Greve e protestos marcam Dia Internacional da Mulher pelo mundo

As concentrações ocorreram nas cidades de Madri, Barcelona, Bilbau, Sevilla e Valência, com lemas como "Se nós paramos, para o mundo", entre outros

Postado em: 08-03-2018 às 17h00
Por: Márcio Souza
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As concentrações ocorreram nas cidades de Madri, Barcelona, Bilbau, Sevilla e Valência, com lemas como "Se nós paramos, para o mundo", entre outros

Mais de cinco milhões de
trabalhadores apoiaram nesta quinta-feira (8) as interrupções parciais de duas
horas na primeira greve feminista convocada na Espanha por ocasião do Dia
Internacional da Mulher. Segundo os principais sindicatos do país (CCOO e UGT),
dezenas de milhares de pessoas participaram de várias manifestações
reivindicativas.

As concentrações ocorreram nas
cidades de Madri, Barcelona, Bilbau, Sevilla e Valência, com lemas como
“Se nós paramos, para o mundo”, “Vivas, livres, unidas pela
igualdade” e mensagens contra a diferença salarial entre sexos e a
violência machista.

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A greve recebeu apoiada de
partidos de esquerda, enquanto o presidente do Governo espanhol, o conservador
Mariano Rajoy, se comprometeu a continuar trabalhando em defesa da igualdade
real entre homens e mulheres.

Turquia

A violência machista contra as
mulheres e o abuso sexual foram o foco de uma manifestação convocada por
feministas em Istambul, a maior cidade da Turquia, desafiando as proibições
impostas pelo estado de emergência em vigor.

Cerca de 50 mulheres compareceram
à manifestação ao meio-dia (horário local) no bairro de Besiktas, junto ao
Estreito de Bósforo, com cartazes com lemas feministas e contra a violência.

As organizações feministas
convocaram protestos, nesta quinta-feira, em 14 cidades da Turquia, todos em
desafio às normas do estado de emergência, em vigor desde 2016 e que proíbe
todo tipo de marchas e manifestações.

A polícia compareceu ao local do
protesto em Besiktas, mas não interveio e as participantes se dispersaram após
a leitura de um breve manifesto.

O grupo denunciou que 409
mulheres foram assassinadas por homens durante 2017, enquanto que, apenas em
fevereiro, já foram registradas 47 mortes violentas.

O manifesto lido em Besiktas
denunciou que muitos assassinos recebem redução de sentença por “boa
conduta” durante o julgamento e lamentou o fato de o governo fazer
críticas à lei sobre a violência machista, aprovada em 2012. O governo diz que
a medida “destrói a família”.

França

O jornal francês Libération foi
vendido hoje 50 centavos de euros mais caro para leitores homens, com o
objetivo de denunciar a diferença salarial, em iniciativa proposta pelo Dia
Internacional da Mulher.

Na capa, dedicada ao tema, o
jornal de esquerda afirma que “apesar da lei, a diferença salarial entre
homens e mulheres continua sendo de 25% na França” e por isso “o
jornal decidiu aplicar, por um dia, a mesma diferença em seu preço, que será 50
centavos mais caro para homens”.

O dinheiro arrecadado com a
iniciativa será destinado ao Laboratório da Igualdade, que há anos luta pelo
fim das diferenças entre gêneros.

Índia

Milhares de mulheres indianas
saíram às ruas no Dia Internacional da Mulher para pedir igualdade de direitos
e o fim das agressões sexuais, um problema muitas vezes silenciado no país por
razões culturais ou de estigma social.

Cerca de 2 mil manifestantes
formaram uma rede humana ao redor da região central de Connaught Agrada, em
Nova Délhi, convocadas pelo movimento Rape Roko, uma iniciativa lançada pela
Comissão para a Mulher de Delhi (DCW) em janeiro para conscientizar sobre este
tipo de crimes.

No local, mulheres de diferentes
idades e condições sociais gritaram palavras de ordem contra a desigualdade e
os ataques sexuais ao coletivo feminino.

Os cartazes exibiam mensagens
como “O meu corpo não é um espaço público” e “Não me digas como me vestir,
aprenda a não abusar”.

Segundo números da Agência
Nacional de Registro de Crimes da Índia, em 2016 ocorreram no país 38.947
estupros (2.167 deles em grupo), dos quais só em Nova Délhi foram denunciados
4.935 (1.996 coletivos).

Paquistão

Centenas de mulheres protestaram
em diversas cidades paquistanesas para reivindicar direitos e pedir
“independência” dos homens, embora a baixa assistência em algumas das
manifestações tenha evidenciado a falta de empurrão do movimento feminista no
país.

“O que quer uma mulher?
Independência”, gritavam 200 mulheres em Islamabad, de adolescentes a
idosas, junto a outros slogans como “liberdade” e “os
assassinatos por honra são inaceitáveis”, em referência aos homicídios
cometidos por parentes por uma suposta afronta moral que tiram a vida de
aproximadamente 500 mulheres ao ano no país.

Representantes de diferentes
partidos e organizações, as participantes realizaram uma pequena passeata na
capital, com bandeiras e a presença de alguns homens que as apoiavam.

“No Paquistão, as mulheres
não têm liberdade para comparecer aos lugares públicos”, disse à Agência
Efe a presidente da Frente Democrática de Mulheres, Ismat Shahjahan, uma das
organizadoras do ato, para explicar a baixa presença de manifestantes no país
de 207 milhões de habitantes.

No país muçulmano e conservador,
as mulheres sofrem uma forte discriminação no ambiente de trabalho, onde sua
participação é de 22%.

Um recente relatório da
Organização Internacional do Trabalho revelou que o Paquistão está entre os
países que oferecem menos oportunidades de trabalho às mulheres e oportunidades
de participação econômica, junto com Arábia Saudita, Iêmen, Irã e Síria.

Países africanos

Conferências, cursos, iniciativas
para empoderar as mulheres no ramo tecnológico, leituras de declarações
públicas de algumas organizações são alguns dos eventos que aconteceram nos
países africanos, porém com pouca mobilização nas ruas para reivindicar os
direitos da mulher.

Apesar de países como Ruanda, que
tem o Parlamento mais paritário do mundo, e como a África do Sul, com taxas de
igualdade salarial muito alta, a maioria de mulheres na África assume a
violência como algo cotidiano em suas casas, quando não sofrem em grande escala
como um instrumento de guerra em vários conflitos.

Neste Dia Internacional da Mulher
os atos foram mais tímidos, como a conferência organizada pela Unesco em
Nairóbi (Quênia) para empoderar as mulheres através do uso de Tecnologias da
Informação e o lançamento de um movimento internacional contra a mutilação
genital no Senegal, que revelou que mais de 200 milhões de mulheres em toda
África sofreram com esta prática.

A organização Big Sisters lembrou
também que 6 mil meninas são mutiladas a cada dia no mundo e que 30 milhões
estão expostas à prática – segundo dados do Unicef. A organização exigiu a
adoção de leis para proibir tais práticas em todos os países africanos antes do
ano 2020.

“A mutilação genital está
exterminando nossas meninas e nossas mulheres”, lamentou a leonesa
Salimatou Kamara, que advoga pela proibição oficial desta prática na África,
uma exigência que considera vital para a dignidade das africanas.

Na África do Sul, o país com
melhor nota em gênero da África Subsaariana, segundo o Banco de Desenvolvimento
Africano (APDB), o novo presidente Cyril Ramaphosa disse hoje que “o
patriarcado não tem lugar na África do Sul que estamos construindo”.

“Para renovar o país é preciso
renovar os valores e posicionar as mulheres e os homens na mesma altura”,
declarou o líder sul-africano em sua mensagem pelo Dia da Mulher.

Na Nigéria, um novo sequestro do
Boko Haram de 110 meninas de um instituto de ensino médio de Dapchi, ao nordeste
do país, ganhou atenção.

“Isto tem que ser o
principal agora. Por isso decidimos fazer um chamado #LeaveOurDaughtersAlone
[Deixe nossas filhas em paz, em inglês] para acabar com este desastre
nacional”, disse a primeira-dama Aisha Buhari.

América Latina

Em Buenos Aires, o presidente da
Argentina, Mauricio Macri, anunciou um projeto de lei que busca impulsionar
“mudanças” para avançar rumo à “igualdade de gênero em todos as
áreas”, especialmente trabalhista, com a ideia de que uma mulher não pode
ganhar “menos que um homem”.

“Não podemos permitir que
uma mulher ganhe menos que um homem. Não faz sentido e nem explicação para
aqueles que trabalham dia a dia com elas”, disse o chefe de Estado durante
discurso em ato organizado em Buenos Aires pelo Governo para comemorar o Dia
Internacional da Mulher.

No Chile, na última semana como
presidente antes de entregar o cargo ao recém-eleito Sebastián Piñera, a
presidente Michelle Bachelet fez homenagens a chilenas ilustres que lutaram
pela dignidade da mulher no país, acompanhada da atriz transexual Daniela Vega,
protagonista de Uma Mulher Fantástica, que ganhou o Oscar de melhor filme
estrangeiro.

“É o último dia em que me
dirijo a vocês no exercício do meu cargo, por isso quero agradecer, porque
muitas vezes, nos momentos mais difíceis, sempre senti o apoio incondicional
das mulheres da minha pátria”, destacou.

Acompanhada de suas ministras,
mulheres sindicalistas e dirigentes políticas, entre outras, a presidente
ressaltou que seu governo conseguiu “abrir uma porta, e não qualquer uma,
para que por ela passem mais e mais mulheres caminhando para um país mais justo
e equitativo”.

Coreia do Sul

Centenas de sul-coreanas
realizaram uma passeata pelo centro de Seul aos gritos de “Me Too”
(Eu também, em inglês) em referência à campanha que começou em Hollywood e vive
o auge no país, onde o número de vítimas que denunciaram abusos sexuais
disparou desde janeiro.

No protesto, que tomou a praça de
Gwanghwamun, também foram exibidos cartazes a favor do movimento chamado
“With You” (Com você, em inglês), que surgiu na Coreia do Sul ao
calor do “Me too”.

Números do Ministério de
Igualdade de Gênero e Família da Coreia do Sul de 2016 mostram que 80% das
cidadãs já sofreram assédio sexual no trabalho, mas que apenas 10% das afetadas
denunciam por medo de represálias ou pela sensação de que nada mudaria.

Com informações da Agência
Brasil. Foto: Erdem Sahin/EFE/direitos
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