Pesquisa aponta interesse de brasileiros com a leitura
Brasileiros têm lido mais graças à internet, mas o amor pelo papel continua forte e, às vezes, é o modo mais indicado para a leitura
Milleny Cordeiro
As limitações são muitas: falta de tempo, impaciência, poucas bibliotecas, preços altos e, obviamente, a negação à leitura. No entanto, o brasileiro tem lido mais. É o que mostrou a última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, coordenada pelo Instituto Pró-Livro, executada pelo Ibope e divulgada em maio deste ano. O levantamento mostra que de 2011 a 2015, o número de leitores aumentou 6 pontos percentuais. São 104,7 milhões de adeptos à leitura, 56% da população.
O estudo também demonstra que a tecnologia, aliada à internet, tem ampliado as possibilidades de leituras e contribuído para o seu crescimento, principalmente entre os jovens de 18 a 24 anos.De acordo com a pesquisa, a proporção de leitores usuários de internet é relativamente superior (81%) a proporção de usuários de internet na população em geral (63%), além disso, mesmo com a presença de leitores digitais, como o Kindle e Kobo, tem-se lido mais em celulares e smartphones (56%).
A professora de inglês Beatriz da Silva Oliveira, 21, é uma amante de literatura, amor que se intensificou na adolescência e a fez comprar livros desde então. No entanto, a leitura não se limitou apenas às páginas de papel, e os livros digitais também ganharam o seu espaço. Beatriz é adepta do Kindle desde 2014, um aparelho que permite a compra, download e a leitura de livros digitais. “Eles são muito práticos e permitem levar vários livros para qualquer lugar”, diz.
Escolhas
Para a estudante de jornalismo Maria Ritha Ferreira, 21, quanto mais sujos, antigos e maltrapilhos for os livros, melhor! Claramente ela prefere “milhões de vezes” o livro físico, pois ele oferece ao leitor uma experiência sensorial que não é possível sentir ao folhear, ou melhor, passar as páginas digitais. Beatriz concorda que os livros de papel despertam outros sentidos no corpo humano e, para ela, “poucas coisas no mundo têm cheiro melhor do que de livro novo”.
Os livros físicos e digitais estão aí para serem escolhidos e utilizados mais em conjunto do que separados, não se trata de uma disputa, mas de completude. É claro que os dois sempre estarão sob escolhas e preferências, mas ambos trazem as suas vantagens e contribuições aos leitores. Beatriz faz uma leitura alternada, a escolha por um ou por outro dependerá muito da situação, “se encontro o livro por um preço razoável e posso compra-lo, opto pelo físico. Se não, baixo pela internet e leio no Kindle”.
Sempre que pode, Maria Ritha faz uso dos livros de papel, isso porque as telas “luminosas” as angustiam. “Essas tecnologias estão sempre dependendo de cabos, tomadas, limites de tempo, a sensação de estar presa não me atrai”. Por outro lado, ler livros digitais pode simbolizar a aquisição de conhecimento a custo baixo para aqueles que não podem pagar por livros físicos, principalmente na academia.
Como graduada em letras, Deborah Oliveira, 23, prefere degustar uma boa leitura em livros de papel. Como designer de conteúdo EaD (Ensino à Distância), ela reconhece a relevância dos ebooks. O seu trabalho está voltado para o desenvolvimento, edição e configuração de materiais onlines, como livros e apostilas. Ela defende que o educador precisa saber a hora de usar um ou outro e que é ganho para qualquer um se adaptar ao papel e à tela, o importante é alcançar o objetivo principal, seja a informação, formação, educação e/ou construção.
Leitura virtual exige concentração
Qualquer pessoa com acesso à internet e que tenha um gosto mínimo pela leitura já deve ter procurado em mecanismos de buscas “tal livro em PDF”. É rápido, fácil e sem maiores custos. O grande número de material disponível pode ser acessado pelo celular a qualquer momento e isso significa, para Beatriz, um incentivo maior à leitura. Deborah também acredita que, de modo geral, as tecnologias têm contribuído para o hábito da leitura, mas ela chama a atenção para a disciplina do leitor nesses casos.
Ler em celular é uma prática que pode ser constantemente interrompida, isso porque o número de informações que chegam a todo momento ameaça o foco do leitor. “Se falamos de um jovem que não consegue se concentrar, por exemplo, as plataformas virtuais não seriam apropriadas até que esse jovem saiba administrar suas prioridades”, afirma a professora. Deborah acredita que a tecnologia por si só não é capaz de administrar o que é lido e que, às vezes, é necessário optar por um livro de papel.
Qualidade
É inegável o quanto somos bombardeados com materiais e informações o tempo todo pela internet. Tal situação provoca em Débora uma preocupação não só mais com a quantidade e frequência em que lemos, mas a qualidade e profundidade do que lemos.
Ela reconhece que o público mudou e, logo, o produto livro também. “Há muita coisa boa sendo produzida na contemporaneidade, mas duvido de que as coisas mais lidas sejam de fato as melhores”, afirma. Além disso, a “era da instantaneidade” provoca nas pessoas o mínimo de esforço para compreender algo ou se aventurar em textos densos.
Amor
Maria Ritha e Beatriz Oliveira nutrem o amor pela leitura desde a adolescência. A primeira se denomina “piolho de biblioteca”; a segunda é apaixonada por eventos literários e tenta acompanhar todos os possíveis. Ambas reconhecem a importância da tecnologia na literatura, mas não ficam sem um livro impresso em mãos. Seja em tela ou em papel, as palavras são as mesmas, as emoções podem ser diferentes e é o amor pela leitura que move tudo isso.