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segunda-feira, 2 de setembro de 2024
Política

Emissário de Temer teria recebido R$ 1 mi da Engevix

O nome do vice-presidente foi citado em delação premiada em negociação com a força-tarefa da Lava Jato de um dos donos da Engevix, como forma de agradecimento por participar de licitação na Eletronuclear

Postado em 25 de abril de 2016 por Sheyla Sousa
Emissário de Temer teria recebido R$ 1 mi da Engevix
O nome do vice-presidente foi citado em delação premiada em negociação com a força-tarefa da Lava Jato de um dos donos da Engevix

Cumprindo prisão domiciliar, o engenheiro José Antunes Sobrinho, um dos donos da Engevix, disse em proposta de delação premiada em negociação com a força tarefa da Lava-Jato ter pago R$ 1 milhão a um emissário do vice-presidente Michel Temer, como forma de agradecimento por participar de licitação de R$ 162 milhões da Eletronuclear para operar na usina de Angra 3. Ele cita na delação o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o tesoureiro da campanha de Dilma em 2014, Edinho Silva, além da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra. As informações são da revista “Época”.

A licitação da Eletronuclear foi vencida em 2012 por uma pequena empresa de arquitetura de São Paulo, a Argeplan, que se associou à Engevix para tocar a obra. Sobrinho relatou ter se encontrado duas vezes com Temer e o dono da Argeplan, João Baptista Lima, no escritório político do vice-presidente em São Paulo para tratar do contrato. Em seguida, dizendo-se emissário de Temer, Lima teria cobrado a contribuição de R$ 1 milhão, que seria aplicada na campanha pela presidência, em 2014.

Segundo o relato do dono da Engevix, obtido pela “Época”, o valor teria sido pago por meio de uma fornecedora da construtora e nunca foi declarado à Justiça Eleitoral. Depois que o presidente da Eletronuclear nos governos Lula e Dilma, o almirante Othon Pinheiro, foi preso na Lava-Jato, Lima teria procurado o dono da Engevix para tentar devolver-lhe o dinheiro, mas ele não aceitou.

À revista, Temer admitiu o encontro com Lima e o dono da Engevix, mas negou ter tratado de contratos da Eletronuclear. Em nota divulgada nesta sexta-feira, a assessoria do vice-presidente disse “repudiar com veemência as informações publicadas” pela revista. “Ele não intermediou interesses empresariais escusos em qualquer órgão público nacional. Não cobrou ou delegou poderes a quem quer que seja para arrecadar recursos eleitorais irregulares para sua campanha à vice-presidente em 2014 ou 2010”, diz a nota. Hoje, Lima não foi localizado pelo GLOBO.

Sobrinho foi preso pela Lava-Jato em setembro passado e desde dezembro cumpre prisão domiciliar. Segundo o engenheiro, o consórcio Inframérica, do qual participa a Engevix, enfrentava problemas financeiros devido ao atraso na liberação de um empréstimo pela Caixa quando foi procurado por dois lobistas ligados a Ciro Nogueira (PP-PI) e Calheiros (PMDB-AL). Segundo a “Época”, Sobrinho pagou aos lobistas R$ 2 milhões, em parcelas de R$ 400 mil, para que o problema na Caixa fosse resolvido. À revista, Renan disse não ter praticado qualquer impropriedade.

Sobre Edinho Silva, Sobrinho disse ter sido procurado por ele, cobrando R$ 5 milhões para a campanha. Mas a empresa decidiu colaborar com apenas R$ 1 milhão. Edinho negou o tom de cobrança e disse que todas as doações foram realizadas “por livre e espontânea vontade”. Na tentativa de delação, Sobrinho afirmou, ainda, ter revertido condenação no TCU depois de pagar R$ 2 milhões à empresa de consultoria de Erenice Guerra, ex-ministra da Casa Civil. Segundo o empresário, ela teria usado apenas sua “influência” para reverter a decisão, que previa pagamento de multa de R$ 10 milhões. A ex-ministra não quis comentar. (AG)