Associação de pais realiza cadastro de autistas em Goiânia
Larissa Artiaga/ESPECIAL PARA O HOJE A Associação de Pais e Amigos do Autista de Goiânia (AMA) está desenvolvendo um cadastro inédito que visa a identificar em números quais as reais necessidades dos autistas residentes na Capital e na Região Metropolitana. Segundo informações publicadas na página oficial da AMA na internet, atualmente a população de pessoas […]
Larissa Artiaga/ESPECIAL PARA O HOJE
A Associação de Pais e Amigos do Autista de Goiânia (AMA) está desenvolvendo um cadastro inédito que visa a identificar em números quais as reais necessidades dos autistas residentes na Capital e na Região Metropolitana. Segundo informações publicadas na página oficial da AMA na internet, atualmente a população de pessoas com autismo ultrapassa a marca de dois milhões de indivíduos no Brasil. Entretanto, no que diz respeito à população goianiense de autistas, os dados são escassos.
Por este motivo, a associação iniciou, por conta própria, uma campanha de cadastramento com o objetivo de contribuir diretamente para a elaboração de políticas públicas que considerem as especificidades dos indivíduos acometidos pela síndrome. O cadastro pode ser efetuado de maneira simples, via internet, por meio da página amigos do autista.
Após acessar o site, os interessados passam pelo processo de preenchimento de dados que incluem, por exemplo, os nomes da pessoa autista e dos responsáveis, além de endereço e telefone para contato. De acordo com a AMA, para além de um ato político, o cadastro assegura a união entre pais de pessoas que possuem a síndrome.
Sintomas
Segundo o Ministério da Saúde (MS), o autismo, ou transtorno do espectro autista (TEA), é um transtorno global do desenvolvimento (TGD), causado por defeitos em partes do cérebro, particularmente no cerebelo. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, um transtorno mental não pode ser confundido com uma doença, já que a doença, no sentido literal do termo, pode ser causada por fatores externos, como infecções – ou ainda disfunções internas –, enquanto que o termo ‘transtorno’ é utilizado para designar quaisquer anormalidades de ordem psíquica ou mental.
Ainda de acordo com o MS, o quadro comportamental do transtorno pode incluir sintomas, como isolamento, insistência em movimentos repetitivos, adoção de rituais e rotinas elaboradas, além de ansiedade excessiva. Por ser uma síndrome complexa, ainda não há um consenso na medicina acerca das causas do autismo. Todavia algumas técnicas, como a musicoterapia e a psicoterapia, auxiliam na melhora da interação social do paciente e podem ser utilizadas como parte do tratamento.
Mãe e ativista
Dentre as várias histórias emocionantes que envolvem familiares de autistas, uma delas se destaca. Silvana Modesto, 52, é mãe e, há mais de 20 anos, luta pelos direitos dos autistas. Ela revela que 24 anos atrás, quando do nascimento de seu filho, Victor Hugo, as informações sobre o transtorno eram restritas. “Meu filho teve um diagnóstico tardio, aos 8 anos, e na época ninguém sabia o que era autismo em Goiânia. Me lembro de ter tido desconfianças acerca da avaliação médica dele, e levantei essas suspeitas aos pediatras, que negaram a hipótese de autismo. Tive que ir a São Paulo, onde o Victor recebeu o diagnóstico correto ,” aponta.
Com o passar do tempo, Silvana conheceu outros pais e mães de autistas, pessoas a quem deu as mãos e buscou engajamento na causa. Em meados do ano 2000, ela ingressou na AMA, onde participa ativamente até hoje das atividades. A ex-presidente da AMA Leilamar Silva relembra as conquistas da ativista na associação. “Ela sempre foi muito atuante e, com a contribuição dela, nós conseguimos o título de utilidade pública e auxiliamos na formação de vários profissionais com cursos direcionados à compreensão da síndrome no tratamento dos pacientes ”, comenta.
Ao ser perguntada a respeito de sua experiência pessoal enquanto mãe, Silvana classifica a vivência como positiva. “Eu aprendi muito e continuo aprendendo. Eu me envolvo com pessoas maravilhosas e recebo muita energia boa. Ser mãe de um autista vale muito a pena e, apesar dos desafios, eu acredito em uma sociedade mais tolerante no futuro. Por isso eu espero que, um dia, o autismo seja tão visível que acabe por se tornar invisível”.
A ativista também faz um pedido a pais cujo filho ou filha tenha recebido recentemente o diagnóstico de autismo. “O momento do diagnóstico realmente é muito penoso, existe certa frustração. Mas peço que eles pensem em seus filhos ou filhas, que esses pais procurem orientação, pois é muito importante entender como funciona o cérebro do autista para saber como agir em determinadas situações”.
Ciranda Azul
O apoio familiar é fundamental para que os autistas se sintam amados, respeitados e inseridos no meio em que vivem. Contudo nem sempre eles se sentem seguros, em ambientes fechados, barulhentos e cheios, o que restringe, de certa forma, as opções de lazer em família, já que shoppings, shows e teatros, por exemplo, nem sempre estão preparados para atender essa demanda.
Pensando nisso, um grupo de pais e mães residentes em Goiânia decidiu transformar o mês de conscientização do autismo em oportunidades para reunir pessoas que têm a síndrome e seus familiares em eventos especialmente planejados para atender as necessidades dos autistas. Uma das ações previstas no calendário é o encontro Ciranda Azul, que será realizado no próximo domingo (10), no Parque Flamboyant.
Silvana Modesto, uma das organizadoras do evento, explica que a atividade permitirá a interação dos autistas com a comunidade de forma geral. “Esperamos em torno de 300 pessoas, e todos estão convidados. Para quebrar o estigma de que o autista só vive isolado, vamos oferecer durante o encontro um circuito de psicomotricidade, respeitando as vontades e limitações de cada um. Também serão distribuídos lanches e teremos a presença de palhaços para animar a festa”.
Lei municipal
O prefeito Paulo Garcia sancionou, em 22 de abril de 2013, a lei número 9.253, que institui o dia 2 de abril como o Dia Municipal da Conscientização do Autismo, de acordo com informações publicadas no Diário Oficial da Prefeitura de Goiânia. A data é a mesma em que se comemora o Dia Mundial, decretado pela Organização das Nações Unidas (ONU), desde 2008.
O projeto de autoria do vereador Gian Said, médico, prevê a colocação de lâmpadas para iluminar na cor azul os principais monumentos da cidade como prova de engajamento dos goianienses na causa. Na lista dos pontos iluminados, todos os anos, estão os viadutos da Praça do Ratinho e da Avenida T-63.
Segundo informações publicadas no site oficial da Câmara Municipal de Goiânia, o vereador explica que a lei visa a chamar a atenção para o processo de inclusão social dos autistas. “No Brasil, existem dois milhões de autistas, mais da metade ainda sem diagnóstico. As estatísticas são alarmantes e, por isso, existe a necessidade de uma data que leve os goianienses a refletir sobre o transtorno ”, afirma.