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domingo, 24 de novembro de 2024
Essência

Anna Muylaert se prepara para festival

O longa, inspirado no caso Pedrinho, mostra as transformações pelas quais passa um adolescente

Postado em 12 de fevereiro de 2016 por Redação

tAlessandro Giannini

Agência O Globo

Um ano depois de exibir Que Horas Ela Volta? no Festival de Berlim, Anna Muylaert volta à capital alemã nesta semana com o filme Mãe Só Há Uma. Se no ano passado causou desconforto com a história da empregada que acolhe a filha recém-chegada do Nordeste na casa dos patrões, a cineasta paulista promete tirar o chão de quem for assistir ao seu novo trabalho, na sexta e no sábado, na mostra paralela Panorama, fora da competição oficial. 

Inspirado livremente no caso Pedrinho, que ficou conhecido em 2002, o longa mostra as transformações pelas quais passa um adolescente que volta para a família biológica após sua suposta mãe ser presa por sequestro de bebês em maternidades. O corte final, que será exibido nos próximos dias, ficou pronto há pouco mais de uma semana. 

Inicialmente, Anna não queria ir a Berlim. Pensava que teria de se superar muito em relação a Que Horas Ela Volta?, que ganhou o prêmio de público da Panorama no ano passado. Mas mudou de ideia quando a curadoria da seção pediu para assistir a Mãe Só Há Uma.

“Achava que um raio não cairia no mesmo lugar duas vezes”, diz ela, em entrevista ao GLOBO, na sede da Dezenove Sons e Imagens, coprodutora do filme, em São Paulo. 

Matheus Nachtergaele faz o papel do pai biológico do personagem principal, enquanto a atriz Dani Nefussi interpreta suas duas mães, a adotiva e a real. Escolhido por meio de indicações, Naomi Nero encarna o menino, que muda de casa, de escola e de nome quando troca de família. Pierre, que passa a se chamar Felipe, sofre outras transformações de identidade, muito mais profundas. Ele reage às mudanças e deixa mais claros os sinais de sua indefinição de gênero e de orientação sexual.

Sobrinho de Alexandre Nero, Naomi vem de uma família de atores. Além disso, tem um irmão que é transgênero e mudou o nome para Nicole. Segundo a diretora, essa experiência pessoal foi importante para o ator.

“Depois de fazermos muitos testes, a gente estava desesperado”, conta ela. “Não é fácil encontrar atores bons nessa idade. Ele acabou sendo indicado, vem de uma família de atores, também quer ser ator, tem uma energia suave. E por ter um irmão que é transgênero, interpretou o papel com integridade, ele não ria nunca quando estava no papel. Imagine você interpretar a história do seu irmão!”.

A diretora conta que a história de Pedro Rosalino Braule Pinto e de Vilma Martins Costa, que em 1986 o levou dos braços da mãe biológica em uma maternidade de Brasília, sempre a fascinou. Menos por Vilma, que foi condenada pelos sequestros do menino e sua irmã de criação, Roberta Jamilly Martins Borges. E mais pela situação do adolescente, obrigado a mudar de vida completamente, de uma hora para a outra.

“Eu sempre achei que o drama do filho era a grande história”, afirma. “Simbolicamente, acho que toda criança que vira adolescente meio que muda de mãe. Na infância, a gente tem uma mãe que ama tudo e aceita tudo e, de repente, viramos adolescentes, e começam as restrições. Fiquei interessada quando achei que o filme podia ser uma metáfora dessa situação pela qual todo adolescente passa. A família da infância é um paraíso e, depois, vêm as diferenciações e começam os conflitos”. 

A questão do gênero foi introduzida posteriormente, quando a cineasta havia terminado Que Horas Ela Volta? e se preparava para iniciar as filmagens de Mãe Só Há Uma. Os dois longas-metragens foram rodados em 2014, o primeiro no início do ano e o segundo entre novembro e dezembro, durante quatro semanas. O último custou R$ 1,8 milhão, parte dos quais de um concurso federal para filmes de baixo orçamento.

Enquanto se prepara para Berlim, Anna ainda cuida de negociações envolvendo Que Horas Ela Volta?, que deve ter os direitos de adaptação vendidos para o mercado americano.  

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