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quinta-feira, 28 de novembro de 2024
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SAMBA

Dona Ivone Lara recebe Ordem do Mérito Cultural

Condecoração do governo brasileiro celebrou centenário do samba e homenageou dona Ivone Lara

Postado em 8 de novembro de 2016 por Sheyla Sousa

Foi pisando “devagarinho” no chão do samba que ela se tornou rainha de um mundo quase que integralmente masculino. Yvonne da Silva Lara, conhecida como Dona Ivone Lara, desde pequena sabia o dom que carregava, a ancestralidade que representa e já tinha pistas da pioneira que viria a se tornar. Mas não foi sem dificuldades e resistência que ela construiu uma carreira de sucesso e que, aos 95 anos, é reverenciada por onde passa. Na segunda-feira (7), no Palácio do Planalto, a sambista recebeu mais uma honraria. A cerimônia da Ordem do Mérito Cultural, principal condecoração anual do governo brasileiro à área da cultura, desta vez celebrou o centenário do samba e tem o nome de dona Ivone Lara como a grande homenageada.
Aos 12 anos, órfã de pai e mãe, a criança que já começava a se apaixonar pelo choro e samba, compôs Tiê, Tiê, uma música simples que repete a expressão que ouvia de sua avó, filha da escravidão: “Oialá-oxa”. Apesar de ter crescido próxima a músicos e se casado com o filho do dono de sua primeira escola de samba, Prazer da Serrinha, não foram estes os únicos motivos que levaram a jovem Ivone Lara a ganhar projeção.
Obrigada a lidar com o preconceito por ser mulher, ela abriu mão da autoria de suas primeiras composições para que fossem aceitas. Um primo, Mestre Fuleiro, assinava as letras, e Ivone Lara, de perto, acompanhava a reação do público. “Ela sabia que se apresentasse as músicas como dela seria rejeitada. Vai pisando nesse chão devagarinho, como ela mesma cantou. Só quando percebe que já tem lugar cativo naquele meio é que se revela compositora”, conta a jornalista Mila Burns, autora do livro Nasci Pra Sonhar e Cantar (2009), sobre a sambista.
E a tática deu certo. Primeira mulher a fazer parte da ala de compositores de uma escola de samba e a criar um samba-enredo, em 1965 ela foi convidada para compor, ao lado de outros dois parceiros, o samba-enredo com a qual a Império Serrano desfilaria no Carnaval em homenagem aos 400 anos do Rio de Janeiro.
O samba Os Cinco Bailes da História do Rio, composto por Silas De Oliveira, Dona Ivone Lara e Bacalhau, no Carnaval de 1965, é reconhecido até hoje como um “clássico e um dos mais importantes sambas-enredos”, segundo o professor Edson Farias, doutor em Ciências Sociais e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). De acordo com ele, o próprio fato de fazer parte do grupo de compositores de uma escola de samba que logo cedo ganhou muitos títulos já significava o “prestígio” e a visibilidade que dona Ivone Lara passou a desempenhar no cenário carioca e nacional. “Na música, no mundo do samba, os compositores são majoritariamente homens. E esse é um papel importante porque, no Brasil, o compositor goza de um papel de intelectual. Quando Dona Ivone Lara se consagra, e suas músicas de sucesso são cantadas por grandes nomes não só do mundo samba, ela extrapola para um espaço que a princípio era negado às mulheres pelas relações sociais de gênero”, relata.
Nos anos seguintes, a sambista continuou fazendo o que mais gosta, embora não tenha deixado de trabalhar como enfermeira até se aposentar e, enfim, dedicar-se exclusivamente à música. Délcio Carvalho foi seu mais constante parceiro. Ao lado dele e de outros compositores, Dona Ivone criou canções que fazem sucesso até hoje e que foram gravadas por diversos intérpretes, como Acreditar (1976), Alguém Me Avisou (1980), Tendência (1981), Nasci Para Sonhar e Cantar (1982), além da clássica Sonho Meu (1978). 
A compositora, cantora, sambista e enfermeira também foi imortalizada com o samba. Canto de Rainha foi uma homenagem preparada por Arlindo Cruz e Sombrinha; Nei Lopes e Cláudio Jorge fizeram a música Senhora da Canção, e, Martinho da Vila, não satisfeito, compôs Lara e Ivone Lara. 
 

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