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quinta-feira, 28 de novembro de 2024
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CELEBRAÇÃO

Gente de memória, experiência e sabedoria

No dia 1º
de outubro, comemora-se o Dia do Idoso: respeito e cuidado são primordiais para convivência com essa gente sabida

Postado em 1 de outubro de 2016 por Sheyla Sousa
Gente de memória
No dia 1º

Davi de Oliveira é mais velho que os Estados Unidos. Pelo menos é o que ele diz, e ai de quem desacreditar. Tempo é coisa relativa mesmo, talvez até subjetiva, e que vem de dentro. No tempo oficial, seu Davi nasceu em 1942, ou seja, é pelo menos 166 anos mais novo que o País. De São Paulo, hoje sua moradia é o asilo de Colinas, Tocantins. Mas está lá “só de passagem”, faz questão de destacar. Na mesma passagem, estava José Prejentino Filho. Para ele, era dia de visita da família. 
Há 19 anos, um acidente de moto fez com que seu José perdesse os movimentos das pernas. A visita da família o alegra. As quatro filhas e os quatro filhos vão visitá-lo sempre que possível. Mesmo que as visitas sejam esporádicas, seu José não desgosta do asilo. Ele gosta dos cuidados que recebe. A vida, no auge de seus 65 anos, não está nem perto do fim para ele. Já viveu muito, confessa, inclusive, que já morou com mais de 30 mulheres – os motivos de tanta mudança ninguém sabe.  “Goool!” Gritaram de dentro da televisão. A atenção ao jogo em que a França acaba de pontuar volta a ser única ao lado dos filhos. 
A história da chegada de Antônio Bezerra da Silva no asilo é de tristeza. Foi levado ao abrigo depois de ser atacado com 21 facadas investidas por um homem em situação de rua. Ele conta a história e mostra as cicatrizes. Seu Davi e seu José interrompem para falar para Vinicius Pontes, que faz um trabalho de fotografia da faculdade no asilo, que o amigo Antônio talvez não bata muito bem das ideias. No entanto a lucidez com que a conversa continua com seu Antônio prova o contrário. O idoso gosta de aconselhar os mais novos. “Ninguém tem amigos, só podemos confiar em Deus e em Nossa Senhora”, avisa.  
A diretora do asilo contou que sua filha usou seu nome para um empréstimo e nunca mais voltou. As memórias, por vezes, ficam armazenadas em objetos. Seu Antônio escolheu uma carteira. É a carteira da sorte. “Foi Deus que me deu”, credita. Ele havia pedido uma carteira cheia de dinheiro a Deus, e encontrou essa no meio da rua. Ele mostra, então, uma bolsinha que contém uma nota falsa de R$ 100, dessas de propaganda, e uma moeda de cruzeiro com um imã pregado. A pedrinha, como ele chama, já estava lá quando encontrou, portanto preferiu não tirar para não dar azar. Além da carteira, seu Antônio tem um radinho, mas conta em segredo: “Acho que ele está doente, ele contava muita história para mim, e hoje não fala mais nenhuma Carolina; vou dar milho para ele ficar forte depois”.
Depois da vivência de passar a tarde no local, Vinicius Pontes entendeu que asilo é lugar de memória. De história são feitas todas as pessoas. Os anos passam, e a idade chega, e todos teremos alguns contos ou causos para contar. Alguns podem até entrar em delírios e inventar ou aumentar histórias, mas nenhum ser humano, quando envelhece, vive só de presente. Assim como os jovens vivem de futuro. O Alzheimer chega, no entanto, para bagunçar as memórias. De acordo com a Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), “a doença de Alzheimer é uma enfermidade incurável que se agrava ao longo do tempo, mas pode e deve ser tratada. Quase todas as suas vítimas são pessoas idosas. (…) A doença se apresenta como demência ou perda de funções cognitivas (memória, orientação, atenção e linguagem), causada pela morte de células cerebrais”. Por isso a luta contra a doença é engajada, e o dia 21 de setembro foi marcado como Dia Mundial da Doença de Alzheimer.

O Dia do Idoso
Hoje, 1° de outubro, é o Dia do Idoso. A data foi escolhida em referência ao dia em que foi aprovado o Estatuto do Idoso em 2003. Os sete anos que antecederam a promulgação foram protagonizados por um debate intenso entre a Câmara dos Deputados e representantes da sociedade em busca da formulação do estatuto. O objetivo de sua criação foi o de garantir a especificidade dos direitos da pessoa idosa. O estatuto estabelece que é prioridade o direito a vida, saúde, alimentação, educação, cultura, esporte, lazer, trabalho, cidadania, liberdade, dignidade, respeito e convivência familiar e comunitária.
Com a promulgação do estatuto, ao passo em que os idosos tornam-se especificamente garantidos pelos direitos ali listados, os jovens tornam-se os responsáveis por essa garantia. De acordo com a lei, é considerada idosa toda pessoa com 60 anos ou mais. É por meio do estatuto que é garantido o direito do idoso à prioridade no atendimento em órgãos públicos e privados, desde que prestadores de serviços à população; preferência na formulação e na execução de políticas sociais públicas específicas; destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção ao idoso, dentre outros, formando nove itens de prioridade para a pessoa idosa.
O texto oficial também veta e criminaliza qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão. Além disso, o texto destaca a responsabilidade de todos em prevenir a ameaça ou violação aos direitos do idoso. Dentre todas as instâncias de direito do idoso, a que é por muitas vezes esquecida é a do direito ao lazer. No estatuto, é determinado que a pessoa idosa tenha direito a cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços desde que sejam respeitadas as peculiaridades da condição de sua idade. 
Dessa maneira, é dever do poder público garantir esse acesso, tanto que diversos municípios de Goiás receberam as academias ao ar livre, que são de uso prioritário de idosos. Dentre os municípios que oferecem o espaço, geralmente em praças, estão Goiânia, Valparaiso de Goiás e Águas Lindas. Cursos especiais para idosos também devem ser assegurados, principalmente os relativos a comunicação, computação e demais avanços tecnológicos. Também a participação das pessoas com 60 anos ou mais em eventos culturais deve ser facilitada por meio de descontos de pelo menos 50% nos ingressos para eventos artísticos, culturais, esportivos e de lazer. Não só têm o direito ao desconto, como devem ter acesso preferencial aos locais.

Expoentes

Os idosos são pessoas que já viveram muito e fizeram muito também. Isso, no entanto, não quer dizer que eles não tenham mais o que fazer. Tanto que não são poucas as pessoas que realizaram grandes feitos e foram reconhecidas por seu trabalho e talento depois de adentrarem a terceira idade. Aqui, portanto, listamos nomes de cinco mulheres que se tornaram expoentes culturais quando a juventude já estava apenas na memória.

1. Cora Coralina
A escritora e poetisa goiana ganhou reconhecimento nacional e mundial pela forma com que conseguia transformar sentimentos em palavras. Não é à toa que grande parte das bibliotecas do Estado de Goiás homenageie Cora em seus nomes. Não se sabe quando o talento foi aflorado na poetisa, mas é fato que somente aos 76 anos de idade Cora publicou seu primeiro livro, Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais (1965). A escritora ficou conhecida por ser dona de uma poética rica com temáticas do cotidiano do interior goiano, mais especificamente, da Cidade de Goiás, em que morava.

2. Dercy Gonçalves
A atriz brasileira tinha 58 anos quando entrou para a TV Excelsior. Para a lei, ainda não era considerada idosa, mas é preciso reconhecer que, apesar da rica história atuando antes disso, o auge de sua carreira deu-se já depois dos 60. Conhecida por sua irreverência, conquistou o público brasileiro por seu talento e jeito destemido de falar o que vinha à cabeça. 
O programa de auditório Dercy de Verdade, que apresentou na globo entre 1966 e 1969, foi um dos responsáveis por seu sucesso. Mas o programa teve de ser interrompido por causa da censura imposta pelo AI-5. Nos anos 1980, com o fim da censura, passou a compor corpos de jurados em programas populares no SBT e fazia aparições em telenovelas globais. Dercy seguiu viva e irreverente até o fim de sua vida, em 2008, com 103 anos.

3. Elza Soares
A carreira da cantora começou quando ainda era nova, mas no ano passado, aos 78 anos, Elza Soares lançou o primeiro álbum de inéditas. A Mulher do Fim do Mundo é um disco com canções que discutem questões de gênero, raça, classe e sexualidade, e chegou para marcar a história da cantora e da música brasileira. É verdade que trata-se do seu 34ºálbum de estúdio, mas é preciso dizer que A Mulher do Fim do Mundo é o grande feito de Elza na terceira idade.

4. Mary Wesley
A escritora britânica Mary Wesley lançou seu primeiro livro, The Camomile Law, aos 71 anos, em 1983. Depois disso, escreveu mais nove livros, dos quais três foram transformados em filme. Quem conviveu com ela conta que o senso de humor e a generosidade eram as principais características de Mary.

5. Grandma Moses
Renomada artista folk americana, Grandma Moses pintava cenas rurais. A grande estreia de Grandma foi, em 1938, quando o engenheiro e colecionador Louis J. Caldor viu suas pinturas, em uma vitrine de drogaria, e comprou todas de uma vez. No ano seguinte, quando ela tinha 79 anos, o Museum of Modern Art (“Museu de Arte Moderna”) mostrou três das suas pinturas em uma exposição chamada Contemporary Unknown American Painters. Suas paisagens brilhantes e pinturas de fazendas, que ela rotineiramente vendia a conhecidos por três ou cinco dólares cada (entre R$ 6 e R$ 10), rapidamente começaram a render milhares de dólares.

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