Musical ‘Gonzagão – A Lenda’ é apresentado neste sábado
Realidade e fantasia estão no musical ‘Gonzagão – A Lenda’, que tem apresentação gratuita, hoje à noite, na Praça Cívica
Júnior Bueno
Reza a lenda que uma companhia de teatro só de homens queria homenagear Luiz Gonzaga, mas os atores não se entendiam em nada nos bastidores de uma peça sobre o Rei do Baião. A complicação maior se dá quando uma atriz, disfarçada de homem, se infiltra na trupe e, aos poucos, encanta os demais atores. No meio dessa “peça dentro da peça”, a história de Gonzagão é narrada, através de suas músicas, fatos sobre sua vida e ‘causos’, que não se sabe se são verdade ou fantasia. Este é o enredo de Gonzagão – A Lenda, musical, dirigida por João Falcão e apresentada, na noite deste sábado (25), na Praça Cívica.
“É uma história dupla”, explica Marcelo Mimoso, ator à frente do elenco do espetáculo. “É a história de uma companhia, onde não pode entrar mulher, lutando para montar um espetáculo que trata da vida do Rei do Baião”. Encenando esta metalinguagem, estão oito atores e uma atriz, que se revezam no palco. Aos poucos, o público embarca em uma viagem musical pela trajetória de Luiz Gonzaga.
Em formato de cordel, a história de Luiz Gonzaga é cantada por canções como Cintura Fina, O Xote das Meninas, Qui Nem Jiló, Baião, Pau-de-Arara e sua mais célebre criação, Asa Branca. A peça estreou em 2012, ano do centenário de nascimento de Luiz, também conhecido como Mestre Lua. Há quase quatro anos em cartaz, o espetáculo conta com diversos prêmios na bagagem, como Prêmio Shell de Teatro 2012 de Melhor Música e o Prêmio Bibi Ferreira nas categorias: Melhor Roteiro, Direção, Direção Musical e Espetáculo. Gonzagão – A Lenda também foi eleito,em 2013, um dos cinco melhores musicais do ano pelos jornais O Estado de São Paulo e Folha de S.Paulo. O público acumulado neste tempo já passa de 220 mil espectadores.
Como em qualquer história de homem que vira mito, a vida de Luiz Gonzaga tem passagens em que as versões de seus biógrafos não convergem, em que realidade e fantasia se confundem, e o autor e diretor João Falcão se sentiu livre para tratar mais do mito do que do homem. “É a história de Luiz Gonzaga, mas não é Wikipédia”, diz ele. O diretor evitou qualquer didatismo na construção do texto, embora tenha lido vários livros sobre um dos artistas mais importantes da música brasileira, morto em 1989.
Marcelo explica como se dá essa mistura de realidade e fantasia: “A história verídica de Luiz Gonzaga se confunde com algumas lendas, porque ele era um grande contador de causos. E a gente na peça traz alguns desses causos, como se fizessem parte da história mesmo, até porque o nome do musical é Gonzagão – A Lenda.” Causos célebres, como o da Parteira Samarica, são narrados em cena.
Algumas liberdades foram tomadas levando-se em conta o universo do cantor. “Luiz Gonzaga era fã de Lampião, então nós fizemos eles se encontrarem, na peça, embora isso nunca tenha ocorrido. Nós fazemos um dueto de Gonzagão e Gonzaguinha, cantando a música Sangrando, que é do filho, e o pai nunca cantou. Mas na peça isso acontece”, exemplifica Marcelo Mimoso.
A forma com que o ator foi parar na peça que homenageia o Mestre Lua é quase um causo também. Reza a lenda que o Gonzagão da peça era um taxista, no Rio, e forrozeiro bissexto nas festas de são João. João Falcão estava produzindo um musical para comemorar os 100 anos de Luiz Gonzaga e procurava um cantor que estivesse à altura do papel.
“Eu nunca tinha visto uma peça de teatro na minha vida”, diz Marcelo, que acrescenta: “Fui descoberto, por acaso, quando eu fazia um show de baião, em uma casa na Lapa. O João Falcão estava em outro ambiente, que tocava salsa, e, de repente, resolveu subir para o ambiente de forró. Quando ele me viu cantando, falou ‘rapaz, taí um Gonzaga’”.
Chamado para um teste, Marcelo tiutubeou, mas acabou convencido pelo pai, o acordeonista Fidélis do Acordeon, que era fã de Luiz. Marcelo respeitou Fidélis e levou seu acordeon para o teste. “Cada candidato tinha 15 minutos para se apresentar aos produtores, eu fiquei quase uma hora, cantei uma, duas, um monte de músicas. No começo, eu fiquei com medo, ‘vocês têm certeza que eu sirvo pra isso?’, mas aos poucos fui relaxando e aprendendo tudo que precisava”, contas ele.
Filho de pais paraibanos, Marcelo tem uma ligação muito forte com as músicas de Luiz Gonzaga. “Em casa, eu sempre ouvi os discos do meu pai, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino. Minha formação musical vem toda daí”. Ele diz que o seu timbre, herdado geneticamente do pai, é muito parecido com o de Luiz Gonzaga, o que possivelmente deixou João Falcão encantado naquele bar da Lapa.
O ator/cantor agora prepara seu primeiro disco, que honrará suas raízes nordestinas. “Eu só trabalhei em conjuntos, trios e bandas. Agora, acho que é a hora de me lançar como cantor solo. Eu sou um cara muito sortudo. Tenho a sorte de estar agora ao lado de músicos que compõem, porque eu não componho. Eu só canto e vou cantar as músicas deles, que são inéditas,” diz Marcelo.
Ele dá alguns detalhes desse lançamento. “Eu vou ter participação de Flávio José, um grande músico do Nordeste, e estou acertando a participação de Elba Ramalho. E vou regravar uma música de Luiz Gonzaga, ainda não escolhi qual”.
Ele vai realizar o projeto através de financiamento coletivo, “o tal do caldo de frango”, como ele chama o crownfunding. Enquanto isso, empresta sua voz para as canções e os causos de Luiz Gonzaga.
SERVIÇO
‘Gonzagão – A Lenda’
Quando: Hoje (25 de junho)
Onde: Praça Cívica
Horário: 20h
Entrada gratuita