Sem emprego, mas com renda
Pessoas que perderam o trabalho se viram como podem para minimizar falta de salário
Deivid Souza
É fabricando bolos e doces que o enfermeiro, Diego Fernando, 24, consegue renda para se manter financeiramente enquanto não consegue um trabalho na área de formação. Há alguns meses o contrato que ele tinha com o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) foi rescindido. Desde então, por causa da crise financeira que o Brasil enfrenta, não consegue mais outro emprego formal.
Os principais clientes de Diego são ex-colegas de trabalho, amigos e pessoas indicadas por estes. “Sempre gostei de culinária. Eu tirava fotos dos bolos e postava nas redes sociais, então os amigos perguntavam se eu vendia. No começo eu cobrava apenas os materiais, mas como tem o tempo que leva, passei a cobrar também o feitio”, conta. A produção não é muito grande e o profissional diz que não desistiu de voltar na área que “gosta”, a enfermagem.
A história do rapaz tem semelhanças com a de outros 11,1 milhões de brasileiros. De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a taxa de desocupação ficou em 10,9%.
A estudante de psicologia, Dândara Pinheiro, 28, trabalhava como estagiária, mas o mau momento econômico contribuiu para que ela entrasse para as estatísticas de desemprego. A jovem já participou de vários processos seletivos, mas até o momento não teve sucesso. “É bem difícil. As possibilidades são poucas, quando encontra tem muita concorrência. Por duas vezes me falaram que meu currículo era muito bom para a vaga, mas não me contrataram”, relata.
Diante da situação, Dândara levanta dinheiro trabalhando na lanchonete da mãe ou dirigindo para a mesma nas entregas de pão-de-queijo congelado. Ela entende que a situação não é das mais graves, mas mesmo assim tem sido difícil. “No meu caso é mais fácil porque não tenho filhos, eu moro com meus pais e psicologicamente tenho apoio da minha mãe, mas tem dia que abala e eu fico nervosa”, comenta.
Decisão
A escolha do ofício a ser exercido, ainda que temporariamente, pede cautela. É o que explica o analista do Sebrae, Joubert Camelo. “Primeiro a pessoa tem que estar motivada a sair do comodismo. Primeiro deve descobrir o que gosta de fazer. ‘Se eu vou vender coisas na rua e não gosto de comunicação?’ Está no caminho errado”, sinaliza.
Joubert lembra que ainda que a pessoa tenha interesse e conhecimento em determinada atividade é preciso se aperfeiçoar. “Se a pessoa vai trabalhar com gastronomia ela deve procurar um curso na área. Se ela precisa desenvolver o lado gerencial ela deve procurar o Sebrae para elaborar um plano de negócio onde a gente vai estudar quem vai ser o concorrente, qual diferencial a pessoa vai oferecer”, explica.
Para orientar os interessados em trabalhar por conta própria o Sebrae promoveu a Semana do Microempreendedor Individual (MEI), evento que se encerrou no dia 7 de maio. Durante a ação foram oferecidos vários cursos e oficinas para orientar as pessoas que querem iniciar um negócio.
O MEI é uma modalidade de formalização de negócio que permite faturamento anual bruto de no máximo R$ 60 mil com direito a CNPJ. O imposto a ser recolhido é de R$45 a R$50 e o microempreendedor tem vantagens como aposentadoria, acesso a auxílios maternidade e doença, além de poder emitir nota fiscal.