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domingo, 24 de novembro de 2024
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MÚSICA

Primeiras gravações de Jeff Buckley são reunidas em álbum póstumo

Por Sérgio Luz/Agência O Globo No dia em que decidiu dar o fatídico mergulho no Rio Wolf, em Memphis, em maio de 1997, Jeff Buckley tinha 30 anos e apenas um disco lançado, o seminal Grace (1994). O afogamento acidental, que matou uma das maiores promessas da música americana, também ajudou a aumentar o interesse […]

Postado em 30 de março de 2016 por Sheyla Sousa

Por Sérgio Luz/Agência O Globo

No dia em que decidiu dar o fatídico mergulho no Rio Wolf, em Memphis, em maio de 1997, Jeff Buckley tinha 30 anos e apenas um disco lançado, o seminal Grace (1994). O afogamento acidental, que matou uma das maiores promessas da música americana, também ajudou a aumentar o interesse pela curta obra do cantor de extraordinário alcance vocal, atributo herdado do pai, o músico de folk e jazz experimental Tim Buckley, morto de overdose em 1975, aos 28 anos.

Quando vasculhava seus arquivos para preparar a edição de 20 anos de Grace, a gravadora se deparou com fitas das primeiras sessões de Buckley como artista contratado. Gravado durante três dias de fevereiro de 1993, o material gerou as dez faixas do disco You and I, lançado neste mês, com covers de nomes como Led Zeppelin, Sly & The Family Stone e Bob Dylan – deste último, Just Like a Woman ganhou nesta segunda-feira um clipe interativo na web, em que o espectador pode incluir instrumentos no arranjo e definir os rumos da história do casal no vídeo animado. Há também duas canções autorais, uma delas a inédita Dream of you and I. 

“Eu sabia que a Columbia estava muito animada com um garoto que havia assinado, mas conheci o Jeff pessoalmente só no dia em que ele entrou no meu estúdio – conta Steve Addabbo, que comandou as gravações, em entrevista por telefone”.

Segundo o produtor, a ideia era criar uma atmosfera tranquila para as sessões:

“Tentamos fazer algo bastante minimalista para deixá-lo relaxado. Pedimos apenas que ele tocasse o que gostava de cantar. É um procedimento muito comum para novos artistas”. Ele afirma que as qualidades do músico o surpreenderam.

“A primeira coisa que se notava nele, é claro, era sua voz. Não é todo dia que você esbarra num timbre daqueles. Mas o que mais me impressionou foi sua técnica na guitarra. Percebi logo que ele não era um cantor folk que usava o violão só para acompanhá-lo. Ele era um grande guitarrista em diversos estilos. E isso pode ser percebido neste novo álbum. Ele toca Sly & The Family Stone (Everyday People) cheio de groove e Calling You (de Jevetta Steele) com enorme delicadeza”, analisa. 

A vasta gama de influências de Buckley, que já podia ser vista em momentos de Grace, como a versão arrebatadora para Hallellujah, de Leonard Cohen, e o standard Lilac Wine, de James Shelton, é reforçada em You and I a partir de interpretações que vão de I Know It’s Over e The Boy With the Thorn in His Side, dos Smiths, ao blues tradicional Poor Boy Long Way From Home. Para Addabbo, a dificuldade de rotular sua música foi uma das razões que levaram ao fracasso do disco na época de seu lançamento.

Nick Drake

“Havia a onda do grunge quando o Grace saiu, e ele estava tateando muitos gêneros distintos no CD. A boa e a má notícia sobre o Jeff Buckley é que ele era tão versátil que po­dia fazer muitas coisas diferentes. Apesar de não ter sido bem-sucedido quando saiu, com o tempo Grace se tornou um álbum histórico”, afirma. Segundo Addabbo, a trajetória de Buckley tem paralelos com a de Nick Drake, músico folk britânico cuja morte, por excesso de antidepressivos, em 1974, aos 26 anos, segue um mistério até hoje:

“É interessante a comparação entre os dois. Parece que ambos visitavam bastante um certo lado negro. São músicos com uma qualidade tão única que seguem encantando.

Em 2012, Addabbo recebeu uma ligação de uma amiga, produtora de cinema. No telefonema, ela perguntou se seu estúdio estaria disponível para a gravação de cenas de um filme. Para surpresa do produtor, o longa, Greetings From Tim Buckley, dirigido por Daniel Algrant e ainda inédito no Brasil, era so­bre a música de Jeff e seu pai.

“Penn Badgley, o protagonista, era um cantor muito bom. Foi bastante esquisito ver um ator emulando o Jeff depois de tantos anos. Quando terminamos as sessões, eu toquei umas duas canções das fitas que geraram You and I. Todos se espantaram. Parecia que o fantasma do Jeff havia invadido a sala”, lembra.

Após duas décadas, Addabbo diz que já tinha perdido as esperanças de ver aquelas gravações ganharem o mundo: 

“Durante 23 anos, eu me perguntei por qual motivo eles não haviam lançado nada daquelas sessões. Há muitas horas de música, pelo menos outras dez faixas ficaram de fora deste disco. Dá para fazer um volume II. Ele era um artista único, como a Joni Mitchell ou o Bob Dylan. Sempre imagino o que ele teria feito. 

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