais, como o Twitter, onde membros do atual governo costumam se
expressar com frequência.

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Por isso, é importante ficar atento aos pronunciamentos. Em
seu discurso de posse, Carlos França elencou três prioridades: pandemia,
economia e meio ambiente. E também reconheceu, com ressalvas, a importância do
multilateralismo:

“O Brasil sempre foi ator relevante no amplo espaço do
diálogo multilateral. Isso não significa, como é evidente, aderir a toda e
qualquer tentativa de consenso que venha a emergir, nas Nações Unidas ou em
outras instâncias. Não precisa ser assim e não pode ser assim. O que nos
orienta, antes de tudo, são nossos valores e interesses”, disse.

Isso, por si só, já mostra uma diferença em relação ao seu
antecessor. Mas foi uma outra frase, dita no contexto da pandemia – ou da
“diplomacia da saúde”, segundo as palavras do próprio chanceler – que mais me
chamou a atenção:

“Meu compromisso”, afirmou o ministro Carlos França, “é
engajar o Brasil em intenso esforço de cooperação internacional, sem exclusões,
e abrir novos caminhos de atuação diplomática, sem preferências desta ou
daquela natureza”.

Historicamente, o Brasil, por meio do Itamaraty, adotou uma
política externa, “sem exclusões” ou “sem preferências desta ou daquela
natureza”, que gera respeito de todo o mundo.

Aliás, alguns dos princípios que regem nossas relações
internacionais, de acordo com o art. 4º da Constituições Federal, deixam isso
claro: não intervenção, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos e
cooperação entre os povos para o progresso da humanidade, entre outros.

Carlos França sabe muito bem disso. Se colocar em prática o
que disse, ou seja, ser mais pragmático e menos ideológico, a diplomacia
brasileira tem tudo para caminhar no rumo certo. E essa frase não precisa, nem
deve, ficar restrita ao contexto da pandemia.

Os primeiros passos do chanceler indicam uma tendência
positiva. Antes mesmo de tomar posse, conversou com os presidentes das
comissões de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados e do
Senado.

Também teve diálogo com a diretora-geral da Organização
Mundial do Comércio (OMC) e o chanceler da China, além dos chefes da diplomacia
de países vizinhos, como Paraguai, Bolívia, Argentina, Uruguai, Guiana e Chile,
independentemente da ideologia dos governos no poder.

O histórico dos últimos meses, marcados por instabilidades,
pede cautela. Os próximos meses, por outro lado, pedem otimismo e, claro, muito
trabalho da nossa diplomacia para conseguirmos mais vacinas, recuperarmos a
economia e preservarmos o meio ambiente.

*Assessor internacional da Prefeitura de Goiânia e
vice-presidente do Instituto Goiano de Relações Internacionais (Gori). Escreve
sobre política internacional às segundas-feiras.