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quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Entrevista : Antônio Lorenzo

“Candidato sem estrutura dificilmente terá palanque”

Venceslau Pimentel O momento ainda é muito cedo para se falar em favoritismo para as eleições de outubro. A avaliação é de Antônio Lorenzo, diretor do Instituto Serpes de pesquisas, criado em 1979. Sociólogo e mestre em ciências políticas, ele trabalha com pesquisas de intenção de voto desde 1982 em Goiás, Tocantins, Mato Grosso e […]

Postado em 24 de março de 2018 por Sheyla Sousa
“Candidato sem estrutura dificilmente terá palanque”

Venceslau Pimentel


O momento ainda é muito cedo para se falar em favoritismo para as eleições de outubro. A avaliação é de Antônio Lorenzo, diretor do Instituto Serpes de pesquisas, criado em 1979. Sociólogo e mestre em ciências políticas, ele trabalha com pesquisas de intenção de voto desde 1982 em Goiás, Tocantins, Mato Grosso e Distrito Federal. Ao falar das principais pré-candidaturas colocadas, ele diz que o favoritismo dado Ronaldo Caiado hoje colocado pode não de consolidar. “Candidato que não tem estrutura dificilmente terá palanque”, ao citar o exemplo do senador democrata, que teria dificuldade se não consolidar o apoio do MDB. Para ele o deputado federal Daniel Vilela tem contra o fato de ser pouco conhecido, mas é favorecido pelo sobrenome da família, os Vilela, principalmente o pai, ex-governador Maguito Vilela. Sobre o vice-governador Zé Eliton, que assume o governo em abril, Antônio Lorenzo vê boas chances de crescimento, mas tudo vai depender do seu desempenho ao assumir o cargo, pois atualmente também é pouco conhecido do eleitor.  


Como o senhor avalia o cenário político-eleitoral em Goiás para as eleições para governador?

Em primeiro lugar, hoje temos poucos dados de pesquisa em relação ao quadro político. Eu não conheço nenhuma pesquisa que tenha sido divulgado este ano. Provavelmente terá havido uma pesquisa através das mídias sociais, mas não sou muito de acreditar. Em segundo lugar, pesquisa até agora não indica muita coisa, porque ela é a lembrança das campanhas anteriores. Então, aqueles nomes que aparecem na mídia por conta, por exemplo, do impeachment da Dilma (Rousseff) e por conta das campanhas anteriores tem uma relativa lembrança (por parte do eleitor). Consequentemente, quando você fala em quem vai votar hoje aparece esses nomes mais em evidência, mas não significa compromisso. Isso vai mudar, com certeza, na campanha. É claro que se maciçamente se fala que fulano está na frente ou atrás (nas pesquisas) isso faz parte da campanha e também consolida o sentimento da população. Mas a ideia geral é de que hoje não há um quadro definido.


E a terceira vertente?

A terceira é a seguinte. Não obstante isso que falei agora, no quadro da eleição para governador as coisas, sim, que se pode estar discutindo. Por exemplo, não só em função da mídia em que apareceu, como no impeachment da Dilma Rousseff, Ronaldo Caiado é um senador muito bem votado. Independentemente do fato de ter aparecido, ele é um político bem avaliado, tanto que se elegeu com quase 40% dos votos válidos, com pouco mais de 2 milhões de votos. Por sua vez, Daniel Vilela é relativamente bem conhecido e foi bem votado, e o sobrenome Vilela é mais conhecido ainda. É conhecido o pai (Maguito), Leandro Vilela (ex-deputado federal), Leonardo Vilela (secretário de Saúde) e todos os Vilela lá da região Sudoeste. Ele tem também um eleitorado relativamente grande.


E em relação ao vice-governador Zé Eliton?

Já Zé Eliton não é tão conhecido e não apareceu na mídia. E no momento em que apareceu foi num momento fugaz, quando do atentado em Itumbiara em que o então prefeito e candidato à reeleição, Zé Gomes, foi morto. Eliton foi ferido, mas não foi o centro do acontecimento. O centro foi Zé Gomes e quem se beneficiou com o acontecido foi o Zé Antônio (que entrou no lugar dele e acabou sendo eleito prefeito).


Qual o impacto do programa Goiás na Frente para o candidato do governo?

O Goiás na Frente é um programa de televisão. Impactou onde! Nas estradas, na agricultura. Não houve impacto consolidado. Talvez tenha havido algum impacto no sentido de trazer algum investimento, mas em termo eleitoral… É a minha opinião. José Eliton tem um déficit de densidade eleitoral. Ao seu favor está o fato de que ele vai ser governador (a partir do dia 7 de abril). E aí ele poderá ser conhecido, apreciado (avaliado), analisado e preferido. Isso vai trabalhar a favor dele. 


O que pode acontecer daqui para a frente?

As campanhas são feitas para mudar a intenção de voto do eleitor. Quer dizer, o eleitor pode transferir a sua intenção de voto de um para outro candidatou ou pode optar por alguém por quem até agora não estava motivado. Por enquanto o eleitor não se sente atingido (motivado) por nenhuma candidatura. Por enquanto. Quando digo eleitor, é a massa do eleitorado.


Quando alguém pergunta em quem o eleitor vai votar para governador, tem 65% ou mais que dizem que não sabe.São os indecisos?

Não são bem os indecisos. Eles não estão nem aí. Então, o campo aberto para a conquista de votos é imenso. Aí vêm as rejeições. O pré-candidato Ronaldo Caiado, pelo que eu conheço de alguns levantamentos, é bastante rejeitado.


Por que?

Ele é um político que tem muita gente a favor e muita gente contra. Iris também é,mas já foi muito mais (rejeitado), por ser polêmico. Tem muita gente que gosta do Caiado, mas tem muita gente que não. Resta saber se quem gosta é mais de que quem não gosta. A rejeição de Caiado é bastante alta. Mas a campanha vem para mudar isso. Pela nossa experiência de anos anteriores, as rejeições no princípio (do processo eleitoral) são altas para todos os candidatos. No decorrer da campanha isso tende a baixar, porque o eleitor vai se decidindo em quem vai votar. Daniel Vilela tem muito pouca rejeição, porque não tem nada que pese contra ele. Ele é bem conhecido por causa de sua família, os Vilela. E pelo pai, Maguito, que ganhou uma eleição (para governador) e perdeu duase não é um político mal considerado, ninguém diz que ele tenha cometido um ato de corrupção, por exemplo, de favorecimento. Inclusive a figura dele cresceu quando prefeito de Aparecida de Goiânia. Isso passa (favorece) para Daniel, mesmo com alguns pequenos episódios políticos. Um deles foi ter apoiado a pré-candidatura do empresário José Batista Júnior, o Júnior Friboi, em 2014. Com isso, ele ganhou a ira de Iris. Não fosse o poder que Maguito tem, Iris teria defenestrado o Daniel. Zé Eliton tem pouca rejeição, até por não ser muito conhecido do eleitor. Mas ele arca um pouquinho da rejeição a Marconi. Mas também, em termos gerais, isso tem pouca relevância em termos de rejeição a Eliton.


Então ele deve crescer nas pesquisas?

O crescimento de Daniel e Eliton, teoricamente, se dá em torno daquele eleitor que ainda não foi conquistado definitivamente. Já Caiado tem um leque menor porque tem uma forte rejeição, pelo seu passado, independentemente da política. Em Goiás as definições do eleitorado vêm muito ainda docaiadismo e do PSD de Pedro Ludovico. Ainda tem esse resquício. A família Caiado é lembrada por suas ações do passado. Para crescer nas pesquisas, o senador vai ter de lutar contra os demônios dos ancestrais, contra essa imagem que se criou dos Caiados e dele, que ele até agora não fez nada para rejeitar essa imagem. Ainda é tido como de personalidade forte, de que as coisas têm de ser como ele quer.


Quem dos três tem chances de ir para o segundo turno?

O Caiado pode ir, pelo seu histórico, pelo seu caráter de oposição, e não quero acreditar que ele não tenha uma rejeição muito grande por parte do MDB, pois ele precisa do partido.


O ato pró-Caiado fortaleceu o nome do senador?

Foi importante para a definição. E para ver até onde ele pode contar com o partido. Ele não conta com todo o MDB, mas com uma parte. Se grande ou pequena, vai se ver nos próximos dias. Já o eleitorado do Daniel não é caiadista. Não é. Agora, claro que por conveniências de chegar ao final, essa dificuldade pode ser remontada. Maguito fez declarações muito duras ao propor que os dissidentes deixassem o partido. Significa que as chances de união são muito remotas. Que seja possível, em política tudo pode acontecer. Mas é difícil. As chances de ele ir para o segundo turno passam pelo tamanho do palanque que ele construir (com o MDB). Tem uma variávelaí bastante sensível quando se diz que a pessoa (candidato) é mais importante que o partido. Não vejo isso se confirmar muito.


Tem exemplo?

É claro que a pessoa sem partido já sai com 30%. Fernando Collor de Mello, por exemplo, é um caso que foi bem-sucedido na disputa pela Presidência da República, com o discurso contra os marajás. Mas candidato que não tem partido dificilmente terá palanque. Quem não tem estrutura, dificilmente se elege. E o Democratas não tem estrutura. Quer dizer, perdeu a estrutura, que é pior que não ter.Então, se o MDB não der palanque a Caiado, como ela fará (na campanha)? Por outra parte, se ele ficar só pelo DEM, ele vai ter um valor x de recurso para a sua campanha (do fundo partidário). Mas é curto para bancar as despesas, pois ele tem de dividir com os demais candidatos.


Para ele chegar ao segundo turno necessariamente ele terá de ter o apoio do MDB?

Não digo, necessariamente. Essa palavra só existe em ciência. E a ciência política é probabilística. Mas é muito difícil de ele tirar a rejeição que tem e aumentar os votos. Quais candidatos a deputado ele tem, por exemplo?


Se Iris abraçar a candidatura de Daniel, o deputado pode se favorecer na campanha?

Na minha opinião, Iris não abraça a candidatura do Maguito. Iris poderá aceitar o Daniel em nome da orientação e respeito à decisão partidária. Um dos entraves que vejo é a falta de dinheiro para a campanha.


Zé Eliton pode se fortalecer por ser o candidato do governo?

A possibilidade de ele crescer é grande. Tem chances de ir ao segundo turno. Como também o Daniel tem. Mas não vai ser fácil. A façanha de 2006 talvez possa se repetir (quando Marconi elegeu Alcides Rodrigues). Muito embora Eliton seja muito melhor candidato do que Cidinho. Eliton tem muita chance de cresce, mas ir ao segundo turno é problemático. (*Especial para O Hoje) 

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