Ato evidencia divisão no MDB

Prefeitos dissidentes defendem encontro que Daniel Vilela desista da pré-candidatura a governador para apoiar o senador Ronaldo Caiado

Postado em: 21-03-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Prefeitos dissidentes defendem encontro que Daniel Vilela desista da pré-candidatura a governador para apoiar o senador Ronaldo Caiado

Venceslau Pimentel*

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O ato de apoio à pré-candidatura a governador do senador Ronaldo Caiado (DEM), liderado por cinco prefeitos do MDB e pelo deputado e vice-presidente da legenda, José Nelto, realizado ontem na Assembleia Legislativa, expôs de vez as divergências internas que podem resultar no enfraquecimento da também pré-candidatura do deputado federal e presidente da sigla, Daniel Vilela.

A ala dissidente – formada pelos prefeitos Adib Elias, de Catalão; Ernesto Roller, de Formosa; Paulo do Vale, de Rio Verde; Renato de Castro, de Goianésia; e Fausto Gonçalves, de Turvânia – defendeu, em discurso, que Vilela desista de sua postulação e passe a apoiar Caiado, sob a justificativa de que senador democrata tem chances reais de vitórias nas eleições de outubro.

Em troca do apoio, Caiado se comprometeu a ceder ao MDB vaga de vice e Senado, que poderiam ser ocupadas por Daniel Vilela e até mesmo pelo ex-governador e ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela, pai do deputado e principal defensor dele como candidato emedebista.

Apesar do racha, os emedebistas dissidentes, e até mesmo Caiado, procuraram dar ao ato um tom conciliador, sempre salientando que o adversário comum é o governo do Estado, que tem como pré-candidato o vice-governador Zé Eliton (PSDB). No entanto, não deixaram de responder a Maguito Vilela, que defendeu a desfiliação dos apoiadores do democrata.

Mas os prefeitos de Catalão e de Formosa foram enfáticos em dizer que não vão deixar o partido, em que pese o recado de Maguito. ”Não pensem que estou alegre em tomar essa atitude, mas estou feliz em tomar essa atitude”, disse Adib. Em discurso, falou da militância de um irmão dele, que foi líder estudantil, vereador e vice-prefeito. Contou que conheceu Caiado quando os dois faziam medicina no Rio de Janeiro e se tornaram amigos.

Ao dizer que não era qualquer um no partido, ao qual se filiou em 1971, sustentou que não pediria para deixar a legenda porque não havia apoiado a ditadura militar, em referência a Maguito, que foi vereador em Jataí, pela Arena, partido que apoiava o golpe militar. “Só saio se eu for expulso”, avisou.

Apesar da divergência com Daniel, disse tê-lo apoiado, em Catalão, nas eleições de 2014, tornando-o o mais votado na cidade para deputado federal. “Trata-se de um jovem promissor, decente, leal, trabalhador. Não tenho absolutamente nada contra ninguém”, pontuou Adib. “Vou trabalhar para que todos entendam que o nosso adversário está no Palácio das Esmeraldas”.

Da mesma forma, Ernesto Roller disse que estava exercendo a democracia no partido, defendendo um posicionamento diverso de algum outro setor da legenda que defende outra candidatura. “Vamos levar para a convecção essa discussão. E agora anunciamos o nosso posicionamento de que vamos apoiar o senador Ronaldo Caiado para o governo e que queremos o MDB na chapa com o senador para a vitória das oposições”, disse em entrevista.

Sobre a declaração de Maguito, Roller partiu para o contra-ataque. “Achou que o Maguito não é o mais indicado para falar em decência, porque ele está defendendo um posicionamento do seu filho, e nós temos informação de pessoas que dão conta que ele tem ligado pedindo apoio, dizendo que no segundo turno iria se juntar ao candidato do governo”, assegurou. “Isso foi dito para algumas pessoas. Para o José Essado (ex-deputado e ex-prefeito de Inhumas) isso foi dito. Nós somos oposição”.

Ao também sustentar que não aceitaria sair do MDB, o prefeito de Turvânia, Fausto Gonçalves, pediu juízo ao partido e a Daniel Vilela, sob o risco de ele encerrar sua carreira política de forma precoce. Ele estima que o deputado não terá mais que 10% dos votos caso venha a disputar a eleição para governador. 

Prefeito prevê novo desastre eleitoral com Daniel Vilela 

Por sua vez, Renato de Castro destacou o que ele classificou de desastre eleitoral do partido, que vem sendo registrado deste 1998. “Não podemos erra mais uma vez”, alertou. E ponderou: “Ninguém aqui é inimigo do Daniel nem do Maguito, mas não podemos deixar a vaidade pessoal falar mais alto e assim entregarmos de novo o governo par o grupo que está aí”.

José Nelto defendeu a continuidade da aliança com Caiado, selada por Iris Rezende em 2014, “Ninguém falou aqui em divisão. Vamos trabalhar pela unidade. Respeitamos as lideranças, como Iris, Maguito e Daniel”. Por isso, o parlamentar quer uma definição da chapa majoritária antes do dia 7 de abril, para poder enfrentar o candidato oficial do governo. Sobre a recomendação de Maguito, de pedir a saída do partido dos dissidentes, Nelto disse que foram palavras mal colocadas. 

Apoiadores de Daniel fizeram manifestação contra o grupo dissidente do MDB. Portavam faixas em defesa do deputado e classificavam de traidores os dissidentes. O pré-candidato emedebista não se manifestou sobre o ato na Assembleia. 

Entrevista: RONALDO CAIADO 

“Eu me submeto às regras” 

Enfático a responder tempo todo que prega a união das oposições, o senador Ronaldo Caiado diz que o que defende é que sejam estabelecidas regras para a definição do candidato ao governo. “Se não tiver sucesso em responder a todos os critérios, se tiver outro que seja candidato eu respeito a decisão”, afirma. Na entrevista que segue, Caiado ressalta que o apoio recebido não é de pessoas, mas de regiões do estado que elas representam.

Como o senhor avalia esse ato de apoio de parte do MDB?

Recebo com alegria enorme, e sabendo que nessa hora, mais do que nunca, prevalece aquilo que eu nunca deixei de falar e de defender, que é a união das oposições. Nenhum dos que se pronunciaram em hora alguma falaram de ruptura, de descontentamento com outros que também têm o direito de se apresentar como candidato ao governo. O que nós pedimos é que tenhamos critérios, aos quais me submeterei a eles, para se chegar a um entendimento de quem deve ser o candidato a governador que irá representar as oposições para ganhar o governo do estado de Goiás.

Qual o peso desse apoio à sua pré-candidatura?

Você sabe que dá musculatura a essa campanha que é, indiscutivelmente, extremamente emblemática. Nós não falamos aqui de apoio de uma pessoa, de um prefeito, ou de cinco prefeitos. Falamos aqui de apoio de regiões do estado, eles são líderes que falam por milhares e milhares de goianos, que acreditam neles, por saberem que estarão juntos, para poder fazermos uma gestão em Goiás que seja competente.

O senhor fala em união, mas porque não apoiar Daniel?

Eu me submeto às regras, que eles irão apresentar. Não cabe a quem é candidato colocar regras. Elas podem parecer tendenciosas.

Admite recuar de sua postulação?

Eu me submeto a regras. Se não tiver sucesso em responder a todos os critérios, se tiver outro que seja candidato eu respeito a decisão.

O senhor fala em união, mas esse ato não pode acirrar ainda mais o processo interno no MDB? Como vê a posição de Maguito Vilela?

Eu tenho que me restringir ao apoio que recebo. Não cabe a mim fazer o menor comentário da vida interna do MDB. Ninguém aqui falou em divisão e sim união das oposições. Essa foi a bandeira (do encontro) o tempo todo. Não tem porque ter qualquer tipo de reação que não seja esta da unidade, dando o seu primeiro passo. Se deus quiser nós vamos acabar de configurar ela na convenção.

O senhor afirmou que estariam abertas vagas ao Senado e vice ao MDB.

É porque entendo a importância do MDB. Meus dois suplentes são do MDB. Estou mantendo aquilo que foi o meu primeiro entendimento. 

Deputados defendem a desfiliação de dissidentes 

Durante o Pequeno Expediente desta terça-feira (20) na Assembleia Legislativa, os deputados Wagner Siqueira e Paulo Cezar Martins, ambos do MDB, subiram à tribuna para repercutir o ato político em apoio ao senador Ronaldo Caiado.

“Percebi que muitas pessoas disseram que grande parte do MDB deixaria suas fileiras para apoiarem um terceiro candidato. Ora, não vi nada de novo do que existia há quatro anos. Não se perde o que não se tem”, disse Siqueira.

Paulo Cezar reafirmou apoio ao pré-candidato emedebista, afirmando que o mesmo posicionamento seria acompanhado por Iris Rezende. “Nós estamos buscando condições para que Daniel Vilela mostre ao MDB que tem sensatez política, condições de fazer alianças e de viabilizar um projeto de Governo para chamar a atenção da população. Estamos trabalhando para estabelecê-lo como candidato”, disse. “O MDB tem que ser respeitado. Aqueles que não aceitam o Estatuto do partido, faça sua desfiliação e vá apoiar quem quiser”. (*Especial para O Hoje) 

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