De coração aberto e cheia de vida
No elenco de ‘Haja Coração’, Claudia Jimenez fala de superação e diz que só teve um amor
Claudia Jimenez não quer mais falar de doença. A atriz de 57 anos, que ostenta cinco pontes de safena e um marca-passo, quer falar de trabalho. Da volta à TV após dois anos – o último papel foi na série Sexo e as Negas, de 2014; do retorno às novelas em Haja Coração depois de Além do Horizonte, de 2013. Isso é o que tem feito o seu coração bater mais forte. “Se você fica falando toda hora de doença, você vira isso, sabe?”.
Seus problemas cardíacos se tornaram notícia junto de seus personagens. De Além do Horizonte, precisou se afastar para a colocação do marca-passo e sessões de fisioterapia devido a uma pericardite (inflamação na membrana do coração). Em Sexo e as Negas, uma sobrinha atuou como dublê. Agora, está por conta própria, “100% para bombar” na próxima trama das 19h, com estreia em maio. Depois disso, quer encenar duas peças, ainda neste ano.
“Se eu não fosse otimista, não estaria aqui, diante de tudo o que passei. A barra pesou para o meu lado. Tem que ter humor, otimismo, se não você não passa por isso. Eu nunca pensei que não voltaria, o grande segredo é jogar o pensamento pra frente. Tenho muita fé”, avalia. “Sabemos quando estamos no piloto automático ou sem um pedaço. Era o meu caso antes. Não fiz o Sai de Baixo, em 2012, pois não estava inteira. Estava louca para voltar. Estou curada.
Em casa, conta, andava se sentindo improdutiva. Chegou a postar nas redes sociais que estava sem graça de receber salário sem trabalhar: “A Globo sempre me ajudou. Fiquei sem graça por precisar me afastar tantas vezes, embora nunca tenha sido obrigada a nada. Trabalhar era uma exigência minha”.
Claudia é funcionária da emissora há 37 anos, desde que foi descoberta por Mauricio Sherman nos palcos, em Ópera do Malandro. Ficou marcada por papéis cômicos, como a Lurdeca, de Eu Prometo (1983) e a Edileuza, de Sai de Baixo (1996). Na nova novela, fará mais um, Lucrécia, uma mulher falida que mora de favor na casa da irmã, Teodora Abdala (Grace Gianoukas).
“Não me incomoda de jeito nenhum só fazer comédia. Acho que será difícil me aceitarem num personagem dramático, a não ser que seja algo extremamente elaborado, feito para mim. Quando sabem que vou fazer novela, já perguntam se o papel é cômico. As pessoas têm medo que eu faça algo diferente. Eu sou comediante”, reitera.
Ela diz acreditar que as pessoas nascem engraçadas ou não. Ninguém aprende a fazer comédia, defende a atriz, que se acha “naturalmente engraçada”. Na adolescência, lembra, o dom era usado como um escudo para se aproximar dos outros. Uma tentativa de enganar a baixa autoestima.
“Eu não era a garota que os meninos namoravam, era a que queriam na festa por ser engraçada. Chegou a um ponto em que não quis mais ser o ‘Tivoli Park’ dos outros. Hoje, já não sinto mais essa obrigação, graças à análise”.
Claudia começou a terapia aos 15 anos e pensou até em estudar psicologia. Tem o alemão Sigmund Freud como ídolo. Já fez análise freudiana, junguiana (inspirada no psiquiatra suíço Carl Jung), corporal. Já teve alta. Mas ainda tem baixas. Nessas horas, liga para o psicanalista Arnaldo Goldenberg, com quem ficou por dez anos.
“Tive alta e quis voltar. E é assim, vou quando preciso, quando quero. E encontro a Globo inteira na sala de espera (risos). Acredito muito na terapia, acho que muita gente tem prejuízos por não fazer análise”, comenta.
A maturidade, é claro, ajuda. Na época do Sai de Baixo, saiu por desavenças com a equipe. Era ingênua. Jura que já aprendeu a se posicionar. “Se havia alguma insatisfação, eu era aquela pessoa que ia na frente com a bandeira. E quem vai na frente acha primeiro as borboletas, mas também as cobras. Hoje, faria diferente. Na novela mesmo, se tenho algum problema, vou imediatamente ao diretor para evitar o ruído”.
Por conta desse capítulo, ficou tachada como difícil. Rótulo que incomodou, mas que rechaça: “Não dei problema em nenhum outro trabalho. Todo mundo viu que a maçã podre não era eu”. Mas não há mágoas no meio artístico. Sente-se acarinhada, querida. É amiga de Carolina Dieckmann, Paulo Vilhena. Foi com eles, aliás, que voltou para a adolescência há alguns anos: “Costumo dizer que parecia uma entidade que baixou em mim e foi embora. Por três anos, saía todos os dias. Comecei a fumar, beber, o que nunca tinha feito. Andei namorando uns garotos, quer dizer, namorando não… (risos). Precisava viver o que não tinha vivido. Foi bom, e acabou. Cresci.
No momento, diz estar bem consigo mesma. Solteira, feliz, “sem saco para explicar quem é”. Só quer estar perto de quem lhe faz bem. “Estou na menopausa, a libido diminuiu. Tenho tudo o que quero de uma relação com a Stella (Torreão, com quem foi casada e é sócia na academia de ginástica Espaço Stella Torreão há 16 anos), menos a parte sexual. Então, só estarei com alguém se ‘pá’, bater muito”, reflete ela, que descarta a maternidade. “Pensei muito, mas perdi o bonde. A vida me encaminhou para o outro lado”.
Stella, ressalta, é sua “alma gêmea”, seu único amor. Elas cultivam uma relação de irmãs. “Meus outros parceiros, homens e mulheres, só foram até a paixão. A Stella e a minha família são o que conheço de amor”.
Quanto à baixa autoestima, já superou. Claudia afirma estar de bem com o espelho e ter pavor de cirurgia plástica. Não quer pisar num hospital. Prefere se cuidar com cremes.
“Não tenho coragem. As ruguinhas são bem-vindas. Meu corpo foi muito maltratado. Para quem passou o que eu passei, estar trabalhando, indo e vindo, decorando texto, já é um milagre”, finaliza. (Agência O Globo)