Vem pra rua!
Marca goiana de roupas masculinas aposta na insatisfação com atual momento político e tem como inspiração a Operação Lava Jato
JÚNIOR BUENO
A crise não é desculpa para o jovem empresário Paulo Sérgio deixar de empreender. Formado em Engenharia, ele alimentou, durante um tempo o sonho de criar uma marca de roupas que tivesse a qualidade que ele sempre procurava no mercado e tinha dificuldades de encontrar. Em 2014, ele lançou a Ostrich, com calças, camisas, cuecas e camisetas. “O que me levou a criar a Ostrich foi a falta de marcas masculinas de bom gosto,” diz ele.
A marca, estabelecida em um ateliê localizado no Setor Sul, se encontra em fase de expansão, tendo chegado a 12 estados através de revendedores. “Nós temos pouco mix e a marca ainda não possui tanta capilaridade. Ainda não estamos focados em mídia de massa, o que a gente quer é um público que goste da gente, queremos tirar sorrisos através de campanhas bem humoradas.
E a última coleção da marca tem um pé no bom humor e outro na polêmica. Batizado de Aletheia, o catálogo da coleção é inspirado na Operação Lava Jato. Com imagens que aludem à operação da Polícia Federal que investiga um grande esquema de lavagem e desvio de dinheiro envolvendo a Petrobras, poderosas empreiteiras do país e políticos.
E as referências são as mais variadas: em uma foto, o modelo aparece algemado. Em outra, com uma máscara do executivo da Petrobras Nestor Cerveró. O modelo aparece também com a cueca recheada de dólares e pondo fogo na Constituição Federal. Há, ainda, camisetas com trocadilhos com as expressões “lavajato” e “mensalão”. O nome da coleção é uma alusão à fase da Lava Jato em que o principal investigado foi o ex-presidente Lula.
Trata-se, claramente, de uma provocação de um dos lados da polarizada questão política brasileira. O protesto, que é de fato legítimo, teria ainda mais validade se estendesse a outros políticos também envolvidos no escândalo, como o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, por exemplo. Segundo Paulo Sérgio, o objetivo da coleção é divulgar a marca através de uma reflexão da realidade do País. “Eu quero deixar uma piada, um protesto, mas sem perder o foco, como outras marcas fizeram e acabaram se tornando agressivas. A insatisfação é geral,” diz ele.
Ele se refere a duas marcas brasileiras específicas que lançaram peças feitas especialmente para quem vai às ruas protestar contra o governo. A Sérgio K lançou, no começo de 2015, a famigerada camiseta “A culpa não é minha – eu votei no Aécio,” e em seguida uma versão mais light, para o manifestante apartidário, como “In Moro we trust,” em louvação ao juiz que está à frente das investigações. Em inglês mesmo, que é pra não deixar dúvidas do quanto a elite está insatisfeita. “Mauricinho também pode protestar,” já disse o designer Sérgio K.
A outra é a grife carioca Reserva, que tem entre seus sócios o apresentador Luciano Huck, que também está capitalizando em cima dos protestos, com camisetas estampadas com frases como “Desculpa os transtornos, estamos mudando o Brasil” e a famosa “Morobloco” utilizada por artistas da Globo, como Susana Vieira e Márcio Garcia em um protestos desses verde-e-amarelo. Mas a cabeça pensante da Ostrich prefere não ir tão fundo. A situação política serve mais como uma inspiração para roupas do dia-a-dia do que exatamente uma bandeira. Mesmo as estampas das camisetas estão mais para o humor jovial da Cavalera que para a ranzinzice precoce de Sérgio K.
E, apesar de ainda estar no começo, Paulo Sérgio tem muito a comemorar. Vários famosos já vestiram a marca, como Felipe Massa, o jogador Roberto Carlos e Israel Novaes. “A gente nunca passou um mês sem estar sem crescer.” Por “a gente” ele quer dizer ele e os dois sócios que investiram na marca. E ele aposta alto: “O nosso projeto em dois anos é estar em todos os estados e em lojas do varejo.” E no longo prazo, ele pretende investir em moda feminina. Pela sua fé no futuro, é possível prever que a marca e o Brasil vão ter um futuro próspero. O gigante acordou.