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terça-feira, 26 de novembro de 2024
MÚSICA

O rock é japonês, mas quem canta é brasileiro

Brasileiros formaram banda que toca o chamado jrock e que já gravaram CDs no próprio Japão

Postado em 22 de julho de 2016 por Sheyla Sousa
O rock é japonês
Brasileiros formaram banda que toca o chamado jrock e que já gravaram CDs no próprio Japão

O rock é um estilo importado que faz sucesso no Brasil desde que chegou por aqui. Com a Tropicália de Caetano, Gil e Gal – dentre outros –,  instrumentos que eram exclusivos do ritmo imperialista passam a ser apropriados pelos estilos tipicamente brasileiros, por exemplo, a MPB. O estilo musical de solos de guitarra e batidas de cabeça também tornou-se cultural no Japão e ganhou até nome diferente: jrock. Um brasileiro, no entanto, resolveu pegar a adaptação japonesa e trazer para o Brasil. Com essa curiosa apropriação, Gui Naka funda a JRox, banda brasileira que toca rock japonês em terras brasileiras e asiáticas.

A banda lançou seu primeiro álbum neste ano. Com o título Yume No Mukae, todo o CD foi gravado no próprio Japão. O show de lançamento foi realizado, no último dia 30 de abril, em São Paulo. A expressão que dá nome ao álbum significa, em português, “Em Busca dos Sonhos”, nome que traduz o lema do grupo: “siga em frente”. As canções, compostas pelo guitarrista Gui Naka trabalham com temas como busca de sonhos, persistência, amor e força de vontade. Além do guitarrista, a banda é composta pela vocalista JuRox, o baterista Rick Koba e o baixista Kyio. A capa do primeiro álbum remete à transformação e à mudança pela qual a banda passou até chegar aonde está agora.

‘Mudança’ , porque, antes, a banda se chamava The Rebirth of Chaos – ainda como um projeto inicial, que surgiu da cabeça de Gui Naka. “A proposta de ir para o Japão exigia algo novo. Então mudamos tudo”, conta o líder da banda. A oportunidade de tocar fora do País surgiu quando conheceram a gravadora japonesa Colomark Music – a mesma que produz Tsubasa, cantora japonesa de MPB . Quando a gravadora conheceu a banda, alertou que, para garantir sua ida ao Japão, era necessário que houvesse algumas mudanças. “Começamos pelo nome, porque era muito longo”, relata Gui Naka. 

Além disso, a banda também passou a tocar mais do rock japonês moderno e foi deixando de lado o jrock mais antigo. Quando ainda eram The Rebirth of Chaos, apenas o baixista Kyio, além de Gui Naka, fazia parte da equipe em uma parceria que já durava três anos. O bateirista Rick Koba foi incorporado à banda por meio de um anúncio na internet. A vocalista JuRox foi indicada por um amigo de Naka. “Pensamos que precisávamos de uma vocalista, e um amigo meu falou da JuRox”, conta. O diferencial do grupo é que a maioria dos integrantes tem descendência asiática. O único, no entanto, que não tem descendência japonesa é o líder do conjunto. “Mas esse era um desejo meu para o perfil da banda. Em eventos que ressaltam a cultura japonesa, é comum vermos bandas covers e até originais que tocam jrock, mas a presença predominante de descendentes japoneses não é tão comum”, explica Naka.

Os grupos que mais inspiram a banda são One Ok Rock e My First Story. O primeiro, para o guitarrista, é “inspirador  e faz muito sucesso com uma música japonesa americanizada”. Os conjuntos internacionais são tão influenciadores no estilo do grupo brasileiro que, até o momento da carreira, têm cantado músicas em inglês, japonês ou misturando os dois idiomas. ‘Até o momento’, porque está entre os planos da equipe uma inserção do português em suas canções. “Nós estamos discutindo isso e pensamos em, talvez, mesclar o português com o japonês”, confessa.

A cultura japonesa faz parte das preferências de Gui Naka desde cedo. Esse gosto foi precedido por um gosto anterior pelo que é diferente. “Logo estava me familiarizando com o mundo pop japonês, animês, mangás e aprendendo mais e mais sobre o rock japonês”, conta. A época em que começou a se encantar com a cultura asiática foi contemporânea ao início de suas composições. “As minhas letras costumam surgir depois que monto uma melodia, e, conforme vou repetindo aquilo, vai aparecendo uma composição”, revela. Já no caso da vocalista JuRox e do bateirista Rick Koba, o estilo apareceu com a ideia de entrar para a banda. “Fiquei surpresa, porque cantava música pop e estudava belting. Nunca tinha pensado em trabalhar com o rock, mas me interessei pela oportunidade de fazer algo novo e, desta vez, profissional”, conta JuRox sobre quando recebeu o convite.

O baterista, tal qual JuRox, estava acostumado com outro estilo. Embora já gostasse de rock, a ideia de tocar o ritmo  adaptado pelos japoneses foi nova. “Apesar da experiência de vários anos de estrada e de ser um estilo diferente das minhas raízes, resolvi encarar algo novo”, conta Koba. O baixista já estava acostumado com o jrock, afinal, já era parte da banda anterior de Naka. Mas, apesar disso, a surpresa com os costumes japoneses foi inevitável. “O que chamou bastante a minha atenção foi o comportamento das pessoas nos trens e metrôs: eles esperam pacientemente as pessoas saírem dos vagões para depois entrar”, revela Kyio.

Para além do gosto pelo estilo, o guitarrista enfatiza: “A gente vê o Japão como uma potência musical”. Embora o idealizador do projeto tenha família goiana, até o momento a banda só tocou no Japão e em São Paulo. No entanto Gui Naka garante que é um desejo do grupo se apresentar na Capital. Segundo ele, já até tentaram negociar vindas e participações em eventos de Goiânia. Mas até agora não deu certo. 

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