Prefeita entra na mira do MP
Para o Ministério Público, Adailza Crepaldi teria armado um esquema para contratar de forma irregular a construção de um monumento
O promotor de Justiça Alencar José Vital propôs ação civil pública contra a prefeita de São Miguel do Araguaia, Adailza Alves de Sousa Crepaldi; o secretário de Obras, Tyrone Luiz Parreira Filho; os membros da Comissão de Licitação, Adriana Alves, Ana Paula Dantas Viana e Andreza Maria dos Santos e ainda João Pereira Neto, representante da empresa que presta assessoria jurídica ao município.
Respondem ao processo também o artista plástico José Omar Pereira Souto e o irmão Paulo Roberto Pereira Souto, ex-presidente da Associação Filantrópica Filhos de Deus (ASFFD); a atual presidente da entidade, Priscylla de Sousa Damasceno, e ainda o sobrinho dos irmãos Souto, o engenheiro Fernando Pereira Rodrigues da Cunha.
Juntos, eles articularam um esquema para contratar irregularmente a construção de um monumento em homenagem à Bíblia na cidade, que resultou em prejuízos aos cofres públicos, o que caracteriza a prática de atos de improbidade administrativa.
O caso
Em fevereiro de 2015, o secretário de Obras solicitou à prefeita autorização para contratar um artista para construir o monumento, alegando ser uma necessidade da cidade, anexando junto um ofício com a proposta de interesse de Omar Souto na empreitada e da ASFFD, entidade que o representaria, tendo como representante o irmão do artista e ex-presidente da entidade. O custo do serviço apresentado foi de R$ 200 mil.
A contratação se deu por dispensa de licitação, conforme parecer emitido pelos integrantes da Comissão de Licitação, sem qualquer fundamentação para que fosse declarada essa inexigibilidade, alegando que a obra estaria dentro das posses do município e atendia aos propósitos da administração. Por sua vez, o representante da empresa de consultoria jurídica do município justificou a dispensa, alinhando-se para aprovação da licitação, não observando sequer que os documentos da ASFFD estavam desatualizados e não correspondiam à atual composição da entidade, uma vez que Paulo Roberto Pereira Souto não era mais seu presidente e sim Priscylla Damasceno, que afirma desconhecer a negociação mas, entretanto, apresenta versão confusa em alguns pontos, em especial quanto à preexistência de contas bancárias e quem seria o detentor de suas senhas. Foi Paulo Souto quem endossou para si cheques emitidos pela prefeita à associação.
Em junho de 2015, três meses depois da assinatura do contrato e dois meses depois do pagamento da primeira parcela de R$ 50 mil, a ASFFD apresentou a Anotação de Responsabilidade Técnica da Obra (ART), emitida pelo sobrinho dos irmãos Souto, Fernando Cunha, para que a obra não fosse embargada pelo Crea, pela falta de projeto.
O promotor esclarece que o projeto apresentado e objeto da ART não é de engenharia, mas um projeto cultural, não contendo detalhes sobre a sua execução, apenas medidas de cumprimento, não constando informações técnicas como o custo detalhado da obra, o que impossibilitaria a fiscalização por parte da administração.
“Sabendo os acionados que a obra não possuía projeto e que nenhum engenheiro emitiria a ART, foi pedido a Fernando Cunha que o fizesse, pois seria impossível a emissão do documento por outro engenheiro, uma vez que seria questionada a falta do projeto. Desta forma, Fernando Cunha apareceu como mais um figurante da lista de pessoas estrategicamente envolvidas no esquema”, afirma Alencar Vital.
Para o MP, Omar Souto se apresentou para se locupletar nessa trama pois, em janeiro de 2015, por assinar contrato com prefeitura.