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sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
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Jogos

Pokémon GO: entre monstrinhos e amigos

O jogo que chegou há pouco tempo no Brasil é um sucesso e enche as praças com pessoas determinadas a capturar seus próprios pokémon’s

Postado em 27 de agosto de 2016 por Toni Nascimento
Pokémon GO: entre monstrinhos e amigos
O jogo que chegou há pouco tempo no Brasil é um sucesso e enche as praças com pessoas determinadas a capturar seus próprios pokémon’s


Toni Nascimento

Na Grécia o espaço público era o lugar onde os aristocratas exerciam sua cidadania e decidiam os rumos da Pólis. Era o local onde se fazia política e se concretizava plenamente a socialização. Milhares de anos depois os espaços públicos perderam o status quo de fórum da cidadania e se tornaram um ambiente de socialização muitas vezes abandonados. Várias vielas com praças lindas escondidas no setor Sul de Goiânia são o maior exemplo disso, onde nem no fim de tarde de um sábado se via alguém. Sim, via no passado, por que o jogo Pokémon GO mudou a forma como a cidade se caracteriza e como as pessoas interagem com ela.

O jogo lançado há menos de um mês no Brasil e há menos de dois no mundo reconfigurou um dos principais pontos de encontro dos jovens na capital Goiana, a Praça Universitária. Há pouco tempo ela se encontrava vazia até nos meses de aula das universidades que a rodeia, mas agora quase todos os dias ela está cheia de pessoas com um celular na mão, possivelmente procurando um Charmander ou capturando um Zubat, que são dois dos Pokémon’s encontrados no aplicativo.

Ana Amélia (24) e Tiago Epaminondas (26) são namorados e contaram para o Essência que a Praça Universitária é o principal ponto onde costumam se divertir com o jogo. O casal criou uma rota por onde podem caçar Pokémon’s e recarregar os itens em Pokestop’s. “Jogamos mais na Praça Universitária. Tem uma hamburgueria da cidade que nós vamos de vez em quando porque lá tem pokestop do lado. Tiago inventou uma rota pra gente sair pegando o máximo de pokestops e Pokémon, enquanto eu vou pesquisando pra ver qual parque e estabelecimento nós vamos,” diz Ana. 

Criando laços

Um dos principais pontos positivos do jogo para o casal é a interação que ele promove. Ele desperta a curiosidade daqueles que não têm tanta intimidade com jogos de celular e promove coleguismo entre os jogadores. O Tiago disse que muita gente questiona sobre o jogo, dos motoristas de Uber até pessoas aleatórias pelas ruas. “Pessoas que nunca tinha visto na minha vida, virando acompanhante na jornada de caçar Pokémon. Gente que odeia mas vai pra acompanhar os amigos", explica Tiago. 

Ana concorda com o namorada e completa dizendo que é um jogo de cooperação, no qual as pessoas se ajudam e trabalham juntas por mais que queiram capturar o mesmo Pokémon raro. “Os jogadores marcam de se encontrar nos locais que tem mais pokestops e chances de aparecer pokémon raros…É um jogo de cooperação que tem mais vantagens que desvantagens”, finaliza Ana. 

O jogo aparentemente simples tem como diferencial para um game mobile a realidade aumentada, que permite capturar Pokémon’s no ambiente real através da câmera de um celular, e a capacidade de interação entre os jogadores, que podem lutar entre si em Ginásios, espalhados pelo mapa da cidade, e se tornar mestres Pokémon. 

O consultor em Tecnologia da Informação Francisco Calaça destaca três pontos crucias para o sucesso do jogo. Primeiramente a nostalgia causada pelo jogo que é um fruto direto do anime dos anos 90, Pokémon. Segundo pela imersão no lúdico e na imaginação proporcionado pela realidade aumentada. E terceiro, e já citada, interação entre os jogadores. Para ele o último pode ser o ponto mais importante. 

É natural que em um primeiro momento tenhamos certo estranhamento com essa informação, já que nos últimos anos o mercado de jogos tenha focado tanto na realidade virtual como o futuro dos games, e que essa realidade coloca um óculos totalmente lacrado no rosto do jogador e o transfere para um outro mundo que não o nosso. Mas Francisco explica que a realidade virtual não isola o homem, e que a verdadeira tendência é a interação dos jogadores. Podemos perceber isso nos jogos mais famosos dos últimos anos como Minecraft, Dota e Counter Strke, que possuem em comum a forte característica da convivência entre jogadores que os jogos online proporcionam, sendo eles colaboradores ou adversários naquele universo.

O sucesso

Como já dito anteriormente, a realidade aumentada é uma das características que tornam Pokémon GO um sucesso sem parâmetros. Para o coordenador da Media Lab da Universidade Federal de Goiás (UFG), Cleomar Rocha, a realidade aumentada incorporada aos aspectos de encantamento, ou seja, aquela magia que os produtos do entretenimento consegue causar, resultam no êxito. “Pokemon traz no mínimo 2 elementos fundamentais de encantamento: o reconhecimento, identificado desde Aristóteles como fonte de prazer, e o uso de recurso tecnológico, que igualmente denota prazer, segundo a pesquisadora Janet Murray” explica.

Pokémon Go é um marco na história de jogos para celular graças a este poder de encantamento aliado a tecnologia. Nos Estados Unidos ele foi mais baixado que o aplicativo de relacionamentos, Tinder. Se talvez pensamos que o jogo só está surfando na onda do sucesso por ser uma novidade, tem muita gente que discorda: “Jogos desde sempre respondem por processos de integração e socialização. Estamos em meio aos jogos olímpicos, que expressam exatamente isto. Não se trata de modismo, mas do jogo com mo prática social”, completa Cleomar.

Ana Amélia também acredita na longevidade do game. “O jogo vai continuar sendo o sucesso que ele é para quem joga, é bom pra passar tempo, e é divertido, mexe com aqueles nossos sonhos de crianças de nos tornamos mestres pokémon” Expressa ela. Seu namorado Tiago concorda, mas diz em tom mais realista que o hype irá abaixar sim, como o de qualquer produto lançado na indústria, e que conforme as atualizações do jogo, as pessoas também vão revigorar suas apostas nele e voltarão a se hesitar como no inicio.

O outro lado

A tecnologia sempre foi motivo de encantamento e também de amedrontamento. Ela é uma ferramenta do homem e para ele. Pode ser usada tanto para fins nobres quanto para outros nem tanto. O sociólogo e historiador Wellington Cardoso Oliveira se mostra otimista e diz que a tecnologia é boa sim, mas pode ser usada tanto como uma ferramenta que conduz na educação do homem, ou pode ser uma ferramenta de alienação.

Para tentarmos refletir sobre a tecnologia na nossa realidade, e tentar pensar sobre outro angulo sobre o fenômeno Pokémon GO é necessário avaliarmos um mesmo fato sobre outro ponto de vista. Voltemos ao espaço público. 

Já chegamos a conclusão ao longo da matéria que um dos principais pontos da cidade para se caçar Pokémon é a Praça Universitária, local que abriga estudantes das duas universidades da cidade. Wellington destaca como é engraçado uma praça pública estar cheia de estudantes jogando enquanto o Congresso e o Senado Nacional está votando projetos que cortam pela metade os investimentos em educação, demonstrando que as pessoas estão alheias á uma autonomia critica e a educação. 

Não se trata de uma emburralização segundo Wellington, e sim de uma possível alienação que atinge alguns. Já Ana Amélia não vê o jogo como um possível alienador, e sim como uma diversão, um hobbie. “As pessoa não entende que a gente tá ali nas horas livres, a gente joga uma hora, uma hora e meia por dia …Depois voltamos pra nossa rotina de trabalho e estudos. Essa galera tem que entender que isso é um hobbie, a gente tá ali pra se divertir” ela explica. 

A segurança

Não tem como falar de Pokémon GO sem falar de um dos principais sintomas que ele vêm mostrando ter o Brasil: a segurança pública. O medo de andar pelas ruas com um celular na mão sempre assombrou aquela grande parcela da sociedade que pega ônibus ou tem que andar a pé pelas ruas do Centro de Goiânia. Quando Pokémon GO chegou ao Brasil, quais foram as primeiras denuncias em relação ao jogo? sim, denuncias de roubo. O jogo expõe toda a nossa falta de segurança e o quanto podemos estar reféns do perigo. 

Mas como os jogadores ocuparam os espaços públicos para se divertir e conseguiram se proteger dos perigos sociais? Talvez a resposta é que eles não conseguiram. Ana Amélia e Tiago já falaram logo que não procuram Pokémon a noite, e mesmo assim já tentaram assaltar ele duas vezes. “Quase fui roubado na praça universitária. Em um domingo, eu estava bem focado no jogo e não via aonde passava quando eu olhei pra cima, tinha uns 3 caras me olhando, eu nem prestei atenção quem eram direito, só coloquei o celular no bolso, dei meia volta e sai voando enquanto eu ouvia eles gritando "ei, você mesmo cabeludo, volta aqui, vem aqui’", conta ele. 

Pokémon GO está ocupando espaços públicos antes vazios e trazendo a interação e o coleguismo entre muitas pessoas que talvez nem se conheciam  antes. A possibilidade de usar a realidade virtual mexe com a imaginação dos usuários e faz do app um sucesso. Mas infelizmente ele demonstra que o Brasil tem feridas sociais expostas e ainda sem solução, e que o sonho de ocupar as nossas lindas praças sem se preocupar com a segurança ainda é um sonho. 

 

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