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sábado, 23 de novembro de 2024
OBRA

Livro em HQ reconta história obscura do rock

Gabriel Thomaz e Daniel Juc falam sobre
história de geração que surgiu com fitas cassete

Postado em 21 de março de 2016 por Sheyla Sousa

Mateus Campos/Agência O Globo

Do ponto de vista da indústria fonográfica e do mainstream, o rock nacional experimentou um silencioso hiato depois da explosão das bandas dos anos 1980. No entanto, barulho era o que não faltava enquanto gravadoras se interessavam por duplas sertanejas e pela lambada no início da década de 1990. Uma geração independente surgiu em diferentes cidades brasileiras, ganhou força e passou a lotar as casas de shows. Muitas dessas bandas jamais chegaram a gravar discos pelas majors: a principal forma de divulgação eram as fitas cassetes, gravadas e distribuídas de maneira quase artesanal.

Com o Little Quail and the Mad Birds, o guitarrista Gabriel Thomaz, hoje no Autoramas, foi testemunha e personagem desta história. Ele decidiu “rebobinar” (como se fazia nas fitinhas, com a ajuda de uma caneta BIC): convidou o cartunista Daniel Juca, editor da Tarja Preta, para recontar, em quadrinhos, este período muito particular da música do país. 

“Num primeiro momento, gravar uma fita demo não tinha status absolutamente nenhum. Era puro amadorismo, falta de opção. No meio dos anos 1990, ter a sua demo já era uma coisa sensacional. As capas passaram a ser bem feitas, as gravações ficaram legais”, diz Gabriel. 

O resultado da parceira foi Magnéticos 90 (Edições Ideal), um divertido relato em primeira pessoa, que será lançado no Rio na próxima terça-feira, às 19h, na livraria Baratos da Ribeiro, em Botafogo. O livro começou a ser idealizado há três anos, quando Gabriel percebeu que era difícil encontrar músicas de grupos que fizeram relativo sucesso na época. Ele decidiu, então, recuperar e digitalizar sua coleção de fitas, que tem cerca de 400 itens. Entre elas, estão gravações de bandas que depois alcançaram êxito comercial, como Graforréia Xilarmônica, Raimundos, Relespública e Planet Hemp. 

Mas também há registros mais obscuras, como as de Mickey Junkies, Beach Lizards, Professor Antena, Acabou La Tequila, Cabeça, Noção De Nada, Boi Mamão, Os Animais dos Espelhos e Muzzarelas. Algumas delas já estão disponíveis no site http://magneticos90.com.br.

As histórias são justamente o ponto mais interessante de Magnéticos 90. Nelas, a versão cartum de Gabriel (com topete rockabilly e tudo) é testemunha de momentos hilários e históricos daquela geração. A capacidade do músico brasiliense de estar em todas fez com que ele fosse apelidado de “figurinha fácil” pelos integrantes da banda carioca Gangrena Gasosa.

Apesar de alguns dos casos contados na HQ também estarem em livros, como Cheguei Bem a Tempo de Ver o Palco Desabar (editora Arquipélago), de Ricardo Alexandre, e Esporro (Tamborete Entertainment), de Leonardo Panço, os desenhos de Juca deixam tudo ainda mais engraçado. 

Embora seja um abrangente levantamento de bandas e cenas de todo o país, o livro serve também como uma pequena biografia de Gabriel. Os quadrinhos mostram a formação do Little Quail, ainda em Brasília, até o surgimento dos Autoramas, já no fim das 224 páginas. “Seria impossível catalogar tudo. A solução foi levar para o lado pessoal”, finaliza.

 

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