Westeros Fashion Week
Não são apenas as guerras sangrentas e a nudez dos personagens que chamam a atenção: o figurino tem influenciado as grandes grifes em suas coleções
JÚNIOR BUENO
A série americana Game of Thrones é um grande fenômeno da televisão e que, em sua média geral, alcança uma das melhores audiências da TV paga em cada episódio e também quebrou todos os recordes de downloads ilegais. Caso você ainda não tenha ouvido falar nada desse seriado, deve saber que ele é exibido na HBO, se baseia na série de livros de George R.R. Martin e se trata de uma irresistível mistura dos gêneros épico e de aventura e fantasia, com uma fotografia fascinante, onde desenrolam-se planos mirabolantes, guerras sangrentas, um toque de ocultismo e, para completar, também tem várias cenas picantes. E está em sua sexta temporada.
Agora que você foi apresentado a um dos maiores produtos da cultura pop dos anos 2010, é hora de saber que a estética dos seriados está também influenciando a indústria da moda, e é possível perceber isso na quantidade de indicações e prêmios para o figurino.
Apesar de passar despercebido pela maior parte do público, o vestuário dos personagens tem detalhes incríveis, e a responsável por esses pormenores essenciais é a figurinista, designer e ilustradora Michele Carragher, que já venceu o Emmy de Melhor Figurino pela segunda temporada da série e já produziu também roupas para Elizabeth I, Príncipe da Pérsia, Piratas do Caribe, além de ter sido a responsável por montar o visual de artistas como Coldplay, REM, Boy George, Garbage e George Michael.
Caso você alguma vez tenha estudado história do vestuário, tente se lembrar quando o assunto era a idade média. O figurino de Game of Thrones é recheado de indumentárias medievais e elementos fantásticos.
Para conseguir criar um mundo que fosse plausível, Michele junto aos produtores e sua equipe fizeram uma pesquisa intensa por meio de livros, pinturas e museus. Foram estudados vestuários beduínos, mongóis, japoneses – dentre outros. Todo esse mix foi aproveitado, e eles apresentaram de uma forma nova e completamente diferente do que estamos acostumados a ver.
Embora não seja possível traduzir fielmente as ideias que aparecem nos livros (já que algumas não funcionam para a TV), todos os trajes são envelhecidos depois de criados, de modo a conferir autenticidade às peças, para cada personagem que Michelle cria um olhar original à medida das suas personagens.
E os vestidos maravilhosos usados pelas mulheres da série têm trabalhos de bordados incríveis, feitos à mão pela própria estilista, cujos detalhes podem ser melhor apreciados em seu site, www.michelecarragherembroidery.com. Mas é bom lembrar que, apesar de um figurino riquíssimo em detalhes, Game of Thrones não deve ser considerada fonte sólida para estudo de História da Moda – lembre-se de que estamos falando de uma ficção.
O figurino da série também despertou grande interesse de marcas consagradas pelo mundo da moda, como por exemplo, a grife francesa Givenchy, que lançou uma coleção inteira inspirada nas roupas usadas pelos personagens da série. Pelos, couros, brocados e cores sombrias.
O visual de Game of Thrones já era moda antes de a série se tornar sucesso da TV americana. Mas o look dos personagens está sendo reeditado por grifes que adicionam à indumentária gótica referências de nômades de culturas ancestrais, a exemplo da celta, e um militarismo rebuscado, com cores de folhas secas e brilhos aplicados, recriando a estética medieval.
A série guia, mesmo que de forma não declarada, temporadas como as de inverno 2015 da já citada Givenchy e da italiana Versace e as de verão 2014 do americano Marc Jacobs e da marca brasileira Animale. Preto e vinho definem a cartela das coleções. Os looks têm capuzes, ombros amplos, golas altas e texturas de pele que remetem a armaduras.
O guarda-roupa das mulheres de King’s Landing, com suas capas, mangas longas e seus decotes, poderia muito bem ter sido criado pelo libanês Elie Saab ou pela italiana Frida Giannini, da grife Gucci.
Maior nome desse movimento, o italiano Riccardo Tisci coloca na alta-costura e no prêt-à-porter da Givenchy todos esses símbolos. Antes dele, o britânico Alexander McQueen, morto em 2010, era um dos poucos a investir nessa mistura de força bruta e feminilidade, vista com reticência pela elite da moda no início dos anos 2000.
As grandes marcas percebem agora que, nesta guerra, ganha quem melhor traduz o desejo do exército de mulheres que não abdica do glamour em busca do trono.