Temer diz que “jamais solicitou pagamentos para obter silêncio de Cunha”

Nota de esclarecimento do presidente afirma que ele "não participou e nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação "

Postado em: 18-05-2017 às 07h50
Por: Toni Nascimento
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Nota de esclarecimento do presidente afirma que ele "não participou e nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação "

A Presidência da República divulgou nota na noite desta
quarta-feira (17) na qual informa que o presidente Michel Temer “jamais
solicitou pagamentos para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha”,
que está preso em Curitiba, na Operação Lava Jato.

A nota diz que o presidente “não participou e nem
autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração
com a Justiça pelo ex-parlamentar.”

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De acordo com a Presidência, o encontro com o dono do grupo
JBS, Joesley Batista, foi no começo de março, no Palácio do Jaburu. “Não
houve no diálogo nada que comprometesse a conduta do presidente da
República”.

O comunicado diz ainda que Temer “defende ampla e
profunda investigação para apurar todas as denúncias veiculadas pela imprensa,
com a responsabilização dos eventuais envolvidos em quaisquer ilícitos e que
venham a ser comprovados.”

No início da noite, o jornal O Globo publicou reportagem,
segundo a qual, em encontro gravado, em aúdio, pelo empresário Joesley Batista,
Temer teria sugerido que se mantivesse pagamento de mesada ao ex-presidente da
Câmara, Eduardo Cunha, e ao doleiro Lúcio Funaro para que esses ficassem em
silêncio. Batista, conforme a reportagem, firmou delação premiada com o
Ministério Público Federal (MPF) e entregou gravações sobre as denúncias.
Segundo o jornal, ainda não há cionfirmação de que a delaçãodo empresário tenha
sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Temer estave reunido hoje com governadores da Região
Nordeste. O encontro terminou às 19h50. O presidente, então, iniciou uma
reunião com os ministros Antonio Imbassahy, da Secretaria de Governo; Eliseu
Padilha, da Casa Civil; Moreira Franco, da Secretaria-Geral da Presidência da
República, após a divulgação da reportagem. Também estiveram presentes assessores
da Secretaria de Comunicação da Presidência. A nota do Planalto foi enviada à
imprensa cerca de uma hora e meia após o início da reunião no terceiro andar do
Planalto, onde fica o gabinete de Temer.

Por volta das 21h, cerca de 50 manifestantes se reuniram em
frente ao Palácio do Planalto com buzinas para protestar contra o presidente. A
Polícia Militar reforçou a segurança no local.

Congresso

As sessões da Câmara dos Deputados e do Senado foram
suspensas depois da divulgação da reportagem.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ),
encerrou a sessão que analisava medidas provisórias (MPs) que trancam a pauta
da Casa, sem concluir a votação da MP 755/16, que trata dos repasses de
recursos do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen) a estados e municípios. Maia
disse que “não havia mais clima para a continuidade dos trabalhos”. Ele saiu
apressadamente, falando ao telefone, e admitiu que as denúncias são graves.

Após a divulgação da reportagem, o líder do PSOL, Glauber
Braga (RJ), foi à tribuna. “Acaba de sair uma revelação, a notícia de uma
gravação onde [o presidente] Michel Temer dá orientações para manter Eduardo
Cunha calado na unidade prisional em que se encontra”, disse Braga, e deputados
da oposição passaram a gritar palavras de ordem pedindo a saída de Temer.

O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) informou que
protocolou um pedido de impeachment de Temer. “As denúncias mostram um
comportamento incompatível com a função de presidente, com o decoro do cargo.
[…] Não há outra saída para o presidente [da Câmara] Rodrigo Maia a não ser
receber esse pedido.”

Depois o deputado JHC (PSB-AL) protocolou um segundo pedido
de impeachment contra o presidente. No documento, o deputado diz que a denúncia
contra Temer revela “sua total ausência de condições mínimas para liderar
o país rumo à saída da maior crise econômica de sua história”.

Os deputados disseram que vão obstruir as votações enquanto
o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Rodrigo Pacheco
(PMDB-MG), não colocar para deliberação do colegiado uma Proposta de Emenda à
Constituição (PEC), de autoria do deputado Miro Teixeira (REDE-RJ), que prevê
eleições diretas para a Presidência da República, caso o presidente Michel
Temer seja cassado ou renuncie ao mandato.

Segundo o líder da minoria, José Guimarães (PT-CE), os
partidos de oposição vão trabalhar em três direções: a renúncia, “que
deixaria o país mais tranquilo, com a convocação de novas eleições”, o
impeachment e a realização de novas eleições.

De acordo com a reportagem, outra gravação da delação de
Batista diz que o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), teria pedido R$
2 milhões ao empresário. O dinheiro teria sido entregue a um primo de Aécio. A
entrega foi registrada em vídeo pela Polícia Federal. A PF rastreou o caminho
do dinheiro e descobriu que o montante foi depositado numa empresa do senador
Zezé Perrella (PSDB-MG).

O líder do DEM, Efraim Filho (PB), disse que as denúncias
são graves e que precisam ser analisadas de forma serena. “É preciso buscar, de
forma rápida, respostas para a sociedade brasileira”, disse. “A
investigação dos fatos irá dizer se houve qualquer infração à Constituição. Em
se configurando qualquer infração à Constituição, o rito tem que ser seguido
como foi com a presidente Dilma, de impedimento.”

Outro lado

Em nota, a assessoria de Aécio Neves disse que o senador
“está absolutamente tranquilo quanto à correção de todos os seus atos. No
que se refere à relação com o senhor Joesley Batista, ela era estritamente
pessoal, sem qualquer envolvimento com o setor público. O senador aguarda ter
acesso ao conjunto das informações para prestar todos os esclarecimentos
necessários”.

O senador Zezé Perrella publicou uma mensagem em seu Twitter
por volta das 22h50 de hoje em que diz que nunca conversou com Wesley Batista,
não conhece ninguém do grupo Friboi (uma das marcas da JBS) e que nunca
recebeu, “oficial ou extraoficial”, nenhuma doação da empresa. “Estou
absolutamente tranquilo”, disse o senador, que acrescentou que espera que todos
os citados na matéria de O Globo tenham a oportunidade de esclarecer sua
participação. “O sigilo das minhas empresas citadas, dos meus filhos estão
absolutamente à disposição da Justiça, onde ficará comprovado que eu não tenho
nada a ver com essa história”, disse Perrella.

A assessoria do deputado federal Rodrigo Rocha Loures
(PMDB-PR) informou que o deputado está em Nova York, onde proferiu palestra
sobre a política brasileira a um grupo de investidores internacionais. Rocha
Loures tem retorno programado para amanhã. Em seu retorno, o deputado deverá se
inteirar e esclarecer os fatos divulgados. De acordo com o jornal O Globo, o
deputado foi indicado por Temer como interlocutor para solucionar um problema
da JBS. Posteriormente, Rocha Loures teria sido filmado recebendo R$ 500 mil.

Íntegra da nota da Presidência da República

“O presidente Michel Temer jamais solicitou pagamentos
para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha. Não participou e nem
autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração
com a Justiça pelo ex-parlamentar.

O encontro com o empresário Joesley Batista ocorreu no
começo de março, no Palácio do Jaburu, mas não houve no diálogo nada que
comprometesse a conduta do presidente da República.

O presidente defende ampla e profunda investigação para
apurar todas as denúncias veiculadas pela imprensa, com a responsabilização dos
eventuais envolvidos em quaisquer ilícitos que venham a ser comprovados.”

Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da
República

(Agência Brasil) 

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