O Hoje, O melhor conteúdo online e impresso - Skip to main content

quinta-feira, 29 de agosto de 2024
COMEMORAÇÕES

O jardim das artes

O Instituto Inhotim, um dos melhores museus de arte do mundo, comemora 10 anos, como um lugar de esperança para os artistas brasileiros

Postado em 10 de setembro de 2016 por Toni Nascimento
O jardim das artes
O Instituto Inhotim


Da Redação
Há dois anos, o site TripAdvisor fez um levantamento com os melhores museus do mundo. E só dois museus brasileiros entraram na lista. No ranking de 25, com base nas avaliações dos usuários do site, o primeiro do mundo é o Instituto de Artes de Chicago (EUA). O Instituto Ricardo Brennand, no Recife, está em 17º; e Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais, em 23º lugar. O interessante é que o site se baseou nas opiniões de turistas de todas as partes do mundo. E o mais interessante é que os dois museus brasileiros são relativamente jovens: o pernambucano data de 2002, e o mineiro só foi aberto ao público em 2006. Já aclamado como um dos melhores museus de arte do mundo, o Instituto Inhotim chega agora à sua primeira década, e a data merece ser comemorada.

O maior centro de arte ao ar livre da América Latina começou a ser idealizado pelo empresário mineiro Bernardo de Mello Paz a partir de meados da década de 1980. Paz, empresário da área de mineração e siderurgia, foi casado com a artista plástica carioca Adriana Varejão, e há 20 anos começou a se desfazer de sua valiosa coleção de arte modernista, que incluía trabalhos de Portinari, Guignard e Di Cavalcanti, para formar o acervo de arte contemporânea, que agora está no Inhotim.

O local, dentro do domínio da Mata Atlântica, se transformou com o tempo, tornando-se um lugar singular, com um dos mais relevantes acervos de arte contemporânea do mundo e uma coleção botânica que reúne espécies raras e de todos os continentes. Segundo os moradores de Brumadinho, o local foi uma fazenda pertencente a uma empresa mineradora que, no século 19, atuava na região e cujo responsável era um inglês, de nome Timothy – o “Senhor Tim”, que, na linguagem local, acabou virando “Nhô Tim” ou “Inhô Tim”.

O Inhotim é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), e tem construído ainda diversas áreas de interlocução com a comunidade de seu entorno. Com atuação multidisciplinar, o Inhotim se consolida, a cada dia, como um agente propulsor do desenvolvimento humano sustentável. Em 2002, foi lançada a fundação do Instituto Cultural Inhotim, destinada à conservação, exposição e produção de trabalhos contemporâneos de arte e que desenvolve ações educativas e sociais. Em 2006, foi a abertura ao grande público, em dias regulares e com estrutura completa para visitação, e, em 2010, recebeu do título de Jardim Botânico pela Comissão Nacional de Jardins Botânicos (CNJB).

No ano passado, o museu atingiu a marca de dois milhões de visitantes, o que é muito, considerando que se trata de um museu de arte contemporânea em uma cidade do interior. Ao todo, são 450 obras de artistas brasileiros e estrangeiros, com destaque para trabalhos de Cildo Meireles, Tunga, Vik Muniz, Hélio Oiticica, Ernesto Neto, Matthew Barney, Doug Aitken, Chris Burden, Yayoi Kusama, Paul McCarthy, Zhang Huan, Valeska Soares, Marcellvs e Rivane Neuenschwander.

Tunga

Um dos artistas centrais de Inhotim, Tunga faleceu no dia 6 de junho deste ano. Ele foi homenageado na promação de 10 anos do museu, com direito a uma visita à sua obra Deleite, na galeria True Rouge, e ainda à degustação de uma sopa vermelha, à base de beterraba, em referência à cor que sempre esteve muito presente em seu trabalho. O tributo se repetiu com a performance Xifópagas Capilares Entre Nós, pela manhã, e leitura das narrativas do artista plástico. A coreógrafa Lia Rodrigues, parceira profissional de Tunga, coordenou uma nova encenação da obra True Rouge. Na performance, homens e mulheres nus espalham gelatina vermelha, por seus corpos e pela obra, enquanto o material vai se depositando no piso da galeria. 

Tunga nasceu Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, e foi um grande escultor, desenhista e artista performático brasileiro, um dos maiores – diga-se. É considerado uma das figuras mais emblemáticas da cena artística nacional: foi o primeiro artista contemporâneo do mundo e o primeiro brasileiro a ter uma obra exposta no icônico Museu do Louvre em Paris. Tem obras em acervos permanentes de museus, como o Guggenheim de Veneza, e galerias dedicadas à sua obra no Instituto Inhotim.

A existência e persistência do Instituto Inhotim renova as esperanças dos artistas brasileiros e, certamente, internacionais. Traz, portanto, um novo suspiro para o meio artístico, sedento de contemplação, respeito, e, principalmente, espaço para expor ao mundo o melhor dos seus trabalhos.

Veja também