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sábado, 23 de novembro de 2024
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Flip 2016

Prêmio Nobel Svetlana Aleksiévich é confirmada

Escritora terá uma de suas obras, ‘A Guerra Não
Tem Rosto de Mulher’, lançada durante a festa literária

Postado em 18 de março de 2016 por Sheyla Sousa

Autora de uma “obra polifônica, um monumento do sofrimento e da coragem em nosso tempo”, segundo a Academia Sueca, na qual retrata o desmonte da União Soviética a partir da história oral de seus protagonistas, célebres ou anônimos, a prêmio Nobel de Literatura de 2015 Svetlana Aleksiévich é a primeira autora da confirmada da Flip 2016, que acontece de 29 de junho a 3 de julho, em Paraty (RJ).

Nem sempre se estabelece uma ligação pessoal, afetiva, com os ganhadores do Prêmio No­bel. No caso de Svetlana Aleksiévich, essa ligação é irresistível. Filha de pai bielorrusso e mãe ucraniana, Svetlana nasceu em 1948, na cidade soviética de Stanislav, atual Ivano-Frankivsk, no oeste da Ucrânia. Com a desmobilização do Exército Vermelho, que havia enfrentado as tropas alemãs na região, seu pai teve baixa e a família mu­dou-se para um vilarejo ucraniano onde os pais da autora voltaram a dar aulas. A família passava por grandes dificuldades materiais e havia perdido diversos de seus integrantes no front. Começou a trabalhar no jornal local de Narovl, na atual Bielorrúsia, depois de terminar a escola.

Autora de uma “obra polifônica, um monumento do sofrimento e da coragem em nosso tempo”, na definição da Academia Sueca, seus livros são extensas reportagens, que basicamente transcrevem longos depoimentos em primeira pessoa. Seus recursos literários, que pela primeira vez garantiram o Nobel de Literatura a uma obra jornalística, dão acesso a um universo distante e fechado, que só se conhece de maneira mais fria, pelos livros de história: a vida das pessoas comuns na União Soviética, as conversas sobre política nas cozinhas de Moscou, as consequências de uma catástrofe ambiental, o destino trágico de um povo que per­deu o país em que nasceu. Em entrevista, afirmou que busca por um método literário que a aproxime o máximo da vida real: “A realidade sempre me atraiu como um ímã, me torturava e hipnotizava, e eu queria botar isso no papel”.

Nisso, seus livros lembram muito a leitura de Tolstói: são os mesmos tipos populares, os mesmos mujiques e as mesmas mulheres fortes, mas convertidos em operários, soldados, prisioneiros e burocratas, que dão seus testemunhos pessoais sobre episódios marcantes da história. É o caso de Vozes de Tchernóbil, emocionante relato so­bre o acidente nuclear ocorrido em 1986, cujo lançamento a editora Companhia das Letras pre­para para o mês de abril.

Para Paulo Werneck, curador da Flip, “é um enorme orgulho receber Svetlana Aleksiévich no ano seguinte à sua premiação com o Nobel” – trata-se da primeira vez que a Flip confirma a presença de um autor recém-premiado com a mais importante distinção literária mundial. Durante a festa literária, a autora lançará ainda A Guerra Não Tem Rosto de Mulher, sobre a participação de mais de 500 mil soviéticas na Segunda Guerra Mundial (1939-45). A pesquisa para o livro levou-a a mais de 100 cidades e vilarejos.

Flip

Com curadoria de Paulo Werneck, a 14ª edição da Flip homenageia a poeta Ana Cristina César (1952-1983), expoente da geração da Poesia Marginal, que nos anos 1970 se firmou distribuindo edições caseiras no Rio de Janeiro, ao largo do mercado editorial e sob o peso da ditadura militar, fundando uma vertente marcante na poesia brasileira contemporânea.

A programação da Flip é realizada por meio da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura do Governo Federal, e conta com patrocínio do Itaú e do BNDES, e de outras empresas e organizações em vias de captação. 

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