Festival de Curitiba está em busca de renovação estética
Evento tem nova curadoria assinada pelos diretores Guilherme Weber e Marcio Abreu
Entre os 32 artistas que assinam as obras da mostra principal do Festival de Curitiba de 2016, 23 deles estão na seleção principal do evento pela primeira vez. Os dados, em si, já indicam a intenção renovadora da mostra. Mas o que confere ainda mais frescor à edição é que boa parte desses trabalhos busca derrubar antigas fronteiras entre o teatro e diferentes formas de arte, ampliando as possibilidades do fazer teatral.
Mais longeva mostra de teatro do País, o festival teve início, ontem (22) com uma atração especial: a cantora Maria Bethânia e o seu recital Bethânia e as Palavras, apresentado para convidados. A partir de hoje (23), começa a mostra principal, com 35 espetáculos, e a mostra paralela, o Fringe, que completa 18 anos e apresentará 340 montagens e dez diferentes sub mostras.
Após a abertura, em seu primeiro dia de programação, o festival mostra sua nova feição através de três obras, Hamlet – Processo de Revelação, do Coletivo Irmãos Guimarães, Batucada, do coreógrafo Marcelo Evelin, e Mordedores, das coreógrafas Marcela Levi e Lucía Russo.
Se a primeira flerta com as artes visuais e a performance, as duas outras indicam uma aproximação do festival com a dança, que terá ainda coreógrafos como Cristian Duarte (The Hot One Hundred Choreographers), André Masseno (O Confete da Índia), o coletivo carioca Miúda (MÓ – Dramaturgias em Dança e Desenhos de Comunidade), Michelle Moura (Fole), Wagner Schwartz (La Bête – O Bicho), e a G2 Cia. de Dança (La Cena). O flerte com a dança, a performance e as artes visuais denotam o olhar “além fronteiras” dos dois novos curadores do evento, os diretores Guilherme Weber e Marcio Abreu.
“Estamos misturando linguagens, friccionando dança, teatro e performance”, diz Abreu.
Weber complementa: “Esses artistas vêm a Curitiba para demolir categorias, apontar novos caminhos e levar os espectadores a reavaliar suas concepções de arte. O trabalho do Evelin, por exemplo, é uma intervenção poético-política com cerca de 40 pessoas (artistas e cidadãos de Curitiba), que investiga o convívio humano, e como o corpo se torna um meio de expressão no espaço público.
Abreu e Weber irão assinar a programação da mostra pelos próximos dois anos. Em 2016, o orçamento integral do evento é de R$ 6 milhões – o mesmo valor de 2015 –, e a mostra principal irá apresentar, entre suas 35 atrações, quatro estreias nacionais e dois trabalhos internacionais, o que indica que o olhar renovador dos curadores busca mais do que ineditismo, e sim oxigenação estética.
“Não pautamos nossas escolhas por estreia ou não estreia, peças novas ou velhas”, diz Abreu. “Acompanhamos o festival desde a sua criação. Temos sido participantes e críticos, e sabendo de sua importância e vontade de renovação nos sentimos implicados nesta tarefa”.
Para 2016, o programa foi alicerçado através de cinco diferentes linhas conceituais: obras “entre-linguagens” (teatro, dança e performance), autobiografia encenada, visões sobre o Brasil, questões de gênero e revisão de clássicos e autores consagrados, entre eles Beckett (Fim de Partida), Dario Fo (Morte Acidental de um Anarquista), Tennessee Williams (Um Bonde Chamado Desejo), Nelson Rodrigues (O Beijo no Asfalto) e, claro, Shakespeare, celebrado pela efeméride de 400 anos de sua morte e representado por Hamlet (Coletivo Irmãos Guimarães), além de Macbeth e Medida por Medida, dirigidas por Ron Daniels. Ainda sob essa linha destaca-se o projeto Ilíadahomero. Com direção de Octávio Camargo, o trabalho será encenado ao longo de todo o festival. (Agência O Globo)