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domingo, 1 de setembro de 2024
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MULHER

Carne Doce divulga clipe da música Artemísia

A canção faz parte do novo disco, Princesa, que será lançado em dia 28 deste mês

Postado em 19 de agosto de 2016 por Redação
Carne Doce divulga clipe da música Artemísia
A canção faz parte do novo disco

Elisama Ximenes 

Artemísia, de acordo com o dicionário online de português, é um gênero de plantas aromáticas, uma de cujas espécies é o absinto. O dicionário informal acrescenta que suas folhas têm propriedades medicinais e o seu chá é usado no combate a anemias, cólicas intestinais, gastrites, etc. Ela não é recomendada para gestantes, porque pode provocar complicações à gestação, podendo, inclusive, interromper a gravidez. O nome da planta também nomeia a música, da banda goiana Carne Doce, Artemísia. O clipe foi lançado no último dia 28 de julho. 

Salma Jô, vocalista da banda, caminha por uma rua com um muro, característico de prédios antigos, à direita. Com um blackout, a cena muda de lugar e, de repente, a protagonista está em um subsolo que remete a um túnel, com paredes brancas e pichadas. Ela passa a mão no ventre, com uma expressão assustada, e, então, começa a música, que segue com a caminhada interpretativa de Salma pelo corredor. “Não vai nascer, porque eu não quero, porque eu não quero, e basta eu não querer” é a letra, que começa depois de um minuto e 22 segundos de caminhada. 

“Eu estava pensando a respeito da ideia do ‘meu corpo minhas regras’ e eu comecei a divagar sobre o que é considerado um egoísmo absoluto, por um lado, e um direito absoluto por outro”, explica Salma sobre como surgiu a ideia de fazer uma música com esse tema. A proposta era de trabalhar com o peso que é a decisão de ter ou não um filho. “Brincando com essas perspectivas, eu cheguei  a essa letra, que coloca a mulher como uma espécie de deusa”, explica. 

Movimentos

Os movimentos cênicos e até coreógrafos, realizados pela protagonista do clipe durante a música, foram inspirados em uma cena do filme Possessão. “Os meninos da produtora Muto encontraram o túnel, que foi um cenário perfeito, e também a coreógrafa, que trouxe um método de improviso de dança que casou com a parte visceral da letra”, esclarece. Para Salma, a questão do aborto não é fácil, mas acha que “deveríamos partir do princípio de que a mulher é soberana, e não de que o feto é, de que o ser por vir é”. 

O tema também não é fácil de ser tratado se pensarmos no âmbito legal no Brasil. Aborto é crime aqui e a mulher e o profissional envolvido na interrupção da gravidez podem ser presos. De acordo com o Decreto Lei 2848/40 do Código Penal, o aborto só é permitido caso não haja outro meio de salvar a vida da gestante ou se a gravidez for resultante de estupro. No entanto existem movimentos no País que militam pela sua legalização, independente dos motivos, desde que essa decisão seja tomada pela mulher gestante. O argumento principal é de que, mesmo criminalizado, os abortos continuam sendo realizados, de maneira clandestina, fazendo com que as mulheres corram ainda mais riscos de morte. 

A Frente Nacional Pela Legalização do Aborto descreve, em sua página do Facebook, que luta “pelo direito ao aborto sem risco de morte ou adoecimento, diminuindo o sofrimento para todas as mulheres”. Por outro lado, há também movimentos que militam contra a sua legalização. A página de Facebook Contra o Aborto tem a foto de um bebê como perfil e, logo abaixo, uma arte com a frase: “Eu defendo a vida”. Segundo descrição da página, sua missão é de “mostrar iniciativas pró-vida e lutar contra o mal do aborto na sociedade e desmascarar argumentos abortistas”. 

Não é novidade

Tratar sobre o aborto não é algo inaugural do Carne Doce. Outros cantores, cantoras e bandas também já fizeram canções sobre o tema. As bandas argentinas Fun People e She Devils lançaram o álbum Aborto Ilegal Assassina a Minha Liberdade em 1997. Em uma das canções, Lady, eles cantam: “Honey, eu sei, não é tão fácil. Senhorita, você não está preparada. Não tem dinheiro, não está saudável para ter um bebê. Honey, você não quer abortar, mas não tem opção. Mulherzinha, você não é uma mulher má por ter ficado grávida e ter pensado em abortar”. Já a cantora gospel Fernanda Brum lançou, em 2010, a música Aborto Não. Em um dos trechos da canção, ela diz: “Chorei e implorei em oração: não mate essa criança inocente, ela foi escolhida dentro do teu ventre”.

Reflexão

As opiniões são diversas e contraditórias. A intenção de Artemísia era de levantar uma reflexão sobre até que ponto o aborto é egoísmo, e o clipe consegue ser uma metáfora bem feita da clandestinidade com ele é realizado em tempos de criminalização. Além de quem é a favor da legalização e de quem é absolutamente contra, há ainda aquelas que concordam com o aborto apenas em casos de estupro ou de risco de vida, conforme já está aprovado na constituição brasileira. A vocalista do Carne Doce já pensou assim: “Já pensei diferente, já defendi apenas em casos de estupro”. Embora, no ano passado, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha tenha feito proposta de lei que exigia que a mulher vítima de estupro, que desejasse realizar um aborto legal, comprovasse a violência por meio de comunicação à polícia e exame de corpo de delito – atualmente, basta a palavra da gestante. 

A posição atual de Salma é pela descriminalização do aborto, “porque é inviável, porque não é eficiente, não evita os crimes, independente do que diz a lei, a nossa sociedade pratica. A situação da criminalização funciona muito menos como um impeditivo do que uma imposição de mais riscos e sofrimento para a mulher”, explica. Apesar desse posicionamento, não é intenção da cantora fazer uma música engajada. “Eu quero fazer música boa. Eu acho que Artemísia pode ter esse ‘quê’ de engajada, mas tudo bem, porque, antes disso, ela é boa. Se um artista faz música boa, mas sem inspiração política nenhuma, ótimo também”, afirma.

A letra de Artemísia continua ainda com “não vai viver, porque eu vivo, sou o deus vivo, sua razão de ser, de uma praga a um chá, sabe a índia, sabe a química que o seu desencarnar”, remetendo à divindade da mulher que a letra quis levantar e, ainda, ao poder da planta. No clipe, a música acaba, a protagonista está transformada, com os cabelos bagunçados, e sai atônita rumo à escada de saída do túnel. Sua respiração ofegante e os passos são a única sonoridade do vídeo agora. Sai de volta para a rua e encerra-se o clipe. Assista:

SERVIÇO
Carne Doce lança o disco ‘Princesa’
Quando: 28 de agosto às 16h
Onde: Ambiente Skate Shop (Rua T-30)
Ingressos: A partir de R$ 15

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