Flanelinha é legal em Goiânia
Há quase um ano, um projeto de lei vem para regulamentar a função, assim só pode atuar quem estiver regulamentado e identificado com crachá e colete
Elder Dorneles
Quem nunca teve dor de cabeça com um flanelinha? Nisso vem o questionamento: o serviço é legal? Há quase um ano, uma lei entrou em vigor amparando essa prática. O objetivo é regulamentar a função sob autorização da prefeitura. A norma veio para combater os roubos de veículos. Só pode atuar quem estiver regulamentado e identificado com crachá e colete.
Segundo a assessoria do vereador Anselmo Pereira (PSDB), autor do projeto, o indivíduo que atuar sem registro, geralmente, é um ladrão querendo arrombar ou é quem informa os outros ladrões. Para ser legal, a pessoa deve ir à prefeitura, pagar uma taxa e fazer o cadastro.
Apesar de estar em vigor, o diretor de fiscalização da Secretaria de Planejamento Urbano e Habitação (Seplanh), Paulo Rezende, desconhece do regulamento do serviço. Para ele, o problema do exercício é a cobrança indevida em lugar coletivo. “O cidadão tem o direito de ir e vir. Sendo uma atividade econômica ela deve ter a autorização” explica.
Existem dois momentos na fiscalização. O primeiro é o recolhimento dos objetos que demarcam a área pública. O segundo é quando o flanelinha é identificado. O mesmo é autuado por exercício de atividade econômica sem autorização e por fim é condenado a pagar multa de R$300 a R$500 reais.
A fiscalização na maioria das vezes é feita a noite, quando o volume de guardadores é maior, diferente do dia, em que a atividade é menor. “O problema da fiscalização noturna é que o flanelinha é difícil de distinguir, eles são mais sutis”.
Única opção
Cristiano Costa Moura tem 41 anos e desde os 13 trabalha como flanelinha. A condição da família onde foi criado o levou a começar a trabalhar muito novo, assim acabou ficando sem estudos. Ele trabalha por nove horas semanalmente, cuidando ou lavando carros em praças. É dessa forma que ele tira o sustento para manter a esposa e os dois filhos. “O dinheiro não dá para muita coisa, o gasto maior é para comer, né? Eu queria dar uma condição melhor para os meus meninos,” relata. Mas recebo um pouco mais de um mil reais.
Moura fala que a fiscalização é dura e que já houve casos que seus materiais foram apreendidos. “Eles vêm aqui e manda a gente guardar tudo. Da última vez levaram alguns baldes e nosso hidrômetro”. Ele menciona que os fiscais o acusam de usar produtos químicos que são nocivos, mas ele conta que só utiliza detergente. Em relação ao valor cobrado, Cristiano diz pede só por lavar o carro, para olhar a pessoa paga se quiser. Ele ainda completa que tem alguns clientes os ajudam com quantias maiores devido a confiança que eles tem no serviço.
“Não protegem”
A estudante, Rosane Mariano Neres Cardoso, 38, estava em um banco próximo à Praça Tamandaré. Ao voltar para o carro um flanelinha segurou a porta e a cobrou. “Eu fiquei muito assustada, perguntou se eu não iria dar dinheiro, pois tinha olhado o carro. Eu fui ver se tinha algum trocado, nisso ele abaixou e ficou com a cabeça dentro do carro esperando”, conta. Rosane menciona que já cobraram R$ 40 para poder estacionar. Além de considerar que seu veículo não é protegido, é um absurdo essa ação em virtude do local ser coletivo.
O designer gráfico, Renato Ferreira Pedroso, 24, conta que nunca teve boas experiências com os guardadores de carros. Indo para uma festa de formatura, quando foi estacionar o carro, o flanelinha lhe cobrou R$ 20. Pedroso ficou revoltado devido ao preço e o lugar ser público. “Nessa situação não tem como não pagar, eu nunca passei pelo transtorno de algum flanelinha arranhar meu carro, mas não dou minha cara à tapa”, relata.
O designer tentou conversar, disse que o valor é absurdo e que o lugar é via pública, porém, o guardador falou que não teria como, pois a polícia os ajudava na organização. Para Pedroso, os flanelinhas não cuidam do carro.