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segunda-feira, 25 de novembro de 2024
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Música

Rap em Goiânia: uma nova perspectiva

Após o trabalho dos pioneiros, foi possível abrir caminho para toda uma nova geração independente de produtores e músicos

Postado em 3 de maio de 2016 por Sheyla Sousa
Rap em Goiânia:  uma nova perspectiva
Após o trabalho dos pioneiros

Depois da decadência dos antigos sound-systems, Fox passou a atuar como produtor. Ele é o cara por trás de algumas das primeiras gravações de rap em Goi­ás, fazendo coletâneas de artistas locais, como Anhanguera Rap, Porão do Rap e outros. Vendo o movimento hoje, in­clu­sive nas igrejas, ele se diz muito feliz: “A gente vê o tamanho da evolução dessa galera que um dia acreditou em música e agora cresceu. É tudo gente humilde e trabalha­do­ra. Eu amo esse movimento”. Quem complementa Fox é o DJ Arthur, DJ que chegou nos anos 1990 e que passou muitos anos como b-boy, dançando break dance. Quando parou de dançar, ele fez várias parcerias com grupos locais, inclusive o mais conhecido que é o CL Aparecida, no qual ele atua há 12 anos.

“O movimento acompanhou o resto do Brasil”, declara Arthur. “A cena local é muito boa e tem muita gente que representa Goiás em todo o Brasil e até fora dele”. Ele acredita que com o olhar certo, o rap goiano pode explodir co­mo o rock e como sertanejo. “O preconceito diminuiu muito com o tempo, mas precisa de investimento para virar um pólo, igual aconteceu com o sertanejo”.

Graças ao trampo da velha guarda, o caminho foi aberto para toda uma nova geração, como a do produtor cultural Wilton Escafandrista, que faz parte da nova geração. Ele começou a ouvir rap quando moleque, sob influência do pai. Agora, ele é um dos caras por trás da Pangea Cultural, que atua não apenas como centro cultural promovendo shows de rap, mas também como agente de cerca de 15 artistas e que possui um estúdio caseiro. Wilton acredita que o mercado agora se abriu e está absorvendo e consumindo rap nacional como não fazia antes. “Tem grupos que estão aí há mais de dez anos e que estão começando a se consolidar agora por questões de mercado, um mercado que agora inseriu o rap e que está dando um olhar a mais para os grupos da cidade. O Pangea é uma vitrine para os grupos que estão começando agora e para os que já existem e não têm onde tocar, porque não existe espaço para tocar”.

Ele acredita que boa parte disso tem a ver com a facilidade da internet. “O acesso está muito mais fácil, a música está mais simples. Até a aparelhagem para a produção. Aqui temos um home studio com um monitor de áudio, uma placa de áudio, um microfone, o computador e pronto. É uma perspectiva que o pessoal dos anos 1990 não tinha, era impossível. E tem o download. Você grava aqui e hoje já bota no Spotify, no YouTube e no Whats­App”. Mas a conquista não veio sem sacrifícios. “O mercado sempre se apropria de alguma forma. O rap agora é mais brando. A cena goiana cresceu, mas perdeu representatividade com os b-boys, por exemplo. Aqui ti­nha muito grupo de dança. A demanda mudou. O rap tem o seu papel e o mantém ao falar do cotidiano da periferia. Ele só se reorganizou”.

Escafandrista falou sobre o fortalecimento do movimento por aqui que se deu pelas igrejas e por eventos esporádicos que se tornaram mais regulares, como batalhas de MC na Praça Universitária, no Beco da Codorna e, durante uma época, até no Terminal Padre Pelágio. “O hábito, o estilo, a temática, tá tudo sendo vendido pelas em­presas e meios de comunicação. As pessoas estão consumindo isso, e de 2011 para cá foi um boom. Apareceu MC de Trindade, região metropolitana começou a aparecer mais na cena e a vir para o Centro de Goiânia, saindo dos bairros periféricos. Hoje, temos o Beco do Codorna, o Grande Hotel, o Túnel (da Araguaia). Os financiamentos públicos para grupos estão começando a sair, o Sã Consciência gravou um disco com incentivo público. A Secult hoje tem um vínculo, tem grupos saindo em turnê com incentivo. Parte é essa abertura da Prefeitura e a maior parte é resultado dos ‘corre’ dos caras, que estão indo atrás. Já tem gente começando a viver disso, com produção, com estúdio”.

Muito disso se deu pela melhora na qualidade dos artis­tas e produtores: “Se fala muito que underground é independente, faça você mesmo, mas se não for bem feito, se não profissionalizar o bagulho, ninguém faz nada no seu estúdio. A cena cresce e fica mais exigente. Quer letras mais elaboradas, instrumental mais desenvolvido, há uma demanda para a profissionalização”. 

Muito se fala sobre o rap nacional ter se tornado mais brando, menos agressivo do que na época do surgimento dos Racionais e do Sabotage. Wilton acredita que a temática não mudou, apenas amadureceu. “Questão de ideologia fortaleceu. O movimento negro é muito mais forte hoje, as mulheres estão muito mais organizadas. O rap é da minoria e está rolando esse levante da periferia. Galera tá saindo daquela temática mais gangsta. Hoje a gente não vive isso, não estamos nos anos 1990. A perspectiva é diferente. Hoje o hip hop assume postos cada vez mais altos. Existem pessoas fãs de rap ou que fazem parte do movimento que são médicos, engenheiros, advogados, professores. O hip hop amadureceu e trouxe um debate para o movimento, especialmente sobre o movimento negro, que se fortaleceu demais, porque a periferia é negra, né, mano?”. (foto: zona suburbana) 

 

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