Morre o escritor húngaro Imre Kertész aos 86 anos
O escritor Imre Kertész morreu ontem (31), em Budapeste (Hungria), depois de lutar por anos contra uma doença crônica – segundo sua editora. Sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz, na Segunda Guerra Mundial, e do totalitarismo em seu país durante a Guerra Fria, o húngaro Imre Kertész criou a partir disso uma obra que […]
O escritor Imre Kertész morreu ontem (31), em Budapeste (Hungria), depois de lutar por anos contra uma doença crônica – segundo sua editora. Sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz, na Segunda Guerra Mundial, e do totalitarismo em seu país durante a Guerra Fria, o húngaro Imre Kertész criou a partir disso uma obra que “preserva a experiência frágil do indivíduo contra a arbitrariedade bárbara da História”, como afirmou a Academia Sueca, ao conceder a ele o Prêmio Nobel de Literatura, em 2002.
Seu livro mais conhecido é Sem Destino, escrito ao longo de 13 anos e publicado apenas em 1975 – foi lançado no Brasil pela editora Planeta, em 2003. O romance descreve a experiência de um rapaz de 14 anos nos campos de concentração de Auschwitz-Birkenau, Buchenwald e Zeitz.
Nascido em Budapeste, em 1929, ele tinha apenas 14 anos quando foi deportado para o campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, em 1944. Depois, foi transferido para Buchenwald, de onde foi libertado em 1945. Depois de voltar a Budapeste, ele passou a trabalhar como jornalista e tradutor. Considerado suspeito pelas autoridades comunistas que governaram a Hungria após a Segunda Guerra, ele traduzia para o húngaro obras de Friedrich Nietzsche, Sigmund Freud, Ludwig Wittgenstein e Elias Canetti num pequeno apartamento com vista para o rio Danúbio.
Quando foi publicado, Sem Destino foi ignorado tanto por autoridades comunistas quanto pelo público num país que ainda não refletia sobre o Holocausto, apesar do assassinato de 500 mil judeus húngaros na guerra.
Nos círculos literários, Kertész era considerado um homem de olhar crítico e duro. Num gesto típico, recusou-se a apoiar a construção de uma estátua sua junto a outros ganhadores húngaros do Nobel em várias áreas (ele é ,até hoje, o único escritor de seu país a receber o prêmio).
Entre seus livros importantes estão O Fiasco (1988) e Kaddish Por Uma Criança Não Nascida (1990), que formam uma trilogia com Sem Destino. Ambos também saíram no Brasil, pelas editoras Planeta e Imago, respectivamente. No ensaio A língua Exilada (Companhia das Letras), ele reflete sobre a escrita e sobre valores éticos e morais da sociedade.
A editora húngara Magveto informou que, em seus últimos meses de vida, mesmo doente, o autor ajudou a preparar uma seleção de seus diários escritos entre 1991 e 2001, publicada neste mês na Hungria. (Agência O Globo)