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quarta-feira, 28 de agosto de 2024
iniciativa

bookstart crowfunding para livros

Empresa brasileira propõe abordagem diferente para o mercado editorial de novos autores e pretende editar, já neste ano, pelo menos 240 títulos, segundo um dos fundadores da empresa, Bernardo Obadia

Postado em 17 de março de 2016 por Sheyla Sousa
bookstart crowfunding para livros
Empresa brasileira propõe abordagem diferente para o mercado editorial de novos autores e pretende editar

José Abrão

Ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro: a missão de todos os homens. Embora as duas primeiras sejam relativamente fáceis de conquistar, a terceira está se tornando cada vez mais distante. Mesmo em um mer­cado editorial em crescimento como o brasi­leiro, as editoras simplesmente não conseguem atender a demanda de novos autores. São milhares de originais. Além disso, há toda uma questão mercadológica que deve ser levada em consideração. Afinal, vale mais a pena publicar um autor estrangeiro que já é consagrado ou apostar em um ilustre desconhecido brasileiro, que pode sim­plesmente encalhar nas prateleiras? 

Pensando nisso, surgiu a Bookstart, uma nova proposta para o mercado editorial e que fica en­tre a autopublicação, que é cara e de alcance limitado, e a publicação nas grandes editoras, que é muito difícil de acontecer e também de difícil êxito. A ideia deles é a seguinte: crowdfunding. A empresa e o autor montam uma campanha, avaliam valores e prêmios e, no fim, todos os livros acabam vendidos dentro da meta. Não há um número mínimo e o autor pode encomendar mais livros para ele vender em um esquema on demand de impressão. Isso resolve um dos maiores problemas de quem publica por conta própria: muitas vezes as gráficas cobram pela impressão de um número mínimo de volumes.

“Tudo começou quando percebemos uma gran­­de lacuna no mercado editorial”, conta Bernardo Obadia, um dos fundadores da Bookstar, “existe coisa de seis milhões de manuscritos registrados na Biblioteca Nacional. As editoras es­tão sobrecarregadas, não têm como fazer uma curadoria de todo o material que recebem. Nossa solução é terceirizar a escolha para o público e entregar Literatura para o maior número possível de pessoas”. Assim como em outros sites de crowfunding, a pessoa cria um projeto na página do Bookstart que então é avaliado e só depois de aprovado se move para a fase de arrecadação.

A principal diferença da empresa é que, além de ser uma plataforma de financiamento coletivo, ela oferece todos os serviços de uma editora: revisão, diagramação, capa, tudo. “Temos dois modelos. Podemos atuar apenas como intermediários do financiamento ou como editora. Cobramos uma comissão sobre o serviço prestado. Nossa diferença é oferecer esse serviço editorial de qualidade”, disse ele. A empresa começou a funcionar no fim de 2014 e conseguiu bons números no ano passado, lançando 20 novos livros e vendendo 12 mil exemplares. 

Isso porque o Bookstart rapidamente se espalhou de um autor para o outro. “A gente cresce orgânico. De vez em quando a gente aparece na imprensa, mas o boca a boca é coisa de 80% da origem do nosso modelo”, disse. Embora seja um modelo mais compacto, ele não impede que o autor tente a sorte em uma grande livraria. “O legal do financiamento coletivo é que quando o projeto acaba e a meta é atingida, todos os livros estão vendidos. Se o autor vender mais do que o planejado, ele até ganha lucro. Ele pode escolher se quer comprar um excedente de livros e tentar levar aquilo para uma livraria. Mas nós vendemos os ebooks nos sites e dependendo, se for o caso, até nós mesmos tentamos levar para as livrarias. Alguns dos nossos livros chegaram lá”.

Obadia vê o Bookstart como uma forma de chamar a atenção: “Com uma campanha bem sucedida, o próprio crowdfunding serve como marketing para leitores, livrarias e editoras. Essa é uma forma muito boa de publicar e não ficar com livro parado. Às vezes a pessoa até consegue publicar por uma grande editora, mas o livro fica encalhado, sobra muito material”. Ele contou que muitas editorias pequenas, locais, inclusive estão passando a usar a plataforma. “Um dos nossos clientes é uma editora pequena que lançava um livro por ano. Em 2015 ela lançou sete”. Além disso, a empresa repassa um manual para os no­vos autores promoverem seus livros: “Ensinamos  para quem mandar e-mail, o que postar nas redes sociais, en fim, ensinamos o autor a pescar. Muita gente acha que é só publicar o seu livro que ele vai vender, mas não funciona assim”.

Para este ano, Obadia espera publicar 240 títulos e participar de feiras e outros eventos lite­rá­rios. O autor do livro de contos Histórias (Qua­se) Verídicas, Ricardo Mituti relata que ele : desc obriu o trabalho deles pela internet. “Estava em busca de uma editora e não encontrava. Fui atrás de autopublicação e encontrei o Bookstart”. Os prêmios e pacotes foram combinados em conjunto: camisetas, marcadores de página, ebook e até outros mais interessantes. “Fizemos uma videoconferência em que a pessoa me contava uma história e eu a refazia em forma de conto”. Mituti conseguiu lucrar com a empreitada: com meta de R$ 4.400, ele fez mais de R$ 6 mil. “Quando a campanha finaliza, antes de repassar o valor eles perguntam se você quer usar o lucro obtido para imprimir mais exemplares. Durante a campanha o autor pode botar mais dinheiro”. Satisfeito, ele recomenda: “Acredito que é o caminho do autor independente já que as grandes editoras não investem em novos autores por questões estruturais”. 

A jornalista aposentada Ruth Rendeiro fez um caminho parecido, mas diferente. Ela já havia publicado o seu livro anteriormente sozinha e queria uma reimpressão. “Eu vi em um programa de TV e fui atrás do Bookstart. Fui buscar conhecer sobre financiamento coletivo, não sabia nada disso”, lembra. Seu livro Até que o Câncer nos Separe, é um relato real sobre sua experiência com o câncer e sobre seu marido, que sofreu de leucemia e faleceu. “Foi um livro que escrevi pensando nos meus filhos e não queria que as editoras interferissem em nada, por isso banquei tudo. Aí quis uma reimpressão e fui atrás do financiamento coletivo. Foi rápido, prático e econômico. Acho pejorativo quando falam que é uma vaquinha”.

Assim como Mituti, Rendeiro superou a meta de R$ 6 mil que foi estabelecida e ficou muito feliz com o resultado, recomendando-o para novos autores. “A maior dificuldade foi aprender como funciona. As pessoas parecem ter preguiça de pensar como funciona, perguntam quanto custa, onde vende o livro (risos)”. Para experimentar essa nova forma de publicar, basta acessar bookstart.com.br e se informar sobre como elaborar e aprovar o seu projeto. 

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