Caiaqueterapia traz liberdade e respeito para pacientes
Modalidade é realizada junto a pacientes da Vila São Cottolengo e tem trazido resultados a pacientes com deficiências diversas
Thiago Burigato
Joel Costa Silva, de 31 anos, levou um tiro que tirou-lhe os movimentos dos braços e das pernas. Após meses de sofrimento, ele começa a se reabilitar com a ajuda de diversos tipos de tratamentos.
“Eu, de início, fiquei tetraplégico, mas agora já melhorei os movimentos nas mãos que eu tinha perdido. Fiquei cinco meses comendo com ajuda dos outros, agora consigo me alimentar sozinho”, comemora.
Parte da recuperação de Joel se deve a uma nova modalidade de terapia criada e executada na Vila São Cottolengo, um hospital filantrópico sediado em Trindade onde ele faz tratamento. A prática foi desenvolvida pelo terapeuta Thiago Henrique de Andrade e, segundo o próprio, trata-se de uma ideia pioneira no mundo todo.
Thiago conta que a ideia da nova modalidade surgiu ao perceber o subaproveitamento do lago da região de São Cottolengo. “Iniciei meu trabalho na Vila, no setor de equoterapia, utilizando o cavalo como recurso terapêutico”, conta. “Por muito tempo direcionei meu olhar especial para um lago e o imaginei sendo utilizado como recurso terapêutico, com o uso de embarcações para conduzir os pacientes da Vila e aproveitar todo aquele ambiente.”
Hoje em dia, Thiago faz uma média de 70 atendimentos semanais com a nova terapia. A caiaqueterapia acontece em grupos, de segunda a sexta-feira, em período integral. Cada praticante só pode participar das sessões uma vez por semana, em atendimentos que duram em média 30 minutos, já que a modalidade funciona de forma complementar a outras, como a equoterapia ou a hidroterapia.
“O tempo de cada atendimento, depende da característica e tolerância de cada praticante, lembrando que por ser uma terapia aberta para todos, é normal que tenhamos pacientes com deformidades e deficiência severa. Nestes casos, temos a precaução de não permanecer muito tempo no caiaque”, pontua Thiago.
Benefícios
Conforme explica Thiago, a terapia foi pensada visando ao desenvolvimento de uma série de fatores, como a autonomia, a compreensão da deficiência, o sentimento de orgulho e respeito próprio, o estímulo à relação interpessoal, além da força, da resistência muscular, do equilíbrio e das reações posturais dos praticantes.
“A embarcação está a todo momento sob influência de movimentos, sejam eles pequenos ou grandes, favorecendo e estimulando o controle motor, as reações posturais, além de oferecer um ambiente alternativo que sai dos padrões de consultórios e salas de aula”, afirma. “A prática aproxima o indivíduo da natureza, abrindo um leque para criatividade e realização de uma terapia prazerosa, que é o principal princípio da caiaqueterapia.”
O interno Fábio Martins de Lima, de 38 anos, concorda com o terapeuta. Realizando tratamentos há cinco meses depois de sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC), ele chegou a perder os movimentos do lado esquerdo do corpo, a voz e o equilíbrio. Agora, colhe os frutos da terapia.
“Conheci a caiaqueterapia na Vila, gosto muito e tem me ajudado bastante. É uma terapia que exige muito procurar uma estabilidade, força e consigo equilibrar numa área estável”, diz. “A prática tem me trazido excelentes resultados, depois que comecei a praticar já consigo equilibrar, e ataxia (um transtorno neurológico caracterizado pela falta de coordenação de movimentos musculares )que tenho melhorou bastante.”