Da redação

Karla Kapassi atende o telefone com a voz agitada de quem corre para chegar a casa. “Liga daqui  a três minutinhos que já estou quase em casa”, avisa. Passado o tempo solicitado, a voz já está mais calma, e um “pronto” dá o sinal de que a conversa pode começar. Apesar da mudança no tom de agitação para tranquilidade, a simpatia de Karla permanece. “A Kamila está com 20 anos, ela tinha 7, na época, então eu acho que tem 13 anos que eu separei”, e é assim que começa o papo sobre o processo de separação e como a esteticista lidou com tudo.
A vida da família era harmoniosa e parecia estar tudo bem, até que o ex-marido de Karla pediu a separação. Simplesmente não dava mais certo. “Eu tentei indagar os motivos e até perguntei se havia outra pessoa, mas ele disse que não”, conta. Com relação às burocracias do divórcio, ela conta que foi tudo muito saudável. Mas, emocionalmente, o baque da mudança grande e repentina demorou a passar. “Só tive a Deus e a família”, conta sobre a única ajuda que teve. 
Para suprir esse buraco na superação do término no casamento, Valéria Ruiz criou o site Bem Separadas. Ela foi casada por 19 anos, separou-se há quatro, e era constantemente abordada por outras mulheres para saber como havia conseguido sair do casamento sem grandes problemas. Percebeu, também, que existe uma série de coisas de que a mulher precisa depois do divórcio. Com formação em coaching, ela juntou o útil ao agradável e criou a página como uma maneira de investimento e de ajudar outras mulheres em processo de separação. Em agosto, o site completa um ano e três meses. 
“O site é voltado para mulheres, porque são as mais desamparadas”, explica, mas conta que tem recebido muitas perguntas de homens, por outro lado. Mas a escolha do público-alvo se deu devido à realidade em que ainda se vive, onde o homem ainda é visto como provedor. Portanto, quando há o divórcio, uma das primeiras preocupações é com a questão financeira. Quando o casal tem filhos, a mãe costuma preocupar se conseguirá manter a mesma qualidade de vida que tinham antes. No caso de Karla, antes do divórcio ela já trabalhava. Sempre trabalhou, mas, quando a filha nasceu, o casal havia decidido que ela iria ficar em casa para cuidar de Kamila. Quando ela completou 5 anos de idade, Karla voltou ao mercado e, dois anos depois, o marido pediu a separação. 
A ajuda psicológica que Karla não teve, por exemplo, Valéria tenta suprir em seu site. Textos que falam sobre como ajudar os filhos, superar as dores ou, ainda, dicas de como recuperar a felicidade fazem com que o site cumpra esse papel. Com relação aos filhos, Karla e o ex-esposo ajudaram Kamila a entender o término segundo sua própria intuição. “Eu pedi para que ele explicasse para ela e, aparentemente, ficou tudo bem com ela”, conta. Mas na escola foi que a mãe percebeu onde a mudança afetou a filha. A separação foi contemporânea à época em que a menina havia aprendido a ler. Quando terminou o ano letivo, Kamila não sabia mais ler e acabou reprovando.
Ao longo da conversa, Karla se sente mais à vontade e vai contando detalhes do processo. “Eu percebi que superei, de fato, quando a Valentina nasceu e a Kamila já tinha 15 anos”, relata. Valentina é fruto de um relacionamento que teve depois do divórcio. “Não quis casar, eu não consigo mais me acostumar com outra pessoa em casa, acostumei à vida sozinha com minhas filhas”, conta. O apego a elas é grande. As vezes que mais sofria era quando Kamila tinha que passar o fim de semana com o pai. “Apesar do acordo judicial, entre nós, decidimos que ele seria livre para pedir para ficar com ela quando quisesse e ela poderia ir quando quisesse também”, esclarece, mas completa: “Sou uma mãe coruja, por mim, ficava só comigo”.
O pai de Kamila é presente na vida da filha, conforme explica Karla. No entanto a responsabilidade maior sobre ela é da mulher. Valéria também foca nas questões judiciais em seu site. A página conta com a colaboração de profissionais de Direito, Psicologia, Psiquiatria, Dermatologia, Educação Financeira, Empreendedorismo Feminino, Nutrição – dentre outros. Diferente de Karla, muitas mães que entram em contato com Valéria relatam que não contam com nenhuma ajuda do ex-marido na criação dos filhos. E, ainda, existem aquelas que tentam aliviar o lado dele, dizendo  “ah, ele ajuda em algumas coisas”. Quanto a isso, ela é firme: “Não acho que é uma ajuda, ele também é pai e tem que ter a mesma responsabilidade; quando eles ‘ajudam’, não estão fazendo mais do que sua obrigação”.
Valéria Ruiz ainda apoia as mulheres no sentido de conseguirem superar os preconceitos que, eventualmente, sofrem por serem taxadas como ‘mães solteiras’, no caso das que ficaram com os filhos. Se não bastasse elas terem de ficar com a maior responsabilidade sobre as crianças pelo simples fato de serem as mulheres, com raras exceções ainda são julgadas por serem separadas. No caso de Karla, ela conta que nunca percebeu uma discriminação explícita. No entanto, desde sempre, se resguardou como forma de se proteger antes da vinda de qualquer ataque. “Eu mesma me sentia inferior e já me protegia com medo de expor a mim e as minhas filhas”. 
A esteticista ainda confessa que o medo de expor as filhas a algum perigo é um fator influenciador em sua decisão de não se casar. “Tomo muito cuidado com relação aos parceiros, porque, se acontecer alguma coisa, a gente sabe que no fim sobra para a mulher”, ressalta. Treze  anos depois da separação e com a vida já estabilizada, Karla segue a vida vitoriosa e com uma família de mulheres bonitas e felizes. Hoje, o site de Valéria ajuda mulheres que passam pelo que Karla passou a seguirem em frente e conseguirem a independência, de maneira mais rápida e fácil, por meio da internet e do contato com outras mulheres. O Bem Separadas é mais uma das maneiras de concretização da sororidade: união e aliança entre mulheres, baseado em empatia e companheirismo, em busca de alcançar objetivos em comum.

SERVIÇO
Bem Separadas
Link: http://www.bemseparadas.com.br/