Aniela Jordan, a carioca apaixononada pelo Méier
Por Ludmilla de Lima/Agência O Globo Na adolescência, Aniela Jordan saía de casa, na Avenida Vieira Souto, descalça e com vestidinho da feira hippie de Ipanema. Eram os anos de 1970, e o comportamento “riponga” da jovem deixava a mãe, a socialite Josefina Jordan – autora do guia Addresses Rio, que indicava aos endinheirados os […]
Por Ludmilla de Lima/Agência O Globo
Na adolescência, Aniela Jordan saía de casa, na Avenida Vieira Souto, descalça e com vestidinho da feira hippie de Ipanema. Eram os anos de 1970, e o comportamento “riponga” da jovem deixava a mãe, a socialite Josefina Jordan – autora do guia Addresses Rio, que indicava aos endinheirados os melhores serviços na cidade (onde consertar casacos de pele, por exemplo) –, de cabelo em pé. Para piorar, a adolescente rebelde, que cresceu num apartamento de dois mil metros quadrados nos últimos dois andares do Edifício Chopin (construído na Avenida Atlântica por seu pai, Spitzman Jordan), seguiu os passos da irmã, a bailarina e coreógrafa Dalal Achcar, e acabou nos palcos. No começo, ela também dançava.
“Aniela foi mais rebelde que eu”, conta Dalal. “Minha mãe não concebia criar as filhas para os palcos. Éramos criadas para casar, ter família. Eu tive que romper isso”.
Em 2012, ela assunmiu um desafio: a bagagem acumulada fez com que Aniela assumisse a gestão (por meio da empresa Produzir) do Imperator, rebatizado de Centro Cultural João Nogueira. A filha de Josefina Jordan chegou ao Méier com carta branca da prefeitura. “O Imperator não existia (estava fechado há 16 anos). Disseram para mim: ‘Faça o que quiser’. Quando abrimos para o público, deu aquela insegurança. Era um filho que eu colocava no mundo”, conta a produtora, que lembra do frio na barriga que sentiu ao ver, no dia da reinauguração, o público lotar o espaço, considerado hoje o coração do bairro.
O Imperator foi reaberto com uma exposição sobre João Nogueira e um show de Diogo Nogueira, filho do sambista. Nesses quatro anos, subiram ao palco nomes como Stevie Wonder, Gilberto Gil, Fernanda Montenegro e Marco Nanini.
O centro cultural tem quatro andares, um teatro com 720 lugares, cafeteria, espaço para exposições, três salas de cinema (da rede Kinoplex) e um terraço adotado pela população como praça. Em breve, será aberta uma área com bar para pequenas apresentações e um cineclube. Desde a reabertura, três milhões de visitantes já passaram por ali. “O Imperator tem um dos melhores palcos do Rio e uma arquibancada retrátil: já fiz shows com público em pé e com arquibancada. Assisti à apresentação de Stevie Wonder sem essa estrutura e foi alucinante”, comenta Diogo Nogueira. Aniela afirma que o público do Méier é o seu xodó: “Aqui era uma região que não tinha nada, nem cinema. Por isso o público é tão diferente. De fato, ele trata a casa como se fosse dele. Você vê que não há um risco na parede, um saquinho de pipoca no chão”, diz.