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quarta-feira, 28 de agosto de 2024
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Descaso

Acidentes de trabalho matam 1.172 em dez anos

Número de fiscais do trabalho despencou
nos últimos dez anos, enquanto quantidade de acidentes cresceu

Postado em 12 de agosto de 2016 por Redação
Acidentes de trabalho matam 1.172 em dez anos
Número de fiscais do trabalho despencou

Deivid Souza

A morte de dois operários, vítimas de um soterramento na tarde de quarta-feira (10), em Goiânia, vai engrossar a triste estatística que consome a vida de trabalhadores. Entre 2004 e 2013, 1.172 trabalhadores morreram em serviço em Goiás. Carlito Francisco dos Santos, 39, e Wender César de Oliveira, foram soterrados quando faziam uma escavação na esquina da Rua 124 com a Avenida 87. 
O ano mais trágico no período levantado por O HOJE foi 2004, quando 139 empregados perderam a vida. O ano de 2013, o último com dados disponíveis registrou 101 casos, o que deu ao Estado a 10ª colocação no ranking nacional de mortes no trabalho. A capital concentra praticamente um terço dos óbitos. Em 2012 foram 16 registros e 27 no ano seguinte. O setor em que mais aconteceram óbitos foi o da construção civil. 
O número de acidentes tem apresentado evolução nos últimos anos. Entre 2011 e 2013, a quantidade de acidentes de trabalho aumentou 9,3% e fechou o último ano do levantamento com 17.158 casos.
A Superintendência Regional do Trabalho em Goiás (SRT) tem desenvolvido um trabalho de análise das estatísticas, além do trabalho preventivo, que verifica o cumprimento das normas. 
“Quando há a ocorrência de acidentes que tragam consequências mais severas como afastamentos do trabalho por períodos superiores a 30 dias ou infelizmente quando o trabalhador vai a óbito, as Superintendência faz a análise desse acidente identificando fatores de risco que contribuíram para a ocorrência do evento. E em função dessa auditoria são lavrados autos de infração e a empresa toma ciência desse problema para evitar novas ocorrências de acidentes”, explica o chefe de fiscalização da SRT, Afonso Rafael Fernandes Borges.

Deficiência
No entanto, os resultados esbarram no número de auditores fiscais do trabalho. Como O HOJE publicou no mês passado, em 1990, havia em Goiás 115 auditores fiscais do trabalho, mas este número caiu para 65 atualmente. Só entre 1990 e 2004, os dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) apontou evolução de 112,4% no indicador. 
A Associação dos Auditores Fiscais do Trabalho no Estado de Goiás (Aafitego) defende que seriam necessários, pelo menos, 150 profissionais para cuidar da fiscalização. O Ministério do Trabalho e Previdência Social informou ao O HOJE que a realização de concursos públicos para o cargo é autorizado pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. 
Mesmo com o déficit, entre 2014 e junho deste ano, foram emitidos 9.637 autos de infrações para 2.445 empresas. O ano com mais notificações foi 2014 com 4.356 registros multas geradas. O segmento da construção é o que tem maior participação nas multas. Em 2015, respondeu por 41,67% das irregularidades apuradas .

Falta de contenção pode ter sido causa de acidente

A falta de uma contenção no talude onde era feita a escavação de uma obra no Setor Sul, em Goiânia, é levantada pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO) como uma das causas do acidente que vitimou dois operários nesta quinta-feira (10). Os dois trabalhavam nas escavações de ampliação de uma clínica.
Membros do Conselho visitaram o local, que está interditado, juntamente com integrantes da Defesa Civil. “Vamos identificar os responsáveis técnicos pela obra, analisar as condições de segurança dos trabalhadores que estavam trabalhando e as condições de trabalho que os profissionais estão seguindo com relação a esse empreendimento”, explica o gestor do Departamento Técnico do Crea-GO, Edivaldo Maia.
A Defesa Civil, por sua vez, foi ao local para avaliar as condições de segurança do local. De acordo com o órgão, a empresa responsável pelo serviço se comprometeu, após a perícia, a realizar o trabalho de escoramento do talude para que seja estudada a possibilidade de liberação do trânsito na Rua 124 no Setor Sul.
Na placa da obra, não havia o nome de um engenheiro em segurança do trabalho, que seria o responsável técnico pelo programa de proteção aos trabalhadores e à vizinhança. A reportagem não conseguiu contato com os gestores da obra. O 1º Distrito Policial (DP) vai apurar as circunstâncias da morte de dois operários.

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