Papagaio fala, mas não é gente
Apesar da habilidade de imitar falas humanas, o animal precisa de cuidados redobrados quando for domesticado
Elisama Ximenes
“Minha Rosa!” e “Louro!” são alguns dos vocativos utilizados por quem domestica papagaios para se referir ou chamar a atenção do animal. No Mato Grosso, há quem goste de chamá-lo de trombeteiro. Também conhecido pelo nome papagaio-verdadeiro, a ave é atrativa pela habilidade de conseguir imitar as falas humanas. Com isso, muita gente gosta de ter a espécie em casa. No entanto, por se tratar de um animal tipicamente silvestre, é preciso pensar bem antes da domesticação. Para entender a complexidade que envolve adestrar a ave, os especialistas Marina Mendonça de Miranda e Bruno Ferreira Carneiro, da Clínica Veterinária Refúgio Silvestre, dão dicas e recomendações.
Usar o bom senso e pensar antes de tomar a decisão de adquirir um papagaio é a primeira recomendação da veterinária Marina. Mais que apreciar suas habilidades inusitadas para um animal, é preciso ter cuidado e atenção com o bichinho. Segundo a especialista, os papagaios são capazes de, inclusive, “imitar sons de outras aves e animais de estimação”. As habilidades do bicho podem aparecer de maneira discreta, e quem já tem algum em casa pode nunca ter notado. “Apreciam banhos de chuva e dormem empoleirados; sacodem vigorosamente a plumagem como sinal de alerta ou como forma de cumprimento a uma pessoa conhecida que se aproxima”, exemplifica Marina.
Além disso, é fundamental que esses animais sejam estimulados a estarem em atividade constante. “Caso contrário, entediam-se e podem apresentar distúrbios comportamentais”, explica Bruno Ferreira Carneiro. A começar por aí, percebe-se a responsabilidade que é exigida para criar um papagaio. Portanto os especialistas recomendam que nunca se deve comprar por um impulso. “Você vai ter uma gaiola para limpar, água para trocar várias vezes ao dia, e terá de investir em brinquedos, uma vez que são muito inteligentes e necessitam de estímulo externo para evitar comportamentos neuróticos como arrancar as penas e automutilação”, detalhiza o veterinário.
A vida dos papagaios é longa e, para garantir que dure o maior tempo possível, é necessário que os cuidados, desde a alimentação à saúde, sejam mantidos rigorosamente. “O compromisso não é apenas com os cuidados físicos, mas sim um forte compromisso emocional. Você vai se tornar o bando do papagaio. Pense nisso e tome a decisão mais correta”, recomenda Marina. Por exemplo, caso o animal fique sem água, corre o risco fatal. O ideal é checar, diariamente, se o reservatório de água está devidamente abastecido. Além disso, a especialista recomenda “verificar se há algum problema, como vazamentos, obstrução da saída da água por algum objeto ou alimento ou até mesmo derrubada do bebedouro pela própria ave”.
Há quem prefira deixar o animal circular livremente pela casa para não privá-lo em uma gaiola. No entanto é preciso estar atento aos riscos que o bicho pode correr. Segundo Marina, o animal pode “ser pisado, prensado em portas/poltronas, ferido pelo pé de uma mesa ou cadeira ou ter objetos atirados ou caindo sobre ele”. O risco é ainda maior no caso de haver outros animais de estimação na casa. A alimentação indevida dos filhotes também pode ser fatal. “Os filhotes de papagaios podem ser alimentados pelo criador experiente e receber visitas dos novos proprietários para que se acostumem”, recomendam os especialistas.
No caso das aves mantidas em gaiola, esta deve ser colocada ao ar livre e, de preferência, em local com sombra. Isso porque a o calor em excesso pode deixar o papagaio agitado e desidratado, correndo risco de morte. Dormir com o animal também não é recomendado, já que este pode correr o risco de sufocamento ou traumas, conforme explica Marina. “Sempre existe a possibilidade de o papagaio ficar preso, no vão entre a cama e o colchão, sufocado sob o travesseiro, ou seu dono rolar sobre ele durante o sono”.
Quanto à alimentação, caso o dono não utilize ração, recomenda-se suplementar as sementes com “alimentos naturais, como frutas, verduras e legumes, variando bastante nas cores e sabores”. Aparar as asas, entretanto, não é algo ruim, já que a proposta é domesticar a ave, pois evita que o animal voe sem direção, no ambiente domiciliar, e acabe se ferindo. “O procedimento de aparar as penas das asas é seguro e indolor. Lembrando que deve ser realizado por um veterinário especializado para evitar cortes errados”, elucidam. Por falar em veterinário, as visitas ao médico devem ser realizadas a cada seis meses.
Na hora de adquirir o animal, é importante, também, verificar se ele possui identificação devida, documentação e se a loja é autorizada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). No Brasil, a compra de animais silvestres é crime. No caso legal, a procedência do animal precisa ser de criadouros legais reconhecidos pelo Ibama. “Sem contar que apenas determinadas espécies podem ser reproduzidas para fins comerciais. Também não é possível legalizar um animal reproduzido, obtido ou comprado de forma irregular”, finaliza a veterinária Marina.