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quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Essência

‘O pai de Moisés’

Roger Gobeth esteve em Goiânia para a estreia de ‘Os Dez Mandamentos’, de cujo elenco ele faz parte, e aproveitou para conversar com o ‘Essência’

Postado em 5 de fevereiro de 2016 por Redação
‘O pai de Moisés’
Roger Gobeth esteve em Goiânia para a estreia de ‘Os Dez Mandamentos’

FLÁVIA POPOV

Ele tem 43 anos, é bonito, inteligente e simples, muito simples. O paulistano Roger Gobeth não é dos artistas que se negam a falar com a imprensa, muito menos que se deslumbram com o sucesso da profissão. Ele tem os pés no chão e se sente ‘gente como a gente’. A notoriedade veio com o primeiro papel na TV, em Malhação, em que deu vida ao personagem Touro. Após três anos na Rede Globo, o ator assinou contrato com a Rercord, onde trabalha há dez anos. Na entrevista abaixo, Roger Gobeth fala sobre seu papel como Anrão, o pai de Moisés, na primeira fase de Os Dez Mandamentos – o filme foi lançado na semana passada em todo o País –, seus trabalhos em andamento, futuras estreias e sobre a atual crise política brasileira. 

Temos lido, na mídia, críticas com relação à edição da novela Os Dez Mandamentos, que virou filme, e à bilheteria – que ‘ingressos teriam sido esgotados an­tes da estreia em muitas capitais do País’. O que você tem a dizer sobre isso? Fale, também, sobre o seu personagem.

Meu papel foi ‘quase uma novela’: eu passei por três (papéis), mas me ofereceram o pai de Moisés, que é o Anrão, que é quem eu faço na primeira fase. Foi o papel que me deixou mais feliz, e hoje tenho muito orgulho de ter feito, porque ele é humano, poético, um cara que tem uma fé muito grande, apesar de na novela ele ter ficado muito pouco – no filme, menos ainda, porque são 150 horas de novela editadas para duas horas (há personagens que nem entraram). Depois, o Paulo Gorgulho ter­minou o papel, na segunda fase, fazendo o mesmo papel do Anrão de uma forma mais magistral. Ter dividido este papel com o Paulo para mim foi outro presente. Sobre as críticas, eu li não nada a respeito, mas o que eu acho é o seguinte: a gente fez uma novela, e a gente fez muito bem-feita. Foi a primeira novela bíblica – porque a Record, até então, fazia minisséries – em um momento em que a gente tinha perdido grande parte do público na teledramarturgia. A novela foi feita com muito carinho, muito suor, não só nosso, mas de to­do mundo que participou – atrás das câmeras também. Não foi fácil, porque se você imaginar que a gente conta a história de um povo que vive no meio de um deserto, na África, e gravando no Rio de Janeiro, numa floresta da Tijuca, espremido na cidade entre o mar e a montanha, como é que você faz para gravar? Aí você via a novela e não via o Rio de Janeiro. Não foi fácil. A novela tem muitas qualidades, e fez um enorme sucesso! Então retomamos isso. A mudança de horário para as 20h30 nos ajudou. E a história que contamos, a de Moisés, é riquíssima. Aqui em Goiânia, atingimos 35 pontos; em São Paulo, uma média de 28, nos momentos finais. Então isso nos trouxe muita felicidade! O público estava vendo a novela! A partir disso, se optou por fazer um fil­me. Talvez para quem não tenha visto e que tenha vontade de conhecer a história. É lógico que não é um trabalho fácil (como eu disse): pegar 150 horas e transformar em duas. Devemos lembrar que o produto não foi feito pa­ra o cinema: ele foi feito para TV. Então, se há crítica do cinema (você disse que está sendo criticado, mas eu não sei), hoje, eu não vou me apegar a isso, porque estamos levando um produto pela primeira vez – destinado a televisão – para o cinema, sem a pretensão de fa­lar que a gente ‘fez cinema’! Não! A gente fez uma novela que está dando a possibilidade de mostrá-la de uma maneira enxuta no cinema. Então, para mim é isso: o público que já viu a novela e que quer ver em uma versão reduzida (em horas) da história de Moisés – com algumas coisas novas – irá ao cinema. E aquele púbico que não viu a novela e ficou com vontade de ver, no meio dela, mas não quis pegar do meio, porque queria ver do início, vai poder conferir tudo no cinema. Enfim… É mais uma opção. Eu acho que a gente tem de exaltar uma opção como esta, e eu espero que esta transição que eles fizeram (de um produto da televisão para o cinema) traga para a empresa uma vontade de fazer, sim, cinema, porque está mais do que provado que podemos fazer, pensar em um produto já para o cinema.

E o que você gravou depois de Os Dez Madamentos? Quais são os seus planos?

Eu fiz só a primeira fase da novela – o pai de Moisés –, e acabou logo, porque durou apenas três meses. Depois disso, eu já fiz Escrava Mãe, que é uma novela de época, contando a história da mãe da Escrava Isaura. A gente já gravou a novela toda, no interior de São Paulo – em uma fazenda linda –, já com a Casablan­ca no processo da terceirização e da parceria. Então foi a primeira novela em que se estabeleceu a parceria entre a Casa Blanca, que é uma produtora de São Paulo, com a Record. Esta novela já está gravada, e está linda! E, pelo que eu saiba, vai estrear em um segundo horário, neste ano, em abril – no horário das 19h30. Então vão ficar os temas bíblicos, religiosos, para o horário das 20h30, e o horário das 19h30 para os demais temas. A Escrava Mãe, portanto, vai estrear neste horário. Já acabamos, e agora eu estou iniciando a gravação da próxima série da Record, chamada Sem Volta, que é uma série de aventura, de 13 episódios, em que alguns alpinistas ficam presos na montanha, e então mostra a história deles, se eles serão resgatados ou não – tem uma ‘pegada’ meio do Lost, de  séries americanas. O nosso autor mora em Los Angeles, e trouxe de lá um conhecimento dessa coisa de escrever para as séries de lá. Está muito bem escrita. Estamos começando a gravar e, com certeza, vai ser mais um produto de excelência. Eu estarei na Record até 2017 – que é quando vence o meu contrato. Depois disso, a gente senta e conversa.

Você ficou marcado pelo seu personagem Touro em Malhação. Ouvimos alguns artistas – como Xuxa (Record) e Mariana Godoy (Rede TV) – dizerem que, ao deixarem a Globo, puderam “respirar”, se sentindo mais à vontade, por conta de mais liberdade que se tem nas outras emissoras. Com você aconteceu a mesma coisa ou você não sentiu isso? E foi isso que te fez permanecer na Record? E se, hoje, você recebesse um convite da Rede Globo para voltar, você voltaria?

Eu fui muito feliz na Globo, e eu devo a ela a minha primeira oportunidade. Gostei muito de ter participado da teledramaturgia de lá também. Mas eu nunca fui um contratado da Globo – apesar de ter ficado três anos e ter feito alguns trabalhos. E a gente precisa trabalhar. Entre a Globo e a Record, eu tive um convite para fazer uma novela infantil na Band – a Floribella –, que foi linda também (eu fiz a primeira temporada), e que foi o mai­or sucesso com as crianças! Eu adorei conversar com esse público! E, depois de Floribella, a Record me chamou para conversar, e então estabelecemos esta parceria, e eu fiquei muito feliz (e estou muito feliz), porque foi a primeira vez em que eu tive um contrato, uma estabilidade financeira – pude realizar alguns desejos, sonhos, viagens… Eu devo muito à TV Record pelo que eu sou hoje! Tive muitas possibilidades de personagens bacanas, profundos. Eu encontrei na Record amigos, que tam­bém vieram da Globo. O que eu acho é que são duas empresas diferentes, mas que trabalham no mesmo nicho, que é ‘vamos contar a história’. Então se, dentro da Record, temos maneiras diferentes de contar histórias – porque são diretores diferentes e temas diferentes –, entre as empresas também existem ma­neiras diferentes. Eu gostei muito de ter trabalhado nas duas, e acho importante que existam as duas no mercado. É importante a competição, porque isso engrandece tanto a Record, que vai em busca desta excelência que a gente trouxe para Os Dez Mandamentos, quanto a Globo, que vai em busca da excelência dos produtos deles lá. Para o mercado em geral, para nós (que trabalhamos com isso), para todos os técnicos, a classe artística toda… A gente tem que torcer para as duas se estabelecerem cada vez mais e que a teledramaturgia tenha essa vida rica e longa, mesmo com o advento da internet, que mudou muitos já.

Para você, a crise brasileira atual afetou a classe artística ou não?

Eu acho que a crise brasileira atual afetou tudo, né? A crise brasileira é uma crise humana, de caráter. O que vai mudar na vida da pessoa se ela tem 20, 40, 100 milhões de reais?! Eu fico pensando… Essas pessoas que roubaram tanto e que continuam roubando – sim, continuam roubando – para quê isso, se já têm uma vida boa?! Aí ela rouba, e ela ‘mata’ todas aquelas pessoas que estão nas filas dos hospitais públicos! No Rio de Janeiro, por exemplo, está uma catástrofe! Não afeta apenas a classe artística, mas um povo inteiro (em geral)! Hoje em dia, quem está pensando em ter filhos, não quer por causa do  ‘mosqui­to’: se você tiver um filho, e a mulher grávida for picada por ele, corre o risco de a criança nascer com microcefalia. Isso é um absurdo em um País como o Brasil! E não dá para a gente ficar ouvindo que é o ‘País do futuro, que é País disso, daquilo…’. A gente não tem resposta! O Brasil está no fundo de um poço: é uma violência, uma falta de segurança… Eu moro no Rio de Janeiro; eu sou um sobrevivente – como todos – e eu venho dando sorte! Há pessoas que, por causa de um relógio, de uma carteira, morreram! Por causa de um buraco na estrada, de um remédio que faltou, morreram! E o Brasil é um País de uma riqueza tão grande… Mas as pessoas que são vinculadas ao trabalho público desviam o dinheiro! Agora, estão desviando lá nas obras das Olimpíadas! Enfim… Eu só vou acreditar no político quando, assim que eleito, o filho dele for estudar em uma escola pública e ele só puder se tratar em um hospital público! Aí a gente vai mudar! 

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