OUC tem debates quentes e população desinformada
Proposta de intervenção urbana na região do Jardim Botânico divide opiniões
Deivid Souza
As discussões sobre a
implantação da Operação Urbana Consorciada (OUC) na região do Jardim Botânico
tem acontecido com ânimos exaltados. Enquanto isso, boa parte dos moradores e
comerciantes da região diz não saber do projeto. A OUC é uma iniciativa que
consiste em promover melhorias na infraestrutura da região de implantação pelo
poder público com financiamento privado. Em contra-partida, os investidores podem
adquirir os Certificados Potenciais Adicionais de Construção (Cepacs),
negociados na bolsa de valores, para aumentar a capacidade de construção na
região da OUC.
A reportagem de O HOJE
acompanhou durante toda a semana as discussões sobre o projeto e também ouviu
moradores e comerciantes da região. A maioria desconhece a existência do
projeto, e entre os que sabem da proposta, muitos dizem ter apenas uma “noção” do
que está em questão.
O motorista
carreteiro, Pedro Vicente, 53, reside há 40 anos no Setor Pedro Ludovico. Ele
conta que não tem muitas informações sobre a OUC e, embora acredite que as
mudanças possam trazer prejuízos para o trânsito no setor com maior número de moradores,
avalia que as mudanças são “inevitáveis”. “Nós temos que pensar pelo futuro, precisa
mudar o bairro”, considera.
O comerciante Vital Pereira
dos Santos, 56, reside no Setor Pedro desde os cinco anos de idade. “Se eu for
pensar pelo geral, construir prédios vai melhorar o comércio, mas no final é
prejudicial para os moradores. Aqui era mais arborizado e com os prédios que
foram construídos aumentou a temperatura do setor”, acredita. O comerciante, Raimundo
da Paz, 51, pensa que as mudanças podem impulsionar o comércio. “Para nós que
somos comerciantes isso aí é ótimo”, avalia.
Calor
Os participantes das
duas primeiras audiências públicas, realizadas esta semana para tratar do tema,
revelaram que as discussões foram bastante acaloradas. “Nós ainda não
conseguimos ouvir os moradores. A (primeira) audiência foi pautada por discussões
políticas que não ajudaram muito. Nós não conseguimos chegar onde queríamos,
que era conversar, mostrar sugestões”, reclama o representante do Instituto
Cidades, que atua no processo, Marcel Canedo.
A vice-presidente do
Conselho de Arquitetura e Urbanismo em Goiás, Maria Ester de Souza, criticou a
divulgação e o horário das audiências públicas, que para ela deveriam acontecer
“aos finais de semana”. No entanto, a especialista ressalta que o principal
ponto a ser levado em conta é a opinião de quem reside na região da OUC.
“Melhorar é diferente de modificar. A OUC é uma intervenção complexa, muda os
usos dos espaços, e quem diz se é melhor são as pessoas”, frisou.
Foto: reprodução