Esse tal de rock in roll
Documentário apresenta panorama sobre o rock feito em Goiás e debate sua relevância dentro do cenário nacional e internacional
O rock feito em Goiânia tem uma identidade própria e uma cena estabelecida, e isso não é coisa recente. Os maiores festivais de música independente da Capital, por exemplo, já têm muitas milhas na estrada. O Goiânia Noise tem 22 anos, Vaca Amarela, 16, e Bananada 18, e isso só para ficar na idade dos eventos. Há bandas de todas as gerações, com cada vez mais lugar sob o sol, seja nas casas da Capital, fora do cercadinho goiano ou até mesmo nas rádios e festivais gringos mais descolados. O som que arrota pequi pode ser apreciado aqui e alhures.
E a relevância da cena de rock goiana é o tema central de Goiânia Rock(s), documentário produzido por Felipe Café e Fernanda Meireles, jornalistas graduados pela PUC de Goiás. O curta foi produzido entre 2015 e 2016 como um trabalho de conclusão de curso (TCC) e tem duração de 20 minutos. Durante este breve recorte de tempo, o filme busca apresentar ao público a relevância do cenário de rock goiano, em âmbito nacional, por meio de uma narrativa que procura um ponto de convergência entre as falas dos personagens, coordenando relatos de relevantes nomes do rock goiano e nacional, além de resgatar em vídeos, fotos e áudios alguns eventos e shows significativos da cidade.
Agora, o filme chegou ao Youtube para que amantes do rock acadêmicos ou não, possam ter acesso. A ideia do tema surgiu da familiaridade dos dois com a música feita em Goiás. “Precisávamos escolher um tema de interesse social e que nos interessasse, também, pois iríamos conviver com o assunto por um bom tempo durante o desenvolvimento do trabalho. Desta forma, pensamos: por que não escolher algo do qual fazemos parte? Algo que frequentamos e admiramos?”, diz Fernanda. E Felipe acrescenta: “Sem dúvida, nós fomos movidos pela vontade de tentar responder a uma pergunta que nos incomodava: a cena alternativa de Goiânia é realmente relevante? Nós já sabíamos que sim, mas não fazíamos ideia de como responder”. Daí, para alimentar esta vontade, pegar a câmera e correr de quem possa responder.
Uma das dificuldades que a dupla enfrentou foi aquele medo inicial diante de algo novo, segundo Felipe. “Acho que por sermos estudantes bateu um certo medo das pessoas não quererem participar deste projeto, mas, para nossa surpresa, todo mundo foi bem receptivo. Nesse cenário, percebemos o quanto um ajuda o outro, e isso nos empolgou mais ainda”.
E a conclusão a que chegaram é que, mesmo sendo consideravelmente nova, Goiânia é vista como parte importante de uma rede de cidades ao redor do mundo que abrigam cenas de rock alternativo. A Capital é palco de importantes festivais e ainda conta com selos e produtoras independentes, além de bandas de grande destaque nacional e internacional, sendo apelidada algumas vezes de Goiânia Rock City ou Seattle Brasileira.
Divulgar isto ajuda a criar uma nova visão da música feita em Goiás. “Eu acredito que não apenas os goianos, mas os brasileiros em geral – e o pessoal de fora também – têm de entender que nem só de axé vive a Bahia, nem só de samba vive o Rio de Janeiro, nem só de sertanejo vive Goiás. A diversidade cultural e musical de todas as regiões do País é muito rica e, por isso, é grande a importância de não estereotipar a musicalidade brasileira”, diz Fernanda.
Felipe afirma que o documentário não tem a pretensão de ser a história definitiva do rock goiano, mas que pode ser considerado, sim, um retrato fiel de uma cena em um recorte de tempo específico. “Acho bacana olhar para ele, agora, e ver não tem mais volta: de certa forma, ele sempre vai fazer parte da história da nossa cultura goianiense”, diz ele.
O filme conta com a limitação de tempo que rege um trabalho acadêmico, mas tem material de sobre e fôlego para ultrapassar as barreiras da universidade. Esta não é a primeira vez que o tema é abordado em produções audiovisuais, mas o filme é pioneiro em investigar a real relevância desta cena musical. O documentário conta com entrevista de pessoas fundamentais para a construção e a manutenção da cena em Goiânia: Fabrício Nobre, Pablo Kossa, Jadson Jr., Leo Bigode, Aline Carrijo, Carlos Brandão, Marcio Jr., João Lucas Ribeiro, Jimmy London, Carlos Eduardo Miranda e Dinho, vocalista da onipresente Boogarins.
Agora, segundo eles, é hora de fazer esse ‘filho’ ganhar o mundo. Primeiro com a divulgação do curta, e depois, com a expansão dele, já que o material reunido pode bem preencher um longa-metragem. “A vontade é de continuar com o projeto, sim, realizar mais entrevistas, desvendar outros eixos fora dos grandes festivais. Eu flerto muito com a internet, acho o lugar mais democrático que existe, fora que é gratuito, então é nela que eu gostaria que este projeto crescesse, mas nada nos impede de tentar participar de festivais, por exemplo”, diz o jornalista.
E a relação deles com esse tal de rock’n roll muda depois de um trabalho assim? Fernanda diz que o que muda é a “forma como passamos a ver alguns debates e posicionamentos”. Já Felipe diz que mudou um “cadinho”. “Antes, eu julgava a relevância musical de uma cidade pelo o simples fato deste local ter projetado uma banda, nacionalmente, como Brasília e a Legião Urbana ou a Nação Zumbi no Recife. Goiânia é nova, sofreu as mais diversas influências e, por isso, trilhou um caminho diferente. Somos relevantes pelos nossos festivais independentes, pela criatividade e por bandas reconhecidas e elogiadas por quem entende de música. Esta é a relevância dessa cena”, conclui.