Responsáveis sabiam de risco em obra, diz delegado
Uma testemunha afirmou em depoimento que escavadores alertaram sobre perigo de desmoronamento
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Os responsáveis pela ampliação de uma clínica no Setor Sul, onde dois operários morreram durante um serviço de escavação, no último dia 10 sabiam do risco que era realizar o trabalho sem a instalação de escoras segundo a Polícia Civil (PC). O delegado titular do 1º Distrito Policial de Goiânia, responsável pelo caso, Izaías de Araújo Pinheiro, afirma que uma testemunha disse em depoimento, que uma das vítimas avisou o responsável da obra sobre o risco que era dar continuidade aos trabalhos.
“Antes de entrar [no buraco], uma das vítimas subiu lá na calçada depois do almoço e ainda alertou um dos engenheiros, mas ele disse que poderia descer e continuar”, disse Pinheiro ao O HOJE. A testemunha não soube informar o nome do responsável, mas declarou ser uma pessoa com capacete branco. “A gente crê que era um dos responsáveis técnicos”, completa o delegado.
O engenheiro civil Sidney Borges Rodrigues, responsável técnico da obra e o sócio-proprietário da J Aguiar Construtora, Álvaro Faria de Aguiar, prestaram depoimento no 1º DP na sexta-feira (19). De acordo com uma nota enviada à imprensa, os dois sustentaram que o empreiteiro contratado para realizar o serviço de perfuração, Adenilton Francisco dos Santos, recebeu ordem “expressa” para suspender as escavações até que o talude recebesse o reforço de escoras.
Ainda de acordo com a nota, Sidney confirmou que um técnico de segurança do trabalho acompanhava a obra e todos os trabalhadores recebiam os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).
A conclusão do inquérito deve levar entre 30 e 60 dias. Assim que concluídos, serão anexados os exames de corpo de delito das vítimas, o laudo do Instituto de Criminalística sobre as condições do local e o relatório do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO). Com base nos depoimentos colhidos até o momento, Pinheiro considera que houve “negligência” por parte dos gestores da obra. “Nós ainda vamos ouvir outras pessoas, mas essa fase de oitivas é rápida e já está bastante adiantada. Agora os laudos demoram ficar prontos”, diz o delegado.
Punição
O Crea-GO explicou que o relatório vai levar alguns dias para ficar pronto, pois ainda aguarda a entrega de alguns documentos da clínica. O relatório será encaminhado para a comissão de ética do Crea-GO, que vai apreciar o documento. Dependendo do conteúdo, poderá ser aberto processo para investigação de responsabilidades. Se confirmada negligência, os engenheiros poderão ser punidos com penas que variam de advertência até a cassação do registro profissional. A reportagem do O HOJE não conseguiu contato com o empreiteiro Adenilton.
Os operários Carlito Francisco dos Santos, 39, e Wender César de Oliveira, 39, foram soterrados no dia dez deste mês quando faziam uma escavação na esquina da Rua 124 com a Avenida 87, no Setor Sul para a ampliação de uma clínica. Os dois foram encontrados sem vida.