Descer do salto pode evitar lesões

Ortopedista alerta para os problemas que podem ser causados pela utilização de salto alto

Postado em: 05-07-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Ortopedista alerta para os problemas que podem ser causados pela utilização de salto alto

Elisama Ximenes

Começa a tocar Crazy in Love da diva pop Beyoncé e é tradicional o desfile de salto no meio da pista. As pisadas fortes ao ritmo da batida são indispensáveis. Até quem não está de salto alto desfila na ponta dos pés para imitar a cantora. A prática de dançar de salto alto, popularizada pelas cantoras pop, tem nome, e é stiletto dance. O estilo chama atenção para a sensualidade e a feminilidade da mulher. E as causas disso são o uso do salto e as coreografias rápidas e elaboradas. No entanto o ortopedista Fernando Ferro alerta para as lesões que podem ser causadas pela prática.

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A dança, porém, não é simples. As dançarinas têm de conciliar a habilidade da performance e o equilíbrio em cima do salto. A tentativa de alcançar o equilíbrio pleno pode ocasionar diversos tombos.  Segundo o ortopedista, especialista em quadril e membro das Sociedades Brasileiras de Ortopedia/Traumatologia e Quadril (SBOT e SBQ) Fernando Portilho Ferro, o uso do salto alto não traz nenhum benefício do ponto de vista médico. “Nossos pés evoluíram por milênios para ter o formato e funcionamento que têm hoje, e o uso desse tipo de calçado perturba todo o equilíbrio corporal”, afirma.

A história da utilização do salto também é de milênios. A sua popularização é datada no século 17, incentivada pelo rei Luís XIV na França. A fama veio com seu sucessor, Luís XV, quando passou a ser utilizado por mulheres também. No entanto, ainda antes, há registro de utilização de peças que inspiraram o salto alto conhecido hoje. Conta-se que açougueiros egípcios utilizavam plataformas para manter os pés longe da sujeira. Os registros são de pinturas de 3.500 a.C., que retratavam a versão antecipada do salto, utilizada pela nobreza.

Na Idade Média, as pessoas também utilizavam sapatos que as deixassem mais altas ou para mantê-las mais distantes do chão. No caso do medieval, o calçado era caracterizado pelo solado de madeira, utilizado tanto por homens quanto por mulheres. A plataforma foi inspirada pelos chopines, criados em 1.400, na Turquia, e utilizado apenas por mulheres. Há histórias, também, que contam que as concubinas e odaliscas usavam salto alto, por uma imposição dos homens, para não fugirem dos haréns. Catarina Médici é conhecida por ter popularizado o acessório. Conta-se que ela utilizava para disfarçar a altura entre ela e o marido, Henrique II, da França.

Quando Luís XIV aderiu o uso de salto, decretou que apenas a nobreza poderia utilizar. Talvez isso tenha causado a associação imediata do salto alto à elegância. Tanto que, quando houve a Revolução Francesa, ocorreu um sumiço do tipo, porque se entendia que o acessório visibilizava a divisão bruta de classes, além de remeter à antiga nobreza, então, rejeitada pela revolução. Hoje, a elegância é um dos primeiros adjetivos dados a quem está de salto. No entanto não só de chiqueza se faz um corpo. A saúde precisa ser preservada, e o ortopedista Fernando Portilho explica por que a prática do Stiletto Dance pode ser prejudicial ao organismo.

Apesar de as professoras e professores do estilo de dança afirmarem que a prática pode ser benéfica para a postura e tonificação dos músculos da panturrilha, o médico explica que o resultado pode não ser tão positivo. “Estudos já comprovaram que o uso frequente de salto está associado a um encurtamento dos músculos da panturrilha e ao aumento da incidência de artrose nos joelhos”, explica, ressaltando o porquê do mito de que a prática melhora as condições musculares da perna. Sobre o suposto incremento na postura e realce nas curvas, Fernando explica que isso se dá a partir da correção feita pelo organismo na alteração do centro de equilíbrio e que, a longo prazo, essa sobrecarga pode ocasionar sérios problemas na coluna.

Dentre os problemas causados, está o desenvolvimento de joanetes. “Joanete é o termo popular para o hálux valgo, uma deformidade que ocorre quando a cabeça do osso do pé, que sustenta o dedão, desvia-se para fora. Com o atrito da saliência óssea, surge a dor, e esse desvio se agrava de acordo com a altura do salto, o bico fino do calçado e o peso depositado na parte dianteira do pé”, explica. Além disso, a mistura salto e dança potencializa o risco de torções e, para solucionar isso, o médico conclui que a única solução é a diminuição do uso do acessório. 

Foto: divulgação 

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