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terça-feira, 26 de novembro de 2024
OBRA

‘Like a Bridge’ é lançado hoje

Alexandre de Alcântara conta, em livro, a história de companheirismo e perda de sua esposa, Denise Pereira Lima

Postado em 25 de julho de 2016 por Sheyla Sousa
'Like a Bridge' é lançado hoje
Alexandre de Alcântara conta

Elisama Ximenes

A dor da perda é algo difícil de explicar em linhas de uma matéria jornalística – por mais sensível que se proponha esse texto. Seja uma companheira, um ente familiar próximo ou mesmo um amigo querido, sempre resta a dor do outro lado. Tem gente que prefere escancarar as feridas em choros, outros guardam o sentimento para si por toda a vida. Há ainda quem prefira fechar-se para o mundo e deixar a felicidade de lado. Alexandre de Alcântara escolheu um modo diferente de fazê-lo. Tal qual Marcelo Rubens Paiva, Joan Didion e Ana Lucia Coradazzi, o empresário preferiu transformar a dor da perda da esposa em narrativa. Like a Bridge, título do livro escrito por ele, é lançado hoje (25) em Goiânia.

Denise Pereira Lima foi a quarta esposa de Alexandre e com quem teve dois filhos. Segundo relata, o casal vivia uma vida harmoniosa até que Denise foi diagnosticada com câncer de mama. É a partir daí que a história sofre uma reviravolta que motiva o viúvo a relatar, em livro, as vivências da esposa com o câncer. Também conta sobre a sua própria trajetória enquanto pessoa que acompanhou a companheira durante o tratamento. Like a Bridge: O Outro Lado do Câncer é o título da publicação. Conforme é sugerido nos textos das orelhas de capa do livro, o narrador quis colocar do outro lado a própria vivência, como companheiro de uma pessoa em estado terminal, além das coisas da vida de Denise que não foram afetadas pela doença. 

“Denise pediu que eu escrevesse essa história dois meses antes de morrer”, conta o autor. Tagore Alegria, editor do livro, relata que sentiu surpreso com a narrativa. “Um livro escrito de uma vez só, como o autor mesmo disse, com fluidez, narrativa envolvente e ainda abordando vários aspectos que, em muitos casos, temos receio em questionar a alguém que passou pela experiência do câncer (do outro lado): sexo, família, tipos de tratamento, dores, alegrias”, avalia. De acordo com a opinião do editor, Alcântara consegue imprimir sua própria visão sobre o que é acompanhar alguém com câncer e, ainda, ajudar outras pessoas que possam passar por situações semelhantes. 

A situação pela qual o casal protagonista do livro passou não é exclusiva deles. Em Ainda Estou Aqui, de Marcelo Rubens Paiva, o autor fala de duas relações de perdas próximas por que passou e passa. O pai de Marcelo desapareceu quando tinha apenas 5 anos de idade. Era época de ditadura militar e, por conta da censura de informações da época, passou muito tempo sem ter ideia do que tinha acontecido ao pai ou se um dia voltaria. Em 2014, descobriu que o pai havia morrido dois dias depois do desaparecimento. O deputado federal Rubens Paiva não resistiu às sessões de tortura pelas quais passou e morreu no segundo dia. Testemunhas confirmaram à Comissão da Verdade que o corpo do deputado foi enterrado, desenterrado e jogado ao mar.

Com a descoberta do mistério que assolou sua vida por anos, Paiva resolveu escrever um livro sobre essa perda. Mas acabou trazendo a história da mãe para o livro também. Eunice Paiva tornou-se quase que uma protagonista de Ainda Estou Aqui. A mãe foi a maior militante contra a ditadura de sua família. Mais ativista que seu pai inclusive. Não haveria como Marcelo falar do pai sem contar a história de Eunice. No entanto a mãe já estava com Alzheimer quando o filho começou a escrever o livro. Por isso as narrativas são, predominantemente, no passado. E as complicações da relação mãe e filho durante os anos de interrogação sobre o destino do pai são relatadas sem medo por Marcelo.

“A vida se transforma rapidamente. A vida muda num instante. Você se senta para jantar, e aquela vida que você conhecia acaba de repente. A questão da autopiedade”, assim começa o livro O Ano do Pensamento Mágico, de Joan Didion. Também foram essas as primeiras palavras escritas por ela quando perdeu o marido, John Gregory Dunne, em 2003. Ele sofreu de mal súbito, “um grave acidente coronariano”, segundo relata Joan no livro. O ocorrido ocasionou sua morte logo depois que a família havia sentado à mesa de casa para jantar. Além disso, a filha sofria de uma doença grave no mesmo ano. Em O Ano do Pensamento Mágico, a narradora desabafa, em livro, suas dores e transforma os pensamentos, inicialmente desconexos, sobre a morte do esposo e a doença da filha.    

A médica oncologista Ana Lucia Coradazzi escreveu o livro No Final do Corredor seguindo a mesma temática. Em uma fuga das publicações acadêmicas, Ana Lucia abraça a literatura para relatar histórias de pacientes e familiares com câncer que acompanhou. As perdas da médica são inúmeras, apesar de as personagens não terem uma relação tão próxima com ela quanto os casos dos outros autores citados. No entanto, em se tratando de uma médica que precisa acompanhar minimamente o tratamento do paciente, a aproximação psicológica e emocional seria inevitável. A oncologista não foi a primeira, entretanto, a publicar histórias de pacientes. Dráuzio Varella o fez também em 2004. “Morte é a ausência definitiva” é a primeira frase da introdução de seu livro. O médico, que é órfão desde os quatro anos de idade, conta sobre o estado terminal de pacientes que acompanhou. 

A narrativa em forma de letras e impressa em papel é o que torna as histórias desses autores próximas. As intenções de cada um ao resolver escrever sobre suas dores e vivências são difíceis de especular. Fuga da dor talvez tenha sido uma das motivações de algum deles. Quer dizer, uma tentativa de abandonar o sentimento ou deixá-lo reservado a um só local: o livro. Desabafo talvez tenha motivado alguns deles também. Quem sabe um dos autores não quisesse dividir o pesar com seus futuros leitores para que a carga, assim, ficasse mais leve. Não se pode adivinhar quando se está de fora. Somente a leitura de Alexandre de Alcântara – e de todos os outros autores mencionados – talvez permita entender como a escrita pode ser uma prática libertadora.

SERVIÇO

Lançamento do livro ‘Like a Bridge – O Outro Lado do Câncer’

Quando: Hoje (25) às 19h

Onde: Livraria Nobel do Shopping Bougainville

Entrada franca

 

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