Falta de ambulâncias castiga pacientes do Sus

Homem de 82 anos perdeu duas vagas de UTI em uma semana por demora na disponibilização de ambulâncias

Postado em: 21-06-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Homem de 82 anos perdeu duas vagas de UTI em uma semana por demora na disponibilização de ambulâncias

Karla Araujo

O Samu de Aparecida de Goiânia tem 13 ambulâncias para os 550 mil habitantes do município. Além do transporte entre as unidades de Saúde, os veículos fazem o resgate de vítimas de acidentes, que são casos prioritários desde 2002 conforme portaria publicada pelo Ministério da Saúde. Neste cenário, quem sai prejudicado é o paciente que é atendido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no município e precisa ser transferido de uma unidade a outra.

Eloy Oscar da Sorte, 82, demorou quase uma semana para ser transferido do Cais Nova Era, em Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana da capital, para um hospital com Unidade de Terapia Intensiva (UTI). De acordo com a esposa dele, Rita de Cássia Cordeiro Forte, 54, a demora para que uma vaga fosse disponibilizada e a dificuldade para conseguir o transporte contribuíram para a piora na saúde de Eloy. Rita conta que levou o esposo para uma consulta de rotina com geriatra no Centro de Reabilitação e Readaptação Doutor Henrique Santillo (Crer) e lá foi informada que Eloy estava com pneumonia.

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No Cais Nova Era, diz a esposa, os médicos solicitaram uma vaga para Eloy em um quarto com oxigênio, aparelhos para acompanhar batimentos cardíacos e exames periódicos, não necessariamente um leito de UTI. Rita diz que a vaga foi disponibilizada no Hospital Cidade Jardim, mas ao chegar à unidade, informaram que não poderiam recebê-lo. De acordo com Rita, os médicos justificaram que se o paciente precisasse de UTI, o hospital não teria um leito disponível. “O transporte foi feito por uma ambulância de serviço particular que um amigo da nossa família conseguiu”, explica Rita.

Demora

Na quarta-feira (15), o estado de saúde do paciente piorou e a vaga de UTI tornou-se necessária. Uma vaga foi disponibilizada no Hospital de Urgências de Aparecida de Goiânia (Huapa), mas a demora da ambulância fez com que o paciente perdesse a vaga mais uma vez. Na sexta-feira (17), outra vaga foi disponibilizada para Eloy no Hospital Sagrado Coração de Jesus, em Nerópolis. O transporte foi realizado por uma ambulância do Samu, segundo a esposa do paciente, “depois de um conhecido que conhece administradores do serviço solicitar um veículo”.

De acordo com a SMS de Aparecida de Goiânia, a vaga no Huapa era um box de UTI, ou seja, uma vaga não codificada. Nesse caso, se algum outro paciente em situação mais grave chegar à unidade, o box é ocupado. “Quando o Samu disponibilizou a ambulância para fazer o transporte, o box do Huapa já tinha sido ocupado”, informou em nota. Ainda de acordo com a pasta, a vaga no hospital de Nerópolis era codificada, ou seja, destinada para o paciente Eloy, por isso deu tempo de o Samu realizar o transporte conforme a disponibilidade.

Números

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de Aparecida de Goiânia, além dos moradores da cidade, as 13 ambulâncias do Samu do município também atendem outras 25 cidades da região Centro-Sul, totalizando um atendimento que abrange mais de três milhões de habitantes. “Portanto as ambulâncias não são suficientes”, informou em nota.­ 

Paciente paga por serviço público 

Em Goiânia, o Samu tem 42 ambulâncias, que atendem casos de complexidade diferentes. A maior parte delas (25), está equipada com equipamentos necessários para transportar paciente em estado grave.  O transporte de todos os pacientes atendidos pelo SUS entre unidades de Saúde da capital deve ser feito por estes veículos, mas não é o que acontece sempre. 

Carlos Costa, 49, e sua família tiveram que pagar R$ 650 para uma empresa de ambulância particular realizar o transporte do pai dele, Orlando Menezes da Costa, 74, do Hospital Jacob Facuri, localizado no Centro de Goiânia, ao Hospital de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol). 

“Levamos meu pai ao Cais Campinas porque ele estava sentindo-se mal. De lá, ele foi transferido para o Hospital Jacob Facuri com ambulância do Samu. Nos exames foi constatado que ele estava com coágulo na cabeça e, por isso, precisava ser transferido para o Hugol. Mas nos informaram que o Samu não fazia este tipo de serviço e tivemos que pagar”, explica Carlos.

De acordo com a diretora de atenção à Saúde da SMS Goiânia, Patrícia Antunes, todos os pacientes do SUS, mesmo que estejam em de hospitais particulares, têm direito ao transporte gratuito, que deve ser solicitado pelo próprio hospital. A administração do Jacob Facuri informou ao O HOJE que a solicitação do serviço particular nestes casos é orientação da SMS Goiânia. Entretanto, Patrícia garante que tal indicação não é da SMS. (Karla Araujo)

 

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