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quinta-feira, 28 de novembro de 2024
RELIGIÃO URBANA

É preciso ouvir como se não houvesse amanhã

20 anos após a morte de Renato Russo, Dado e Bonfá se apresentam
em Goiânia

Postado em 29 de outubro de 2016 por Sheyla Sousa
É preciso ouvir como se não houvesse amanhã
20 anos após a morte de Renato Russo

Há 20 anos, o rock brasileiro perdia um de seus maiores expoentes. Renato Russo liderou a Legião Urbana e a transformou numa banda de 25 milhões de discos. Foi autor de canções que, 20 anos depois, ainda estão na ponta da língua de sua legião de seguidores. Renato Manfredini Júnior nasceu no Rio de Janeiro no dia 27 de março de 1960. Filho do funcionário público do Banco do Brasil Renato Manfredini, com a professora de inglês Maria do Carmo, viveu dos 7  aos 10 anos em Nova York (EUA) por conta de uma transferência profissional de seu pai. 
Aos 13 anos, de volta a Brasília, Renato estudava e levava uma vida típica dos adolescentes de classe média da capital federal quando, entre os 15 e 16 anos, enfrentou uma rara doença óssea, a epifisiólise – que o deixou por um período entre a cama e a cadeira de rodas. Já nesta época, criava bandas e movimentos imaginários. Começou também a compor letras e músicas, compulsivamente, em casa.
Em seguida, formou a banda Aborto Elétrico, em 1979. Era uma banda seminal que deu origem à carreira de Renato Russo como músico, compositor e intérprete. Precedeu a fase de “trovador solitário” e continha traços do punk, massificado no mundo, um ano antes, pelos Sex Pistols. Após se recuperar da doença que o acometia na época, o jovem Renato descobre, incentiva e participa do movimento punk em Brasília. Numa das festinhas organizadas pela galera, Renato conhece André Pretorius, com quem decide formar uma banda. Eram os integrantes: Renato, nos vocais e no baixo; André, na guitarra, e Fê Lemos na bateria. 
No vai e vem de formações, o Aborto Elétrico contou com participações também do irmão de Fê, Flávio Lemos. Naquela época, várias músicas do repertório da Legião Urbana e do Capital Inicial foram criadas – como Que País é Este?, Veraneio Vascaína e Química. Esta última, aliás, foi o pivô do fim da banda. A primeira apresentação do Aborto Elétrico foi no dia 11 de Janeiro de 1980, no bar Só Cana, do Centro Comercial Gilberto Salomão, reduto da juventude de Brasília. 
Fizeram parte da Turma da Colina junto à Plebe Rude e outras bandas. As brigas entre Fê Lemos e Renato Russo eram frequentes. Em 14 de dezembro de 1981, o Aborto Elétrico fez um show, no Distrito Federal, e Renato havia sumido, antes do show, por conta da morte de John Lennon. Fê Lemos ficara irritado. Quando Renato errou uma música, o baterista atirou uma baqueta nele, acertando a cabeça. Renato foi em direção a Fê e decretou o fim da banda.
Os irmãos Lemos foram até a casa de Renato e pediram para que eles continuassem, até que Renato topou. Mas, quando mostrou a música Química para Fê, o parceiro de banda teria dito que a canção era horrível e que Russo perdera a habilidade para fazer músicas. Então, em março de 1982, foi decretado o fim do Aborto Elétrico.
Como numa despedida oficial, Fê chamou Renato para uma última apresentação. Renato foi, e o Aborto Elétrico teve a sua derradeira aparição. Seis meses depois do fim da banda, Fê e Flávio Lemos formam o Capital Inicial. Em 1987, André Pretorius morreu de overdose na Alemanha. 
Em 1882, Renato abandonou o Aborto Elétrico e passou a fazer trabalhos solos. Neste período, ficou conhecido como O Trovador Solitário. Fazendo shows com seu violão de 12 cordas, criou músicas como Faroeste Caboclo, Eduardo e Mônica, Música Urbana 2 – dentre outras –, já cansado de tocar sozinho, no mesmo ano foi em busca de novos parceiros para um trabalho em grupo. 
A Legião Urbana surgiu quando Renato se juntou a Marcelo Bonfá, Eduardo Paraná (hoje conhecido como Kadu Lambach) e Paulo ‘Paulista’ Guimarães, ainda em 1982. Dinho Ouro Preto também tocou guitarra em poucos shows do início da banda. No ano seguinte, Paulista e Paraná deixam a formação original, e Dado Villa-Lobos assume a guitarra.
Uma gravação demonstrativa chegava às mãos de executivos da EMI-Odeon no Rio de Janeiro. Nesta fase, a banda contou com o importante apoio de Herbert Viana, do Paralamas do Sucesso, que havia sido contratada pela gravadora e já os conhecia e admirava. Assim a Legião Urbana foi contratada para lançar seu primeiro álbum, que foi produzido em 1984 e lançado nos primeiros dias de 1985. Momentos antes dessa gravação, o músico Renato Rocha, o Negrete, passa a integrar a banda como baixista, posto antes ocupado por Renato Russo. A partir dali, nasceriam discos marcantes e grandes sucessos. 
Em 1993, Renato iniciou a carreira solo, paralelamente aos últimos álbuns da Legião, e lançou The Stonewall Celebration Concert, disco de ‘militante’, cujo nome é referência ao bar nova-iorquino onde, em 1969, gays se rebelaram contra a ação política. O álbum Stonewall também é uma homenagem ao seu ex-namorado, então recém-falecido, Scott, e continha músicas de Madonna e Bob Dylan – dentre outros. No ano seguinte, lançou Equilíbrio Distante, interpretando canções italianas, de cuja sonoridade, combinada à sua descendência, Renato gostava muito. O disco apresenta sucessos como Strani Amori, La Solitudine e La Forza Della Vita. Segundo o próprio Renato, o álbum foi feito em homenagem à sua família. 
Renato morreu em 11 de outubro de 1996, com apenas 36 anos, por broncopneumopatia, septicemia e infecção urinária, consequências do contágio pelo vírus HIV. Ele descobriu a doença em 1989, mas nunca assumiu publicamente ser portador. Em 1997, é lançado o disco póstumo O Último Solo, com gravações inéditas que não entraram em seus CDs solo anteriores. Em 2003, sete anos após a morte de Russo, a EMI lança Presente, trazendo duetos e trechos de entrevistas gravadas em áudio.
Em 2006 surge o CD/DVD Uma Celebração, gravado pelo canal de TV Multishow – em parceria com a EMI – com músicas interpretadas ao vivo por vários artistas. Em 2008, sai o CD O Trovador Solitário, com gravações caseiras de Renato, em 1982. E, em 2010, ao celebrar os 50 anos que Renato Russo faria, a EMI lança o álbum Duetos, montado com gravações de Russo e participações póstumas de vários artistas.
O ecletismo é uma das marcas das obras de Renato, que foi gravado por artistas diferentes entre si – como a banda punk argentina Attaque 77 e o cantor romântico brasileiro Nelson Gonçalves. Também teve canções registradas nas vozes de Simone, Ricky Martin, Jerry Adriani, Cássia Eller e Zélia Duncan – dentre outros. Já Leila Pinheiro homenageou Renato com o álbum Meu Segredo Mais Sincero. Em parceria com a amiga Marisa Monte, compôs Soul Parsifal.
Renato Russo é um clássico eterno de nossa cultura. Ele não foi simplesmente autor ou intérprete. Permanece como um ídolo de milhões de pessoas que, até hoje, mesmo depois de passados duas décadas anos de sua morte, admiram e divulgam suas ideias, letras, músicas e imagem. Sua obra reúne o lirismo da MPB com a energia do movimento punk rock dos anos 80. As letras poéticas são rebuscadas e têm grande apelo popular. 
Atualmente, a obra do líder da Legião Urbana está dividida entre os ex-integrantes da banda (Dado Villa Lobos e Marcelo Bonfá) e o filho de Russo, Giuliano Manfredini. As desavenças envolvendo os ex-integrantes e a família de Renato Russo iniciaram-se após a morte do cantor, envolvendo os direitos artísticos da banda e sua gestão. Uma troca de acusações entre as partes diz respeito também à utilização do nome Legião Urbana.
Em um show histórico, no auge da popularidade da banda, Renato Russo, ao perceber o tamanho da criatura que havia ganhado vida própria por suas mãos, foi ao microfone e proclamou ao mar de fiéis à sua frente: “A gente está aqui no palco, mas a verdadeira Legião Urbana são vocês”. A verdadeira Legião Urbana, ainda mais numerosa do que na década de 1980, não deve estar muito feliz com essa pendenga.

Clássicos da Legião Urbana em versão indie e em show de ex-integrantes

As bandas Far From Alaska, Molho Negro , Selvagens à Procura de Lei e Vespas Mandarinas integram o elenco indie de disco idealizado por Giuliano Manfredini em tributo a Renato Russo, cuja morte completou 20 anos em 11 de outubro. Filho do cantor e compositor carioca projetado como vocalista e compositor da banda brasiliense Legião Urbana, Giuliano quer conectar a obra do pai ao universo do indie rock brasileiro.
Intitulado Viva Renato Russo – 20 anos, o tributo também traz no elenco as bandas Codinome Winchester, Republica, Supercordas  Uh La La!. Integrante da extinta banda brasiliense Finis Africae, Ronaldo Pereira também cuida da produção do disco, feito sob a direção artística de Giuliano. O álbum chegou ao mercado fonográfico, neste mês de outubro, com edição física em CD distribuída gratuitamente a algumas instituições e fãs-clubes. Já a edição digital vai estar disponível em plataformas de streaming. 
A Legião Urbana também será celebrada em Goiânia. No mês em que a morte do cantor e compositor Renato Russo completa 20 anos, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá vêm a Goiânia para show da turnê XXX, da Legião Urbana. O espetáculo celebra os 30 anos do lançamento do primeiro LP do grupo, e ocorrerá no pavilhão verde do Centro de Convenções neste sábado (29) às 20h.  
O show promove o reencontro da Legião Urbana com seus antigos e novos fãs. Uma celebração a Renato Russo e aos 30 anos do primeiro disco da banda, lançado em 1985 e que virou uma referência do rock nacional, uma verdadeira coletânea de sucessos como Será, Soldados, Geração Coca-Cola, Teorema, Por Enquanto e tantos outros hits.
A história do show surgiu no ano passado. No começo do ano 2015, Dado e Bonfá receberam da EMI – hoje parte da Universal Music – a proposta de lançar uma Edição Especial do primeiro disco da banda, lançado em 1985, também chamado de Legião Urbana. Surgia então o projeto Legião Urbana – 30 Anos. Uma edição especial que, além de trazer o disco original remasterizado, trazia um outro disco contendo algumas pérolas e raridades cuidadosamente guardadas nos cofres da gravadora.
O processo de mexer com todas essas fitas, de ver aquelas fotos, de ler aqueles textos e, principalmente, de ouvir aquelas primeiras versões das suas músicas exatamente como elas foram criadas foi realmente emocionante. Tanto que acabou despertando a vontade do Dado e do Bonfá de estar juntos tocando de novo. 
Dessa vontade, surgia uma segunda ideia: a de chamar alguns amigos e montar um show para tocar o primeiro disco na íntegra. Mas para evitar erros ou mal-entendidos, sempre deixando claro que não existe possibilidade alguma de “volta” da Legião Urbana. Como já disseram inúmeras vezes, a Legião – como banda– acabou junto com a morte do Renato em 1996. Renato Russo é único e insubstituível.
Pensado inicialmente para ocorrer no último trimestre de 2015, o projeto se estendeu até 2016. Isso porque, além de tocar nas principais capitais do País, existe a vontade do Dado e do Bonfá de tocar em algumas cidades nas quais nunca chegaram com a Legião. Os shows serão divididos em duas partes: na primeira parte, o primeiro disco na ordem original, e, na segunda parte, alguns dos clássicos da banda junto a cantores e cantoras convidados.
Acompanham Dado e Bonfá no palco: na segunda guitarra Lucas Vasconcellos da banda Letuce; no baixo, Mauro Berman, que toca na Cabeza de Panda e com Marcelo D2; e nos teclados Roberto Pollo. Quem divide os vocais com o público é o ator e cantor André Frateschi.
O quarto integrante da Legião Urbana Negrete só fez parte do primeiro álbum da Legião, inclusive aparece na foto de capa. Em 2012, Renato Rocha foi assunto de reportagem do programa Domingo Espetacular, da rede Record. O programa contava que o ex-baixista tinha virado morador de rua em São Paulo. Em 2013, ele tocou no show-tributo a Renato Russo em Brasília. No ano passado, foi encontrado morto em um hotel do Guarujá, cidade no litoral sul de São Paulo.

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