‘A saliva é o termômetro da saúde bucal’, diz especialista
Vice-presidente da Associação Brasileira de Halitose explica que cuidar da saliva pode ser crucial para manter a saúde da boca
Elisama Ximenes
Comprar balinhas para disfarçar o mau hálito é um costume de quem se flagra com um cheiro ruim na boca no meio da tarde. Uma vez ou outra é até comum, mas se isso se tornar recorrente é preciso entender do que se trata. O mau hálito é um problema de saúde e que afeta a auto-estima de quem é sua vítima. Ao contrário do que se pensa, o estômago é um dos vilões mais inofensivos da saúde bucal. A saliva, entretanto, é o maior causador do hálito ruim, sendo responsável por 90% dos casos. O estômago, por outro lado, tem culpa somente em 1% dos casos de halitose.
Quem explica como isso funciona é a vice-presidente da Associação Brasileira de Halitose (ABHA), a cirurgiã-dentista Karyne Magalhães. Para quem ainda está em dúvida, halitose é o nome dado ao famoso mau hálito. Sabendo que a saliva é a principal vilã do bom cheiro bucal, os cuidados devem estar voltados para ela. Mas, antes de tudo, é preciso perceber quando algo está errado com a boca. Karyne explica que um dos sinais mais perceptíveis é a sensação de boca seca, também chamada de xerostomia. “Ela pode ser causada por desidratação ou até pela ansiedade”, explica. Se existe essa sensação na boca, significa que algo não está normal.
“A pessoa com boca seca tem dificuldade para conversar e sente a língua encostar no céu da boca como se fossem dois plásticos. Além disso, ela pode engasgar mais e ter uma certa rouquidão na voz”, detalha. A saliva é responsável por proteger o sistema, segundo Karyne. De acordo com ela, a salivação pode evitar, por exemplo, inflamações estomacais e no esôfago. Além disso, ela é responsável pela proteção contra bactérias, vírus e todos os tipos de micróbios. A digestão também tem grande participação da saliva. Por isso quem produz pouca saliva tem dificuldades para comer.
Outra função importante da saliva e que é pouco percebida é no paladar. Apesar de a língua ser a principal responsável, sem a saliva não é possível ter a sensação total de gosto. Por isso, quando ficamos doentes, com febre, e a produção de saliva é reduzida, sentimos menos o gosto das comidas. Karyne gosta de dizer que “a saliva é o termômetro da saúde bucal”. O baixo nível salivar também faz com que apareçam placas indesejadas na boca. É o caso das massinhas brancas com cheiro extremamente desagradável que podem aparecer. Quando se tem menos saliva, as bactérias e resíduos alimentares acumulam-se nas amídalas, produzindo o casco amidaliano – que é seu nome científico.
A respiração de boca aberta também é uma prejudicial para a saúde bucal. Isso porque o ar respirado resseca a boca. “O certo é a respiração ortonasal, pelo nariz. Durante a noite, um organismo saudável produz apenas 40ml de saliva; quem dorme de boca aberta produz menos ainda, ou seja, é muito prejudicial”, explica a cirurgiã-dentista. Além disso, a sequidão também é uma aliada para a chegada de cáries e o aparecimento de gengivites. A higiene matinal, portanto, é importante para inibir o mau hálito, com o qual todos acordamos, e torna-se ainda mais importante para quem dorme com a boca aberta.
Por falar em higiene, Karyne lembra da importância de escovar os dentes com escovas de cerdas macias, creme dental e fio dental. Mas ressalta que a higiene pode ser ainda mais eficiente se feita com produtos recomendados por um cirurgião dentista que conheça a saúde da sua saliva. Ao contrário do que dizem as propagandas, Karyne explica que anticépticos não são recomendados e que creme dental tem função limpante e não tem como agir como clareador dental. Para mais que os hábitos de higiene, tomar água também é um dos principais aliados da saúde bucal. A longo prazo, idas frequentes ao dentista são cruciais e, por vezes, elas podem vir acompanhadas de tratamento psicológico.
A seguir, algumas dicas divulgadas pela ABHA para combater o mau hálito:
• Alimente-se com intervalo máximo de quatro horas para evitar a hipoglicemia e estimular a salivação.
• Alimentos cítricos, como a laranja, estimulam as glândulas salivares a produzir saliva, refrescando o hálito.
• Faça uma boa higienização após as refeições, escovando os dentes, usando fio dental – e limpador lingual quando possível.
• Faça visitas periódicas ao dentista e ao médico.
• Tome diariamente bastante água para se hidratar e incentivar a produção de saliva, lembrando que 99% da constituição da saliva é água. Uma conta simples é 35ml de água para cada quilo de peso corporal.
• Evite a automedicação e, sempre que possível, converse com seu médico para substituir medicamentos que causam sensação de boca seca.
• Sinusites crônicas, diabetes, problemas hepáticos e renais, distúrbios intestinais, dentre outros, podem gerar mau hálito.
• Evite anticépticos bucais com álcool na formulação, pois eles ressecam a mucosa bucal e agravam ainda mais o problema do mau hálito.
• Cuidado com dietas muito restritivas, que podem causar carências nutricionais e cetose, que podem gerar halitose.
• Tente controlar o estresse, já que o fluxo salivar tem relação direta com o equilíbrio do sistema nervoso central.