Ronaldo Caiado (DEM): “Estado não será projeto pessoal”

O candidato democrata ao governo estadual falou sobre a coligação partidária que conseguiu para o primeiro turno

Postado em: 11-08-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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O candidato democrata ao governo estadual falou sobre a coligação partidária que conseguiu para o primeiro turno

Como o DEM e outros 11 partidos chegaram à candidatura do senhor? Como foi construída essa aliança?

Primeiro porque o sentimento é muito forte de mudança no estado de Goiás. Por onde você caminha é algo espontâneo, é algo que mostra uma simpatia nesse processo. Esses partidos todos se aglutinaram em torno de uma proposta que deveria sair dali o candidato ao governo do Estado pela oposição, unidos para poder fazer mudar o Estado. E com isso todos esses partidos deixaram de ser satélites e passaram a compor um projeto de governo. Ao longo desses anos eu tenho derrubado algumas teses que tentam jogar sobre mim.

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Principalmente de desagregador?

Você olha e pensa: “Caiado não ganha eleição majoritária”. Ganhei para o Senado com uma vaga só quando o candidato do governo não teve sucesso, que é um fato inédito. Segundo lugar: “Olha, o Caiado não aglutina partidos e vai sair isolado”. É a maior coligação em número de partidos. Depois tem teto, toda hora eu estou furando o teto.

O senhor está estabilizado nas intenções de voto, senador.

Mais de 40%. Se você botar isso em votos válidos quanto é que dá? Vai para 68%. Então você nota que este é o fato que quando as pessoas querem rotular o outro, não é um caminho correto.

Os partidos não são grandes e apesar de o senhor ter a maioria, a coligação tem o quarto tempo de TV. Isso não é um prejuízo para a campanha?

Na campanha é importante que você tenha discurso. Tenho muito cuidado com isso porque o dia que o candidato perde o discurso, ele perde a credencial. É fundamental que você faça uma composição, mas que não quebre aquilo que é a coluna vertebral da sua campanha. É independência de promover mudanças, é estar desvinculado do atual governo que chegou ao final de um ciclo, é estar desvinculado de um governo federal que aglutina a sua volta tudo de negativo no país. Este é o lado que você como pré-candidato tem que se cuidar, para que amanhã não perca aquilo que é fundamental, que é sua credencial de falar sobre os temas e não se curvou a tempo de rádio e televisão. A política não pode ser negociada porque aquele partido vai dar um minuto ou vai dar trinta segundos, mas no conceito da nova política que temos que acreditar dela.

O senhor chega agora para quebrar, depois de 20 anos, a polarização entre o MDB e o PSDB. A que o senhor atribui o seu desempenho nas pesquisas?

Primeiro diria que recebo com muita humildade os resultados de pesquisas, a cada pesquisa eu intensifico ainda mais as minhas ações. Em segundo lugar, por um fato que me chamou a atenção: estava na cidade de Valparaíso e um dos líderes locais fez a seguinte comparação: “A minha filha tem 20 anos de idade e nunca ouviu outro governo”. A sociedade goiana está cansada e avaliando quem tem independência moral e intelectual. 

O MDB é oposição desde a eleição de 1998. O MDB não representa mais esse sentimento de mudança? Porque o senhor lidera as pesquisas e não o candidato do MDB?

Quando você fala que assume uma posição, não é simplesmente chegar e falar. Até porque a população toda está lhe assistindo. Por exemplo, quando o governo quis se usurpar de todos os depósitos judiciais que chegam a mais a R$ 2 bilhões, quem teve coragem de enfrentar esse processo? Se o Estado de Goiás não tem as condições mínimas para contrair um empréstimo porque foi rebaixado, como ele pode tirar um empréstimo de R$ 500 milhões? A sociedade vê quem é oposição consentida e quem é oposição de verdade. Isso que é o ponto.

Como líder das pesquisas, o senhor será alvo das campanhas dos adversários e não foge a uma boa briga. Daniel Vilela esteve aqui e disse que o senhor representa o atual governo e que nas vezes que conversou com o senhor, o senhor não falou de propostas, mas de ‘projeto de vingança’. Como o senhor responde essa primeira provocação?

Eu tenho que responder para o meu eleitor, para o Estado de Goiás. Tenho que responder para 55 mil goianos que estão na fila de espera. Tenho que responder por uma vida que tem 25 anos dentro do parlamento e durante 21 anos fui considerado um dos 100 melhores do Congresso Nacional, fui reconhecido como o melhor senador da República. Eu tenho que responder que a nossa juventude está na mão do narcotráfico, que dos professores foram retiradas a titularidade, responder com abertura de empregos. Não vou entrar nesse tipo de debate porque é inconsistente.

Ele vai acontecer durante a campanha. 

Sim, mas veja bem, não vou desviar por um lado se a sociedade deseja o outro. A sociedade quer alguém que tenha independência intelectual e moral para fazer as mudanças em Goiás. Estamos discutindo o que se pode fazer de mudanças, essa preocupação é acessório. Até não sei por que um rapaz tão jovem pender por aí.

As pesquisas têm apontado que as mulheres estão indecisas e que uma parte delas nutre certa rejeição em relação à candidatura do senhor. Como que a campanha vai dialogar com esse eleitorado? 

Eu não posso considerar que haja nenhuma rejeição. Sou médico e se tem um projeto [meu] que foi vetado pelo presidente à época do Lula é que as mulheres devem ter mamografia desde os 40 anos de idade; se tem um processo dentro do Senado Federal que foi vetado pelo Michel Temer é que qualquer autoridade policial no município poderá dar ações protetivas às mulheres que sejam agredidas; mostrar que quando se trata de doenças raras eu sou o relator e a matéria foi aprovada para que as mães tenham condições mínimas de tratamento. 

Como resolver a segurança pública?

É um grande desafio,talvez um dos maiores. Mas em todos os pilares: educação e saúde também. As facções criminosas tomaram conta do Estado e o cidadão não sente o braço do Estado para lhe proteger. Este é o primeiro enfrentamento e precisa ser corajoso. Não é só ficar prendendo o coitado que fica servindo de avião para os líderes do tráfico. Neste momento é fazer uma frente ampla com a Fazenda, Polícia Militar e Civil, essa é a inteligência que precisa ser feita. Por isso criamos o Sistema Unificado de Segurança Pública (Susp). 

Mas é preciso investimento para isso. Tem dinheiro?

Eu posso lhe garantir que tem muito dinheiro usado incorretamente. Proponho que o dinheiro seja aplicado na hora certa e no momento certo. Goiás vai sair da crise em um ano de governo sério. Em quatro anos o Estado será referência para o Brasil de política séria.

O senhor tem falado que as contas do governo não são boas, mas que em um ano vai colocar tudo em dia. Não existe uma incoerência aí?

As empresas que foram envolvidas na Lava Jato, principalmente, que passaram por um escândalo não foram submetidas a um compliance? Minha primeira proposta é criar um compliance público. Eu vou fazer esse sistema dentro da estrutura do Estado. Ele será um dos elementos dos saneadores para identificarmos onde foi parar o dinheiro público e depois aplicá-lo no lugar certo. Se for eleito, só vou liberar obra que o governo puder pagar. Não vou fazer obras eleitoreiras. Não vou começar uma obra de uma creche ou uma escola para depois parar. Vou terminar as obras em andamento, mas começar obra eleitoreira, não vou fazer. Vou regionalizar a saúde em Goiás. Tenho apoio de toda a classe médica para isso. Vamos levar especialistas para o interior. Ainda em segurança, vou fazer uma integração das policiais e a bandidagem vai sentir isso. Na educação, os professores vão sentir isso. Vamos implantar na Secretaria de Educação um sistema para avaliar todo ano o rendimento dos alunos. Vou buscar avanço na área dos institutos que promovem o avanço científico no Estado.

Esses avanços dependem do apoio do funcionalismo público. Onde os servidores entram no seu projeto de governo?

Como médico, não opero sozinho. Eu só tenho um bom resultado se tiver uma boa equipe. Sou um homem que trabalha em equipe. Não quero brilhar sozinho. Sou um homem de constelação. Quero todo mundo brilhando. Todos os servidores vão trabalhar com alta estima porque o governo será transparente. Irei retribuir os servidores com reconhecimento salarial. Primeira coisa é reajustar o salário dos policiais militares. Isso é questão de justiça. Nós temos que ter esse sentimento para ter a motivação do servidor.

A máquina será enxugada?

Por eficiência. Não posso transformar o Estado em projeto de poder pessoal. Não posso transformar o Estado em projeto de poder de partido político. Não quero manter monopólio político de municípios. Governador é funcionário público. Tem que prestar conta ao cidadão que paga imposto. Quando misturamos a máquina pública com projeto pessoal dá nisso. 

Na saúde, uma das maiores demandas é a saúde básica, que é dever do município. Como senhor negociaria com os prefeitos para oferecer um serviço melhor?

Sei que não existe nada melhor que o tratamento preventivo. A maioria dos cidadãos falece oriundo de doenças crônicas. Se eu tenho um bom tratamento na base, terei uma menor presença nos hospitais e no pronto socorro. 

Como avalia a gestão dos hospitais pelas Organizações Sociais?

Não podemos satanizar nenhuma ferramenta apresentada como alternativa. Não sou contra o modelo. O que tem que combater é a utilização da OSs para caixa dois. Eu vou combater o carrapato, não vou matar a vaca. 

Como avalia os membros da sua chapa que faziam parte do governo? 

Só fazer uma análise de quem está na chapa do MDB. Eles reuniram totalmente o governo Marconi com o governo Michel Temer. Meu caminho é outro. Meu norte é o da mudança.  

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