José Abrão

A atriz e artesã Renata Caetano dá início à sua individual Olhar Negro, no Espaço Culturama, no Setor Bueno. O trabalho reflete justamente a questão da identidade ne­gra no Brasil e da vivência da artista em torno da história de seus antepassados. Entre as peças expostas estão guirlandas, retalhos, desenhos, vestidos, cabaças e turbantes, todos inspirados na cultura afro e nas religiões de matriz africana. São 25 obras em exposição, dedicadas especialmente às quatro orixás femininas: Iemanjá, Iansã, Nanã e Oxum. 

Todas as obras são artesanais, feitas pela expositora. “Eles são o resultado de uma pesquisa que iniciei em 2011 sobre cultura africana, especialmente sobre as quatro orixás femininas”, disse. Caetano conta que começou pelas cabaças, que compõem dez peças da exposição, decoradas com tecidos e outros elementos. “Eu fui confeccionando os modelos direto nas cabaças, sem croquis. Acho que pensei na cabeça por ser um elemento negro muito forte, além de ser um símbolo do feminino e da fertilidade”.

Um elemento da exposição que vai chamar a atenção e provavelmente fazer sucesso são quatro vestidos criados por ela, inspirados nas quatro deidades africanas. “Conforme fui fazendo as cabaças, fui pensando em outras coisas, outras peças e acabou que foi me vindo a ideia de vestidos femininos, aí criei essa linha e chamei de Nanã. Além disso, vou deixar alguns desenhos que não fiz de vestidos por lá também, que é para as pessoas conhecerem meu trabalho”, relata, abrindo a possibilidade de fazer mais peças para vender no futuro: “Vamos ver o que rola. É bom começar pequeno, sentir o que as pessoas acham. Depois vamos ver”.

Ela acredita que a exposição vai fazer sucesso, não apenas pelos seus significados e por sua inspiração, mas pela própria estética. Padrões africanos, turbantes e outros elementos mitológicos negros estão sendo resgatados pelas grandes marcas de vestuário. Novamente, black is beautiful e está na moda. Caetano vê isso com bons olhos. “Está tendo uma aceitação maior desse olhar e acho que é resultado do trabalho de muitas instituições e educadores que estão levando a nós, os próprios negros, a aceitarmos nossa pele, nossos cabelo, nossa cultura, enfim, toda essa nossa identidade”.

Na segunda-feira (14), inclusive, ocorre no Culturama um debate sobre o processo criativo da atriz, assim como uma palestra sobre a história da cultura negra e a cultura Iorubá conduzida pelo psicanalista Patrick de Oliveira. “Ele é muito meu amigo e também é sacerdote de Xangô e vai fazer um bate-papo sobre toda essa pesquisa. Vai ser muito legal e interessante”, convida Caetano. 

Ela conta que não sabe exatamente como nem porque começou a pesquisar sobre o assunto, mas que sempre esteve cercada pela cultura negra popular. “Esta é uma pergunta que eu mesma me faço, mas acho que por ter a pele negra eu já nasci no meio dessa cultura. A família do meu pai é de Minas e sempre fez parte das Congadas, lembro dos dias de festa de Santa Luzia, das tias todas juntas, isso é muito presente na minha memória”. O interesse dela por este assunto começou ainda antes, em 2008, quando ela montou uma peça infantil sobre uma criança aprendendo sobre a África com seu avô. “Eu fui lendo e absorvendo cada vez mais e fui povoando meu olhar, completando-o”.

Ela conta que já estava pensando em expor. “Eu já tinha recebido um convite para expor no restaurante da atriz Cida Mendes, lá em Belo Horizonte. Mas acabou que não rolou porque eu engravidei. Quero fazer essa exposição ainda este ano”.

SERVIÇO

Exposição: ‘Olhar Negro’ – Obras de Renata Caetano

Abertura: 14 de março (Amanhã) – 19h – Debate com Renata Caetano e Patrick de Oliveira

Visitação: De 14 a 31 de março

Segundas a sextas-feiras, das 14h às 22h, e aos sábados das 8h às 12h

Local: Espaço Culturama – AvenidaT-8, nº 324 – Galeria Casablanca  – Setor Bueno, esquina com Avenida Mutirão – Telefone: (62) 3924-1917

Entrada gratuita