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quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
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Show & Som

Precisamos falar sobre Kesha

Condições contratuais impedem que a cantora trabalhe com outros produtores e lance músicas novas fora da gravadora

Postado em 2 de março de 2016 por Redação
Precisamos falar  sobre Kesha
Condições contratuais impedem que a cantora trabalhe com outros produtores e lance músicas novas fora da gravadora

Júnior Bueno

Em outubro de 2014, a cantora Kesha entrou com um processo contra o empresário Dr. Luke, responsável pela produção e divulgação de sua música. Ela alega ter sofrido abusos físicos e sexuais por parte dele, além de pe­dir que seja rompido o monópolio que a Sony e a gra­­vadora Kemosabe Records têm sobre suas produções – que, vale lembrar, estão paradas desde 2012, quando ela lançou o álbum Warrior. Seu primeiro lançamento solo em 2010, Animals, ficou em primeiro lugar na Billboard, vendeu 152 mil cópias e teve singles que dominaram outras listas mundo afora. Kesha não tem direitos legais sobre as próprias composições

As condições contratuais impedem que a cantora trabalhe com outros produtores e lance músicas novas fora da gravadora. Dr. Luke é um dos “deuses” do mundo da música, tendo produzido grandes nomes como Britney, Miley Cyrus, Nicki Minaj, Jessie J e Kelly Clarkson. Kesha e ele firmaram contrato quando ela tinha apenas 18 anos, em 2005. Para o advogado de Kesha, o “processo é um esforço incondicional para reaver o controle de sua música e de sua liberdade, após ser vítima de manipulação, abuso emocional e sexual por dez anos de Dr. Luke”. Em um dos eventos alegados, o empresário a teria drogado e obrigado a fazer sexo com ele, além de criticá-la constantemente por causa de seu corpo, levando a um transtorno alimentar que terminou em uma clínica de reabilitação no final do ano passado. 

Kesha foi derrotada na primeira audiência do processo, realizada no dia 19 de fevereiro. Esta foi só a primeira batalha que a cantora deve enfrentar contra o produtor, já que a audiência oficial sobre o caso deve acontecer apenas em 2017. A defesa de Luke argumentou que foram investidos mais de US$ 60 milhões na carreira da artista. Por isso, apesar de já ter concordado em deixá-la gravar novos trabalhos sem a sua participação, Luke ainda lucraria por ser empresário e dono do selo fonográfico. Shirley Kornreich, a juíza responsável pelo caso, teria considerado que a quebra de contrato com a empre­sa de Luke era “infundada e sem embasamento”. 

Vários artistas manifestaram apoio à cantora. Lady Gaga, Kelly Clarkson e Ariana Grande tuitaram em apoio a Kesha. Taylor Swift doou à cantora US$ 1 milhão, para ajudá-la nas despesas com o processo. E Adele dedicou a Kesha o prêmio que ganhou no Brit Awards, na semana passada. Porém, de vários artistas de quem se esperava alguma reação, como Beyoncé, não houve nenhuma palavra. Especula-se que seja pelo contrato com a Sony. A gravadora, por sua vez, meio que lavou as mãos em comunicado: “A Sony possibilitou para Kesha gravar sem qualquer conexão, envolvimento ou interação com Luke, mas a Sony não está em posição de terminar a relação contratual entre Luke e Kesha.” Segundo a gravadora, o imbróglio não a envolve diretamente, mas um braço independente da empresa, que pertence a Dr. Luke.

O fato é que o caso precisa chamar nossa atenção para o universo abusivo e controlador da fama. Jovens artistas precisam assinar contratos absurdos e abrir mão de sua criatividade, liberdade e, às vezes, até da própria voz para con­seguir um espaço no mundo. E também estão sujeitas a se calarem quando precisam enfrentar um nome poderoso, bem como aconteceu no caso Bill Cosby. Quem sabe o que uma jovem de 18 anos que queria cantar suas músicas pode ter passado nesses dez anos? E quem somos nós para julgar?

 

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