Júnior Bueno

‘Eu ainda estou aqui, perdido em mil versões irreais de mim/ Estou aqui por trás de todo o caos em que a vida se fez’, canta uma ainda delicada, mas muito mais madura Sandy, em seu mais recente sucesso, Me Espera. O dueto com o cantor Tiago Iorc é composição dos dois e de Lucas Lima, marido de Sandy, e foi escrita a distância pelos três. A música é quase uma metáfora da atual relação de Sandy com seu público, cativo desde os anos 90, quando ela formou uma das mais bem-sucedidas parcerias do pop brasileiro.

Aquele público espera por Sandy – passe o tempo que passar. E ainda reconhece, no meio das versões que ela apresenta à medida que cresce, a menina que um dia cantou Maria Chiquinha, com 7 anos de idade, e hoje, aos 33, é mãe de um garotinho. Quem se lembra da adolescente cantando “eu cresci, agora sou mulher”, em Imortal, versão para o português de um sucesso de Celine Dion? Pois Sandy cresceu, agora é mulher e como artista mostra que amadureceu. E o público de Goiânia, não precisa mais esperar para ver isto de perto. Sandy se apresenta hoje (23), no Teatro Rio Vermelho, com o show Meu Canto, turnê que virou DVD, que foi lançado oficialmente nesta semana.

O novo DVD, Meu Canto – Ao Vivo, foi lançado, na terça-feira (21), em grande estilo. Para divulgar o trabalho, Sandy participou de um pocket show, na sede do Facebook Brasil, em São Paulo. A previsão é de que o trabalho, que conta com participação de Gilberto Gil e Tiago Iorc, chegue às lojas até o fim do mês. 

Sobre o show, o jornalista e crítico musical Mauro Ferreira escreveu que a cantora atinge o ponto de maturação e considera este o melhor show da carreira solo. Ela já teve duas turnês vindas de dois álbuns anteriores, Manuscrito e Sim. “Sandy Leah Lima continua cantando muito bem – com a afinação notória desde os tempos infanto-juvenis –  e já tem, como compositora, obra autoral que lhe permite montar roteiro somente com as melhores canções do cancioneiro que compôs sozinha e com o parceiro Lucas Lima”, diz Mauro. 

“Entre sem bater/ Sem julgar, sem tentar entender/ Deixe as armas e angústias do lado de fora/ Em troca, ofereço a música e o agora/ Eu lhe dou o meu canto/ Nesse canto que é tão meu”, propõe Sandy na abertura do show, feita com a primeira das cinco músicas inéditas do roteiro, Meu Canto, entoada pela cantora na penumbra, atrás da porta que a conduzirá ao palco, ao fim do número. 

Em seguida, Sim e Aquela dos 30 dão sequência ao show, com sonoridade pesada, ambientada na atmosfera do pop rock. “ Sandy busca dar peso à obra autoral em mais de um sentido. Paradoxalmente, é na delicadeza que a cantora e compositora atinge ponto de equilíbrio e sedução”, diz Mauro, sobre a sequência em seguida, formada pelas canções mais leves e românticas, como Ela/Ele e Pés Cansados, do repertório do primeiro CD solo – que harmonizam bem com uma canção recente, bela e sensível, a supracitada Me Espera. 

Meu Canto reserva para o fim algumas canções velhas conhecidas do público. Em uma provável tentativa de criar um arremate mais pop e extrovertido para o show, recorre aos sucessos industrializados da dupla que formou com o irmão, Júnior. Nada É Por Acaso e Desperdiçou são músicas que já destoam do mundo musical mais sensível, construído pela cantora desde o álbum Manuscrito, mas que – justiça seja feita – ainda são cantadas a plenos pulmões pela plateia estridente que segue Sandy na jornada solo.

Meu Canto é o quarto álbum da carreira solo da Sandy considerando os de estúdio e os ao vivo. Com o irmão, foram outros 16 discos, com mais de 17 milhões de cópias vendidas. Uma história que o Brasil inteiro conhece do início ao fim. Filha de Xororó, da dupla com Chitãozinho, Sandy cresceu, na TV, aos olhos do público. Teve de lidar com o fetiche nacional, por sua virgindade, e mais recentemente dar explicações por não querer expor o filho nas capas de jornais e revistas. As pessoas a viram sem dente, então se sentem íntimas, com direitos, quase com raiva por sua decisão. 

Mas ela sempre prezou pela privacidade. Nem perca tempo procurando por ela no Snapchat, pois ela não estará lá. A discussão midiática sobre sua vida sexual lhe ensinou, há muitos anos, há impor limites, na marra. Mesmo que a artista se revele através de letras, ainda há algo que a Sandy reserva só para ela. Um mistério que “por trás de todo o caos em que a vida se fez”, ela aprendeu a preservar. 

SERVIÇO

Show ‘Meu Canto’, com Sandy 

Quando: Hoje (23 de junho)

Onde: Teatro Rio Vermelho (R. 4, nº 1.400, Centro)

Horário: 21h

Ingressos: De R$ 85 a R$ 360